Inteligência artificial e contabilidade: um olhar para o futuro (e para o presente!)
Recentemente, participei do Kreston World & EMEA Conference, realizado em Berlim entre os dias 11 e 15 de novembro pela Kreston Global para todos os escritórios e parceiros da companhia que conta com uma rede de mais de 160 firmas contábeis independentes e que está presente em 114 países, e saí de lá com uma perspectiva renovada sobre as tendências disruptivas que, em maior ou menor escala, já estão transformando os paradigmas da gestão contábil, fiscal e dos processos de auditoria.
Além de reunir líderes globais e oferecer espaços instigantes para a troca de ideias com diferentes empresas e especialistas de todo o mundo, o evento me trouxe uma certeza: a transformação digital não apenas veio para ficar, ela será cada vez mais centrada nos esforços de empresas para acompanhar o passo e explorar as potencialidades da inteligência artificial no universo contábil.
Sim, se os últimos anos nos ensinaram a importância da digitalização – dentro de um movimento que, no Brasil, ganhou escala ainda no contexto de pandemia – o que vimos em Berlim reforça que a IA será o motor que impulsionará os escritórios de contabilidade para o próximo nível em termos de competitividade, produtividade e assertividade em análises e gestão de processos.
O fato é que diferentes indicadores de mercado já atestam essa realidade: em projeção recente, a consultoria Mordor Intelligence indica que, já nos próximos 5 anos, os investimentos em inteligência artificial devem crescer na casa de 41% (em uma média anual) até 2029, período em que os investimentos em IA podem superar US$ 26,6 bilhões só na indústria de contabilidade.
Em outras palavras: a inteligência artificial é o centro da transformação contábil. Esse foi um ponto unânime do evento e, concomitantemente, fica o alerta de que, ao não se prepararem para a mudança, as empresas podem perder o passo dessa revolução, enfraquecendo seus diferenciais competitivos.
O papel da tecnologia no futuro da contabilidade (e dos empregos no setor)
Uma das discussões mais interessantes foi sobre o impacto da IA nos empregos. Embora seja comum ouvir receios sobre a substituição do trabalho humano, diferentes estudos atestam para uma realidade mais encorajadora.
Via de regra; a tecnologia mais transforma do que elimina postos de trabalho – e, em geral, novos horizontes são abertos para os profissionais atentos às transformações do mercado. Ou seja: a chave está em adaptar-se, investir em habilidades digitais e abraçar o potencial da inovação tecnológica.
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No entanto, apesar da tendência latente de digitalização baseada em IA, a verdade é que ainda há muito a ser feito em termos culturais e isso vale para o Brasil. O fato concreto, hoje, é que mesmo com um crescimento nos investimentos diretos em tecnologia, nem todos os escritórios estão acompanhando essa evolução e, durante os debates do Kreston World & EMEA Conference ficou claro que uma parcela significativa de empresas ainda está atrasada em seu processo de digitalização.
E, para esses escritórios, a mensagem: o momento de agir é agora. A transformação digital não é mais opcional. Os próximos anos serão cruciais para quem deseja permanecer competitivo em um mercado que valoriza eficiência e capacidade analítica avançada – e isso vale tanto para empresas, quanto para profissionais.
Oportunidades no presente e no futuro
Seguindo essa linha, diferentes especialistas ressaltaram a necessidade de alinhar a cultura organizacional às novas tecnologias. Isso envolve tanto educação interna quanto a modernização de processos. Ferramentas de IA, por exemplo, já estão sendo utilizadas para otimizar auditorias, prever cenários fiscais e reduzir custos operacionais – mas muitas empresas ainda centram suas rotinas no bom e velho Excel.
No Brasil, é positivo observar que 41% das empresas já implementaram ativamente a IA em seus negócios, segundo pesquisa da IBM. Esse indicador revela um avanço, mas ao mesmo tempo, que há muito espaço para crescimento em termos de digitalização.
Na conferência, também foi fascinante observar como a transformação digital está conectada à globalização dos negócios. Ao compartilhar experiências com outros profissionais, ficou evidente que escritórios bem-sucedidos têm investido na construção de redes de colaboração global, ao mesmo tempo em que fortalecem suas competências tecnológicas.
Com tudo isso, é possível afirmar que a inteligência artificial abre oportunidade, ainda que o processo de adaptação às novas soluções de IA demande esforços das lideranças dos escritórios no plano cultural e de formação dos colaboradores.
Nessa jornada, investimentos genéricos não bastam. Como frisado no evento, é preciso um olhar estratégico e humano para que talentos e tecnologias disruptivas trabalhem em conjunto em prol de uma mudança no presente que garanta o futuro das organizações contábeis.