A inteligência artificial vai mudar o seu emprego mesmo que você não queira

A inteligência artificial vai mudar o seu emprego mesmo que você não queira

A chegada de novas tecnologias provoca sensações diferentes nas pessoas. Há quem as apoie incondicionalmente; há quem tenha um pé atrás com as mudanças prometidas; há quem as considere inevitáveis e trabalhe a favor delas. Um grupo de líderes com este terceiro perfil se reuniu na última quarta-feira, no evento LIDE Next, em São Paulo, para dar um recado aos mais céticos: a inteligência artificial é um movimento sem volta - prepare-se para ela.

Mais produtividade, modelos de negócios inovadores e a criação de novas formas de trabalho são alguns dos conceitos da tecnologia que pretende assumir tarefas feitas por humanos. As transformações deverão alterar não somente as empresas, mas também os comportamentos das pessoas. Segundo Rico Malvar, cientista-chefe do Laboratório de Pesquisa da Microsoft, “vai ser difícil viver sem ela (inteligência artificial) no futuro, assim como não vivemos mais sem eletricidade e sem o celular. E vai ser logo”.

Para o especialista da Microsoft, o principal objetivo da inteligência artificial é ampliar as capacidades humanas, e não substituí-las. A tecnologia já é capaz de otimizar funções maçantes no dia a dia (como fazer traduções, transcrições ou análises) e apresenta uma nova perspectiva para o trabalho. Segundo Malvar, os empregos vão evoluir para permitir rotinas mais produtivas. Haverá, na visão dele, níveis de inteligência de máquina incorporados em todos os cargos em uma organização.

As expectativas da indústria apontam para um mercado de trabalho mais assertivo no futuro. Segundo Paula Bellizia, CEO da Microsoft Brasil, até 2020, 85% das empresas estarão usando ferramentas de inteligência artificial para melhorar seus processos. Em 2030, a previsão é que a produtividade no ambiente corporativo melhore 40%. “Está no começo de uma grande transformação da força de trabalho”, diz ela. Neste cenário desafiador, como ficam os empregos atuais? Vão desaparecer? Alguns sim, segundo os especialistas.

Na visão de Paula, o papel das empresas de tecnologia é determinar o rumo para as próximas gerações, e isso inclui prever a capacidade de trabalho para todos. A executiva lembra que em outros momentos históricos, como na Primeira Revolução Industrial, no século 18, também houve rupturas do modelo vigente, e novas profissões surgiram para acompanhar demandas antes impensáveis. Estamos diante de mais um destes momentos, de acordo com ela, e embora algumas funções deixarão de existir, outras ganham espaço, tais como cientista de dados, biohackers e “pessoas que cuidam de pessoas”, um cargo que visa garantir privacidade em um mundo que gera cada vez mais dados. Atualmente, a internet movimenta cerca de 2,5 quintilhões de bytes por dia. E a tendência é só crescer, à medida que mais dispositivos se conectam entre si.

O presidente da Vivo, Eduardo Navarro, não só concorda com o impacto inevitável da inteligência artificial no mercado de trabalho como imagina transformações radicais: “escritórios de advocacia, consultórios odontológicos, jornalistas. Quem achar que está imune vai perder o emprego”, arrisca. O raciocínio acompanha uma lógica empresarial ancorada pelo suporte da tecnologia: com mais dados à disposição, as empresas visualizam melhor seus gargalos e oportunidades e conseguem tomar decisões mais estratégicas, menos baseadas em palpites, evitando desperdícios.

Como se preparar

O Brasil sofre um déficit de mão-de obra especializada em tecnologia. Segundo estudo da consultoria IDC encomendado pela Cisco, até 2019 faltarão 419 mil profissionais para atender às necessidades do setor. Este mercado, que já é deficiente, deve ficar ainda mais carente de especialização com a chegada da inteligência artificial. A CEO da Microsoft Brasil reconhece o problema e aponta soluções. Para Paula Bellizia, “um cientista de dados não sai pronto da faculdade” e o governo não tem condições de arcar com esta responsabilidade sozinho. A executiva sugere que a iniciativa privada também se comprometa com a formação de profissionais com viés tecnológico.

Para Eduardo Navarro, existe o risco de a sociedade não acompanhar a rapidez da transformação digital imposta pelo mercado de trabalho. Ele prevê que, em menos de 10 anos, metade das ocupações atuais deixará de existir (sem dizer quais). “Treinamento é fundamental”, crava. Para acelerar este processo de formação, Rico Malvar, cientista da Microsoft, defende que todas as pessoas busquem compreender conceitos básicos de machine learning (aprendizado máquina), uma das vertentes da inteligência artificial, responsável por analisar dados e automatizar funções. Não à toa, escolas brasileiras já inseriram disciplinas tecnológicas na grade curricular a fim de estimular o raciocínio lógico de programação nos alunos.

Privacidade, a nova fronteira

Em um mundo ultraconectado e influenciado pela avalanche de dados, a privacidade é uma preocupação central das empresas de tecnologia. Em maio deste ano, a União Europeia aprovou o GDPR - (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, na tradução livre) com regras para o uso de informações pessoais pelas empresas. Três meses depois, foi a vez do Brasil. A lei de proteção de dados aprovada por aqui é uma versão da legislação europeia e assegura o sigilo de dados sensíveis (nome, endereço e CPF) aos clientes que não autorizarem o uso das informações pelas empresas. As companhias têm até 2020 para se adaptar às exigências, quando a lei entrará em vigor.

"A tecnologia sempre vai estar dois ou três passos na frente”, diz a CEO da Microsoft Brasil, alertando para a importância do processo de regulação do mercado. Entre as novas responsabilidades das empresas estão o controle das informações; a confiabilidade da guarda dos dados; o compromisso da exclusão de dados após o fim da relação de consumo; e a comunicação aos usuários em caso de vazamentos. Na opinião do presidente da Vivo, a "privacidade será o grande assunto da próxima década”.

Reinaldo Adri

Jornalista - Consultor de Reputação

6 m

Encontrei este post salvo nos meus preferidos. Acho que chegamos no futuro ;)

Cristina L.

Jornalista| Assessora de Imprensa Sênior | Relações Públicas | MKT | SEO | Branding | Storytelling

6 a

Sua matéria é excelente! Tenho me dedicado a ler matérias sobre tecnologia e em especial, as transformações por ela causadas no campo da saúde e setor hospitalar. Seu texto traz referências atuais e as mudanças que devem ocorrer em pouco tempo. Obrigada!

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