Inovação no Agro: quem é líder não pode relaxar!

Inovação no Agro: quem é líder não pode relaxar!

É legal como a vida caminha em ondas, concentrando assuntos que lidamos em nossas profissões. Em uma fase recente, e durante 10 anos, estive muito envolvido com a estruturação estratégica de uma empresa de nutrição animal. E, nesses últimos meses, tenho tido a chance de me envolver continuamente com oportunidades de inovação no Agro.

Na produção de peixes estou participando na gestão e aprendendo muito em dois projetos.

O primeiro é em uma produção de tilápias que utiliza um inovador processo produtivo com tanques de alta capacidade, produtividade e tecnologia embarcada, que permite o monitoramento contínuo de produção, a obtenção de uniformidade e custos operacionais reduzidos, que atraiu investimento internacional - recurso tão importante para os nossos negócios na Aquicultura brasileira.

O segundo projeto é na elaboração de um Business Plan para atração de investidores internacionais para produção de pirarucu e tilápia, com um conceito realmente inovador de economia circular e de sustentabilidade, um negócio realmente inserido dentro do ecossistema que envolve uma atuação com responsabilidade social e ambiental de impacto.

No começo do ano, fui convidado a traduzir um livro escrito pelo Aidan Connelly, um profissional diferente que conheci há alguns anos e foi um dos professores no meu MBA na UCD/Irlanda, com 30 anos de experiência no Agro, envolvimento direto em startups e gestão de negócios, trabalhos em projetos em mais de 100 países e morou em seis deles.

Esse livro é uma coletânea estruturada de vários artigos e apresentações que realizou, que compartilho e analiso algumas de suas reflexões (vale a pena ler!).

  • O Agro não é o setor mais pujante da economia brasileira?

Sim! E não teria alcançado este estágio se não fosse um segmento realmente inovador, otimizando os recursos e absorvendo rapidamente novas tecnologias, para aumentar sua produtividade e produção. Nessa indústria o negócio é de altos volumes: uma tonelada é uma pequeníssima grama dentro de um mundo complexo e enorme de produção. O resultado são commodities, margens apertadas em cada elo, preços ditados pela demanda e oferta no mercado internacional, e todos buscando uma diferenciação e valor agregado.

O sucesso do Agro brasileiro merece ser reconhecido e comemorado. Os produtores são verdadeiros equilibristas enfrentado, além da insegurança dos preços, as oscilações das condições climáticas, as condições dos recursos disponíveis, a seleção da genética da produção seja vegetal e/ou animal, e se protegendo das doenças e parasitas. Manejo, nutrição, investimentos em infraestrutura e biossegurança, além da gestão do negócio em si são áreas com impacto direto em resultados.

Mas - e sempre existe um mas - ter alcançado o estágio que estamos hoje, no Brasil, sendo líderes e um dos principais fornecedores globais de alimentos em suas diferentes fases para o mundo, é um mérito e não um berço esplêndido: usamos muita tecnologia, empregamos as nossas vantagens competitivas, os nossos recursos naturais e de biodiversidade, e ainda protegendo o meio ambiente. Mas não podemos parar por aí.

Precisamos continuar aumentando a produtividade. E isso, utilizando cada vez de forma mais eficiente os recursos naturais, cuidando com muito carinho dos nossos solos (sem eles não tem produção!), do ambiente dentro ou no entorno das produções, sempre atuando para melhorar as vidas das pessoas e comunidades sob sua influência. Sem sustentabilidade o Agro não funciona.

  • Então a nossa inovação no Agro chegou ao seu máximo?

Além dos desafios e resultados e que já estamos acostumados na luta diária indicados acima, existem novas tendências que irão influenciar o jogo da produção agrícola e pecuária global, que Aidan consolidou de forma muito interessante:

Prosumidor – uma palavra que não existe (ainda...), mas que descreve o consumidor de alimentos cada vez mais proativo na seleção do que comer: quer saber quais são os ingredientes e se esses fornecedores têm compromissos e resultados com sustentabilidade;

Integração de produção – manter a disponibilidade de volume e qualidade de alimento atendendo a demanda com cada vez menos produtores;

Biossegurança – lidar sempre com o fator de risco que envolve uma profunda conversa entre biodiversidade, produtividade e utilização de recursos;

Comercialização de produtos – estar inserido em um mundo instável em relação à mudanças de relações entre países e redistribuição de desafios e oportunidades;

Mudanças climáticas - influenciando diretamente as condições de produção, que algumas vezes ajuda, mas muitas vezes atrapalha muito;

Novas Proteínas - oferta e competição de uma nova forma de alimento produzido com proteína alternativa, seja origem vegetal ou desenvolvida a partir de células;

Produção Indoor – aproximar a demanda da oferta de produtos, enfrentando diferentes custos comparativos, mas que também utilizam insumos de forma muito produtiva;

Modelos de comercialização – diferentes formas de comercialização de alimentos nas cadeias próximas a consumidores, sempre com novas demandas e exigências.

