Inovação não é só Disrupção
Inovar não significa necessariamente criar ou implementar ideias ou tecnologias absolutamente disruptivas. Melhorar (alterar) um processo que traga melhorias e que acrescente valor, mesmo que para um grupo pequeno de pessoas, também pode ser considerado inovação. E são essas pequenas inovações que somadas, podem trazer um valor expressivo para a empresa como um todo.
Mas não pretendo falar dos tipos de inovação. Aqui, irei falar sobre uma coisa que antecede a inovação: o ambiente onde ela acontece. Ou deixa de acontecer. E principalmente, eliminar alguns “mitos”, pois a cultura de inovação também tem os seus desafios!!!
CULTURA DA ORGANIZAÇÃO
O primeiro desafio tem a ver com a cultura da organização. Entender a cultura de inovação exige conhecer a cultura da organização. A cultura organizacional não só tem a ver sobre como as pessoas fazem as coisas, mas principalmente a razão pela qual as pessoas fazem as coisas.
As pessoas, quando perguntadas se gostariam de trabalhar em empresas inovadoras, na esmagadora maioria respondem “SIM”. Trabalhar num ambiente tolerante ao erro, com uma cultura sem muita hierarquia, prototipando soluções e, ainda por cima, fazendo algumas pausas para o snooker ou para o jogo no telemóvel, é o máximo, não?
Mas quando a pergunta passa para: “Você dispensaria um ambiente totalmente amistoso e familiar?” Nesse caso, a resposta tende a ser… “NÃO”. E aqui reside um ponto importante: ambientes inovadores necessitam de ser ambientes seguros para as críticas. Um ambiente seguro requer que as relações sejam ABSOLUTAMENTE francas. As críticas (desde que não sejam direcionadas ao indivíduo, e sim à sua ideia) são absolutamente importantes e devem fazer parte do processo de aprendizagem.
Normalmente, as pessoas gostam de criticar, mas não gostam que as suas ideias sejam criticadas. Isso é natural no ser humano, mas é fundamental que o “ambiente” não encubra os posicionamentos contrários. Num ambiente “saudável” e de inovação, criticar não significa ser “do contra”. Significa que precisamos de estar munidos de factos e dados concretos para fundamentar as ideias, sendo muito mais fácil reagir ou exigir aos críticos. Empresas reconhecidamente inovadoras criam um ambiente genuíno de abertura e sinceridade. Não esperam os famosos ciclos de feedback para estimular o que está a ser feito da maneira esperada, nem para corrigir o que precisa de ser mudado.
Empresas inovadoras também são referências no trabalho em equipa. É absolutamente natural pedir e oferecer (de forma genuína) ajuda para executar as atividades que vão fazer com que a empresa (e não um indivíduo específico) atinja os seus objetivos. É também natural saber ouvir e ponderar opiniões contrárias, mas responsabilizar-se individualmente pelas suas ações. Um ambiente inovador pressupõe autonomia, mas exige liberdade com responsabilidade, sem perder o senso de responsabilidade coletivo.
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A IMPORTÂNCIA DO ERRO
Talvez um dos aspetos mais divulgados no mundo corporativo, quando falamos de cultura de inovação, é o que trata da importância do erro. Daí surgirem as famosas frases feitas: “errar rápido e acertar rápido”, “errar bastante e acertar gigante”, “falhe rápido e aprenda mais rápido ainda” e por aí adiante. Não existe nenhum problema com as frases em si. O problema é quando as empresas permitem que elas se tornem em justificações para qualquer falha que aconteça, inclusive nas atividades rotineiras.
As empresas que implementaram com sucesso uma cultura de inovação têm uma característica em comum: em nenhuma delas a tolerância ao erro, significa tolerância com a incompetência (que simplesmente significa falta de habilidade para desempenhar a atividade para a qual alguém foi contratado).
Reed Hastings (Co-fundador e Presidente da Netflix), fala regularmente sobre os passos para uma cultura de liberdade com responsabilidade e deixa claro que o primeiro desses passos é desenvolver a densidade de talento, criando uma força de trabalho de alto desempenho, onde o desempenho razoável não é suficiente.
Uma coisa é ser tolerante ao erro, outra coisa é ser complacente com a incompetência. Um ambiente de experimentação exige muita disciplina e comprometimento com as iniciativas. Além disso, os erros num ambiente de inovação devem gerar aprendizagem. É fundamental corrigir rápido e aprender com as falhas. Por mais paradoxal que pareça, a disciplina é a principal aliada da inovação.
AS BARREIRAS À INOVAÇÃO
Adiamentos, negligência, gestão inadequada e outros fatores constituem barreiras significativas à inovação. E em alguns casos, esses fatores fazem parte da cultura organizacional (imaginem se a inovação acontecesse num ambiente desses?).
Para trabalhar num ambiente de inovação onde somos encorajados a apresentar as nossas ideias, é imprescindível que se recolham dados, testem ideias, construam análises e argumentos sobre como as ideias irão gerar valor para o negócio. Isso é fundamental, apesar de vermos nas empresas muito poucas pessoas que estejam dispostas a isso.
Por último, e não menos importante, precisamos de falar sobre o papel dos líderes na construção de um ambiente propício à inovação. Alguns acham que a “empresa é muito grande/pequena”, que “não tem uma cultura de inovação”, ou que “os resultados não dependem apenas de si” como se eles (líderes) fossem um agente absolutamente externo a essa equação. Pelo contrário, a maioria do sucesso de qualquer processo de inovação depende deles.
Atuar numa cultura de inovação é muito mais do que trabalhar num lugar onde podemos apresentar boas ideias e fazer uma pausa para o jogo no telemóvel. Como vimos, um ambiente inovador não se constrói da noite para o dia, mas tudo precisa de um começo. Afinal, grandes correntes são feitas de pequenos elos.