Inteigência Artificial, use com inteligência.

A surpreendente velocidade de adoção da ferramenta de inteligência artificial generativa Chat GPT fez com que ela se tornasse assunto onipresente na sociedade. Seja pelo espanto com a forma natural com que ela responde perguntas, muito próxima da forma que um humano responderia, ou pela preocupação e alarme com o impacto dessa tecnologia na sociedade.

Algumas dessas preocupações são bem fundamentadas, como as relacionadas ao mercado de trabalho, e outras são mais fantasiosas, inspiradas por ficções que temem a criação de entidades maléficas como a Skynet da franquia de filmes Exterminador do Futuro, ou o assistente virtual HAL do clássico 2001 uma odisséia no espaço.

Embora toda nova tecnologia traga intrinsecamente benefícios e riscos para a sociedade, ambos com impactos a curto e longo prazo, nesse texto irei me concentrar nos riscos a longo prazo. Muitas pessoas parecem mais alarmadas que encantadas pela rápida adoção sem questionamento suficiente sobre as implicações éticas, jurídicas e comportamentais dessas tecnologias.

O próprio Sam Altman, criador do Chat GPT tem defendido em suas redes sociais a importância e urgência de criar uma regulação sobre o uso dessas tecnologias para evitar que elas sejam usadas de formas abusivas ou indevidas.

Quando Henry Ford criou a linha de produção semi automatizada em 1914 e conseguiu popularizar o automóvel como meio de transporte, ele pode até ter antecipado o aumento do risco de atropelamentos, mas dificilmente antecipou que o uso de combustível fóssil em larga escala iria provocar mudanças climáticas no planeta.

Marie Curie descobriu as propriedades da radioatividade que levaram à invenção do aparelho de Raios-X, mas ela mesmo acabou vitimada pelos efeitos inesperados da exposição prolongada ao rádio e polônio que provocaram mutação nas células e desenvolvimento de Câncer.

Com a evolução tecnológica acontecendo de forma cada vez mais rápida, os benefícios e riscos inerentes a elas acabam também se manifestando em igual velocidade e por isso é preciso muito cuidado ao adotá-las.

Especialmente nos dias de hoje em que artefatos tecnológicos passaram a fazer parte do nosso cotidiano e têm relação direta com nossas capacidades cognitivas.

O uso da calculadora fez com que muitas pessoas tivessem a capacidade de realizar cálculos simples de cabeça ou mesmo usando lápis e papel, seriamente comprometida.

Os nativos digitais não conhecem a necessidade de memorizar números de telefone ou encontrar o caminho para algum endereço sem o auxílio de smartphones. Essa área de seus cérebros jamais foi exigida e desenvolvida.

Vários estudos revelaram que o uso prolongado de smartphones e outras telas e o excesso de informação provocam redução expressiva na capacidade de concentração, problemas de memória e dificuldades de sono.

Michel Desmurget, neurocientista e diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, em seu livro A Fábrica de Cretinos Digitais, apresenta um estudo de como os dispositivos digitais estão afetando seriamente  o desenvolvimento neural de crianças e jovens. Pela primeira vez na história recente, está sendo detectado que as novas gerações estão apresentando Q.I inferior ao da geração de seus pais.

Hoje, já temos notícia de alunos redigindo trabalhos escolares e pessoas publicando livros totalmente escritos e ilustrados por Inteligência Artificial generativa. Vamos imaginar que a popularização de ferramentas como o Chat GPT, MidJourney e Stable Diffusion continue nesse ritmo de adoção acelerada. É possível deduzir as consequências para as capacidades cognitivas humanas das próximas gerações.

A preocupação com a redução drástica dos postos de trabalho ou as questões envolvendo direitos autorais suscitadas pela rápida adoção da Inteligência Artificial é legítima. Mas eu acredito que o grande e mais grave problema que ela pode trazer é o risco para a própria evolução intelectual e criativa da espécie humana.

Como mencionei nos primeiros parágrafos, me concentrei propositalmente em analisar o risco a longo prazo da adoção indiscriminada de uma tecnologia tão poderosa. Os benefícios que ela pode trazer para a humanidade são igualmente enormes. Na minha opinião, ela tem o potencial para causar uma mudança tão impactante na sociedade como a que vivemos em um período como a Revolução Industrial.

Mas assim como a evolução das máquinas e a industrialização trouxeram grande progresso, também causaram estragos ambientais e sociais enormes para os quais até hoje estamos buscando soluções.

O segredo para utilizarmos esse tipo de tecnologia está na sabedoria de usá-la com equilíbrio. Um desafio enorme para esse momento histórico em que o imediatismo, a polarização sobre qualquer assunto e as fake news viraram padrão na sociedade.

Para encerrar, nada melhor que deixar o Chat GPT dar sua própria visão sobre o tema. Segue a resposta dada para por ele sobre o questionamento que motivou minha reflexão:

Vc não acha que se as pessoas passarem a confiar mais na Inteligência Artificial do que no próprio raciocínio para executar tarefas intelectuais isso não irá comprometer a capacidade cognitiva dessas pessoas?

 Chat GPT: Sim, é possível que se as pessoas passarem a confiar excessivamente na inteligência artificial e em outras tecnologias para realizar tarefas intelectuais, isso possa comprometer sua capacidade cognitiva a longo prazo. Se as pessoas estão acostumadas a ter respostas prontas e rápidas fornecidas por sistemas de inteligência artificial, elas podem perder a prática de analisar e resolver problemas de forma independente e criativa.

Além disso, o uso constante de tecnologias que realizam tarefas para nós pode levar à falta de prática e habilidade para realizar essas tarefas manualmente ou sem ajuda. Por exemplo, se uma pessoa sempre confiar na calculadora para fazer cálculos, ela pode perder a habilidade de fazer cálculos mentalmente ou mesmo com papel e lápis.

No entanto, é importante ressaltar que a tecnologia também pode ser uma ferramenta útil para melhorar a capacidade cognitiva e liberar tempo e energia mental para que as pessoas se concentrem em tarefas mais complexas ou criativas. O importante é encontrar um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e a prática manual para manter e aprimorar as habilidades cognitivas.

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