A internet e a educação
"A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida". John Dewey, autor dessa afirmação, foi um filósofo americano que nasceu em meados do século XIX e se tornou uma das principais referências para a pedagogia. Resgatei essa fala dele porque retrata exatamente o que eu sinto e penso em relação à educação.
Como já escrevi em outro artigo, ando muito mobilizado em entender o que podemos fazer para ajudar os jovens de hoje a seguir em frente, fortalecidos por esta experiência pela qual todos estamos passando, e não com uma lacuna, interrupção ou ruptura no seu processo de aprendizagem. É importante deixar claro que não sou um especialista em educação, longe disso. No máximo, sou um entusiasta do assunto e um educador amador - é como eu vejo meu papel de pai.
Outro dia, me peguei pensando em vários "e se?" para a educação:
"E se os melhores professores do mundo se reunissem para produzir um conteúdo único, universal, que pudesse ser compartilhado com alunos de todas as partes?"
Hoje, a tecnologia é um grande aliado da ampliação do alcance da educação. Ferramentas como o Youtube, por exemplo, já fazem transcrições automáticas para um grande número de idiomas. Entendo que matérias como história, por exemplo, envolvem questões subjetivas, culturais, religiosas e sociais, que devem ser tratadas de forma específica em cada local - às vezes, com abordagens diferentes até dentro de um mesmo país. Mas esta ideia pode se aplicar perfeitamente a um movimento de universalização do ensino de exatas, como matemática e física, entre outras disciplinas. Isso não quer dizer que professores e as instituições de ensino vão se tornar desnecessárias. Na minha opinião, muito pelo contrário. A questão do controle da educação também é muito séria e demanda um debate muito mais profundo, que deve envolver todos que participam direta e indiretamente do tema.
"E se jovens de todo o mundo usassem parte da sua capacidade de consumir conteúdo para aprender?"
Pesquisei várias fontes ligadas a inovação na educação e startups de Edtech e vi que, de fato, um dos principais desafios é justamente a disputa pela atenção e concentração dos jovens em conteúdos educativos. Isso afeta desde alunos do ensino fundamental até de pós-graduações à distância. A pandemia fez o ensino não presencial avançar muito e eu acredito que tem muito mais pela frente.
"E se houvesse uma rede social de educação?"
Voltamos ao ponto anterior. Não podemos ser ingênuos em pensar que os estímulos que fazem os jovens passar várias horas por dia nas redes sociais são iguais aos que os levariam a se dedicar à sua educação. Um detalhe: o Brasil é um dos líderes do ranking de populações que ficam mais tempo nas redes sociais, com uma média de 3,5 horas diárias. Se essas horas fossem convertidas, por exemplo, na leitura de livros, sairíamos de uma média de 2,4 livros por ano para mais de 18. Não sou contra redes sociais - estamos em uma. A questão é o equilíbrio entre crescimento e entretenimento, é pensar em como compatibilizar os dois lados, algo como "edutainment", quem sabe.
"E se tudo isso já estiver sendo tratado por alguém?"
Hoje em dia, é muito difícil pensar em algo que já não esteja em discussão ou até em ação em alguma parte do mundo. Uma busca rápida no Google por um movimento global de apoio à educação me levou para os sites do Moodle e da Coalizão Global pela Educação, um movimento liderado pela UNESCO para "facilitar as oportunidades de aprendizagem inclusiva para crianças e jovens durante este período de interrupção educacional súbita e sem precedentes".
O Moodle é uma plataforma de aprendizado de código aberto usado por duas em cada três universidades do mundo e também por uma infinidade de escolas. Já o movimento da Unesco tem entre os seus desafios criar estratégias para o desenvolvimento de sistemas educacionais mais abertos e flexíveis para o futuro, investindo na aprendizagem à distância. De acordo com o site da UNESCO, "o fechamento das escolas amplia as desigualdades de aprendizagem e prejudica crianças e jovens vulneráveis de maneira desproporcional". Hoje, 1,5 bilhão de estudantes estão fora da escola (91% da população de estudantes do mundo foram afetados pelo fechamento das escolas).
A responsabilidade pela educação é de todos nós - pais, educadores, empresários, governantes, investidores e a sociedade como um todo. Para reduzir a desigualdade, existe o caminho da redistribuição de renda, fundamental para o curto prazo. Pensando no longo prazo, a redistribuição de oportunidades de aprendizagem me parece ser uma ótima alternativa complementar. Acredito que o ensino à distância é um vetor muito importante para que todas as crianças possam ter oportunidades semelhantes de criar uma base sólida para a construção do seu próprio futuro e de um mundo mais justo e equilibrado.