Inovação é encontro

Inovação é encontro

A certificação em Inovação da The Hebrew University of Jerusalem, oferecida em parceria com a StartSe, tem sido extremamente instigante. Desde os primeiros encontros, tanto os professores quanto as intervenções dos demais participantes têm revelado uma grande variedade de abordagens para a inovação. Estamos sendo expostos a diversas impressões e ênfases, oriundas de diferentes perspectivas do ecossistema israelense de inovação. Muitas dessas percepções buscam nos auxiliar a compreender o que torna Israel um celeiro tão próspero de inovação e como podemos replicar esses aspectos em nossa realidade. À medida que ouço os relatos, um insight me ocorre.


O deslocamento faz parte da história do povo israelense; podemos observar isso ao analisar as duas grandes diásporas e outros eventos que resultaram em dispersão. Muitos dos judeus que admiramos pela genialidade nasceram em terras distantes de Israel. Não pretendo romantizar as diásporas ou outros momentos de deslocamento forçado; no entanto, seus efeitos podem ser observados de várias maneiras. Esses movimentos dispersaram os judeus por diferentes partes do mundo, colocando-os em contato com diversas culturas, modos de pensamento, formas de produção de conhecimento e trabalho. Por outro lado, a forte tradição e a tendência a se deslocarem para lugares que permitiam, em certa medida, a preservação de suas tradições e formas de vida também devem ser destacadas.

Assim, encontramos aqui um fator fundamental para a inovação: a manutenção de algo ancestral aliada ao contato com o novo.

O encontro entre o conhecido e o desconhecido é essencial. O que o povo judeu carregava consigo transformava o novo lugar, enquanto o novo lugar proporcionava novos desafios e possibilidades para os saberes já existentes. Aqui reside algo indispensável para a inovação: a exposição a outras formas de viver, fazer negócios, trabalhar, liderar, resolver problemas, ensinar, entre outros.

Recordo-me de três experiências que me confrontaram com o inédito e trouxeram nova luz sobre aquilo que já me acompanhava. A primeira foi o tempo que vivi em Londres. Morava em um bairro no sudeste da cidade e observava uma diversidade de situações cotidianas que me faziam refletir. Não apenas como alguém que contempla algo que precisa ser copiado, mas como alguém que observa com curiosidade algo que provavelmente possui camadas adicionais e requer uma análise cuidadosa. A principal lição que levei dessa experiência foi a importância da diversidade para o senso de pertencimento e crescimento pessoal e coletivo.

Multidão reunida no St. James Park em Londres.


Outro momento marcante foi minha viagem pelo leste Europeu, especialmente uma passagem por Budapeste. Durante um verão, a cidade estava repleta de turistas. Num certo dia, ao pensar em visitar um museu, acabei me perdendo e encontrando outro, o Museum of Ethnography, que estava fechado. Contudo, isso me permitiu descobrir um lindo jardim no topo do museu, proporcionando uma das melhores vistas da cidade para o pôr do sol. Essa experiência reforçou a importância de estar aberto a mudanças de rota e a abraçar oportunidades inesperadas.

Uma das vistas mais lindas da cidade de Budapeste


O terceiro momento significativo ocorreu em minhas diversas visitas à bacia amazônica. Navegar por rios grandes e pequenos, conhecer comunidades ribeirinhas e observar a relação com o rio, que sobe e baixa no decorrer do ano; a vida com o rio na cheia é uma e com ele na baixa é outra. Quem vive do, pelo e até no Rio precisa aceitar a soberania da natureza e adaptar-se. Muitas invenções são para controlar a natureza, detê-la de alguma forma (não vou nem falar sobre destruí-la) os ribeirinhos, caboclos e indígenas estão sempre se reinventando e assim adaptando-se à natureza.

Cada uma dessas experiências enriqueceu minha perspectiva, acrescentando novas lentes e conexões ao meu repertório de vida, valores e conhecimentos.

Posso olhar para o trabalho, para o futuro, para a clínica, para as organizações e para a vida com múltiplas perspectivas construídas através desses e de outros encontros.

Viaje, visite, mantenha a curiosidade, movimente-se e quando voltar permita-se imaginar futuros melhores.

Inovação nasce de um constante ir e vir; encontrar e reencontrar.

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