Além destas macro tendências, Aidan destaca em seu livro, 10 tecnologias disruptivas, que deverão apresentar diferentes soluções sendo aplicadas em conjunto e integradas aos negócios. Estas soluções são diferentes para a agricultura, seja de grãos ou hortifruti, e para a produção de proteína nos seus diferentes segmentos como gado de corte, leite, frango de corte, postura, suínos, peixes e camarões.

E mesmo para Equinos, que envolve esportes e lazer, também tem muita evolução (eu adorei esta parte do livro!). As dez tecnologias estudadas em detalhe são:

1.   Impressão 3D - por exemplo, permitindo a criação de peças sobressalentes para manutenção ou específicas para uma solução local de impacto produtivo;

2.   Robôs - integrados com outros equipamentos, ocupando o espaço do trabalho manual intensivo com alta produtividade;

3.   Drones - atuando desde a observação digital até a atuação direta na produção com alta flexibilidade para obter resultados;

4.   Análise de Dados - os dados, coletados de diferentes formas, já existem e serão multiplicados com sensores que alimentam sistemas para sua análise e que irão gerar informações para decisões operacionais e gerenciais;

5.   Inteligência Artificial - aplicada na análise dos processos de produção e respectivos dados, selecionando e sugerindo caminhos mais produtivos;

6.   Realidade Aumentada - auxiliando operadores e gestores a desempenharem suas funções com informações integradas e visuais;

7.   Realidade Virtual - que, entre várias aplicações, auxilia no aprendizado mais acelerado das pessoas envolvidas na produção;

8.   Blockchain - integrando informações certificadas em diferentes elos da cadeia de valor, que, integrado aos sistemas (ERPs) e processos, permite rápida troca de informações desde a sementa até a mesa do consumidor;

9.   IoT (internet das coisas) - conectando diferentes tecnologias distribuídas no campo e transmitindo e recebendo informações em tempo real;

10. Nuvem - uma tecnologia já difundida e que deve chegar de forma intensa ao campo, permitindo a coleta dos dados para serem processados, e até retornar para dispositivos colocados nos animais auxiliando o manejo.

  • E como está o Brasil nesta evolução?

Nosso país é grande e diverso, tem desafios específicos e significativos, especialmente quando estamos falando do Agronegócio por sua diversidade e distribuição em todas as regiões. Mas se pensarmos nessas tecnologias e ainda acrescentarmos a biotecnologia, a nutrigenômica, o CRISPR-Cas9, a proteína de inseto, entre outras inovações, o Brasil ainda tem muito a evoluir, e precisa evoluir rapidamente, mais do que estamos evoluindo hoje.

Para que esta evolução aconteça, temos de refletir sobre como queremos acelerar a implantação mais ampla de todas essas tecnologias. Perguntei como estamos nesta área para um gestor de startups no agro, e ele me disse que temos uma cultura ainda individualizada e pouco colaborativa, que fazemos pouca inovação aberta. Por isso, temos comparativamente pouco investimentos em tecnologia aplicada, além de lidarmos com as barreiras tradicionais do nosso país.

Para ajudar a atiçar o nosso senso de urgência, o livro Aidan traz exemplos de como a inovação está acontecendo em vários países, como África, China, Índia, Israel, Nova Zelândia, Holanda, Irlanda, Reino Unido e Singapura mostrando a integração de universidades, empresas e governos voltados para este desenvolvimento, mostrando os respectivos resultados.

Lendo a traduzindo este livro fiquei motivado, pois apesar de todo o sucesso do nosso Agro, temos ainda muito espaço para aprender e evoluir. Vamos que vamos, vai Agro-Brasil!

 

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Neste artigo você comprova como o conceito HPB - High Performance Business sem aplica a todos os segmentos, e se mantém atual depois de tantos ciclos de desenvolvimento. A 15 anos atrás você também nos trouxe o livro As 3 leis do desempenho de Zaffron e Logan. E agora inova até com a criação do termo "prosumidor" que reflete a busca por produtos mais sustentáveis e adequados a cada público e necessidades. E assim contribuem na luta pela Segurança Alimentar e Nutricional que tanto se busca. Obrigado pelas reflexões.

Parabéns pelo excelente texto André! Abs

Jose Claudio Perrote

Consultor Zyxel para Venda de Produtos de Informática

1 a

Excelente, André! Parabéns. Texto incrível. Uma aula de fato.

Frederico Marçon Curi

Gerente regional de vendas na Guabi Nutrição e Saúde Animal - Médico Veterinário

1 a

André, ótimo artigo, parabéns Corrigindo uma parte de artigo, o correto é dizer que a margem é apertadiiiiissssiiiiiimmmaaaa kkk Show

Eu, há muito tempo, me considero otimista com relação ao Agro brasileiro, um otimista fundamentado, tenho razões para assim ser. Assisti muitos avanços, especialmente na Produção Animal, afinal sou Zootecnista. Você sabe, eu também conheço o Aidan e ele foi muito feliz ao escolher você para traduzir o livro. Seu texto me dá mais argumentos para continuar otimista com relação ao nosso Agro, apesar das dificuldades que o país passa há algumas décadas e não vemos tempo bom tão logo. Talvez tenha faltado da falar de uma coisa impalpável: a coragem e determinação da mulher e do homem do Agro Brasileiro. Parabéns, mais um texto excelente.

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