Interdependência e Mudança

Quando criança ouvi muito que a única coisa certa na vida era a morte e que mudar era inevitável. Ao longo da vida percebo que a mudança está presente em tudo, o tempo todo e de várias formas, e ouso dizer que isso é em si uma grande oportunidade. O mundo tornou-se mais complexo e instável e ter agilidade para lidar com esta nova realidade, em que, como nos aponta Ricardo Guimarães, a interdependência se torna cada vez mais clara e importante, faz com que a mudança seja não apenas oportuna, mas desejada.

Ouvindo a Monja Coen explicar a visão do budismo sobre a transitoriedade da vida fica um pouco mais claro compreender que desenvolver maior consciência requer aceitar a mudança. Seja a mudança de atitude, principalmente diante das dificuldades, seja a mudança de condições econômicas e políticas, ou de mercado, ou mesmo de padrões e tendências como vemos com cada vez mais velocidade no mundo, faz com que a capacidade para administrar a mudança em contexto de crescente interdependência, aprendendo com os erros, construindo a partir dos avanços e mantendo a criatividade, torne-se uma habilidade muito desejada.

Segundo o Fórum Econômico Mundial (WEF), estamos vivendo a quarta revolução industrial, em que novas tecnologias estão aproximando os mundos físico, digital e biológico de tal forma que está mudando a maneira como produzimos, trabalhamos e interagimos com as pessoas. Estamos no meio dessa grande transformação. Aliás, somos agentes dessa mudança!

No encontro regional do WEF que ocorreu de 16 a 17 de junho, em Medellin, na Colômbia, foi discutido como a América Latina e, consequentemente seus líderes, poderiam abraçar esta oportunidade e contribuir para o seu desdobramento na região. Questões como educação, empreendedorismo, combate à corrupção, comércio foram discutidas à luz desse cenário global que requer inovação e visa prosperidade e crescimento com inclusão.

Dias depois, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) realizou em Cancún, no México, uma reunião ministerial sobre a Economia Digital: Inovação, Crescimento e Prosperidade Social. Com a escalada da conectividade global e o avanço da internet das coisas, é preciso ter políticas públicas que possibilitem a adoção de novas tecnologias, com abertura e transparência, mas também segurança e privacidade. Confiança e colaboração são essenciais para que os investimentos de fato gerem inclusão e prosperidade.

Muitos dos líderes demonstraram claramente a atenção de seus países com o cumprimento das Metas do Desenvolvimento Sustentável, que passa pela geração de um ambiente propício à inovação, com regulação adequada, que promova a colaboração, o crescimento e reforce a capacidade de adaptação a mudanças.

Os temas não são novos, muito pelo contrário. Há muito que se sabe que educação, colaboração, inovação, desenvolvimento de talentos e de novas tecnologias precisam ser endereçados de forma séria e com visão de longo prazo. O desafio é manter-se atualizado em meio a tantos novos conhecimentos que surgem a cada instante e conseguir avançar as agendas tanto local quanto global de maneira sustentável, no tempo adequado, valorizando a interdependência, com o devido apoio às mudanças necessárias.

Se mudar gera resistências no nível individual, quem dirá no nível dos países e do mundo como um todo! Em tempos de tanta divisão e opiniões conflitantes, somente a cooperação com o entendimento de que a realidade é transitória e interdependente permitirá encarar as mudanças de maneira harmoniosa e ativamente torná-las instrumento para a construção de uma vida melhor.