A “intifada” argentina contra a reforma de sua Previdência
A história de Brasil e Argentina é bem diferente, mas tem os seus pontos de encontro, como durante a Guerra do Paraguai, quando, os Exércitos dos dois países marcharam juntos para massacrar a população paraguaia. Também em 1976, com o golpe militar na Argentina, houve de novo uma aproximação entre os dois países, a partir do ditador de lá, Jorge Rafael Videla, com o daqui, Ernesto Geisel. Mas, embora politico-economicamente a Argentina, com seus ditadores e caudilhos e perenes crises, não sirva de exemplo para o Brasil, muito é invejável a capacidade de sua população de se organizar para defender seus interesses locais.
Assim como aqui, a Argentina também passa por um processo de reforma de sua Previdência. O discurso do presidente Mauricio Macri destaca que o sistema é deficitário e está quebrado, defendendo como solução a elevação da idade mínima da aposentadoria, de forma opcional, de 65 para 70 anos (para homens) e de 60 para 63 anos (para mulheres). A medida atingiria 17 milhões de pessoas, a maior parte delas formada por pobres, de uma população de 44 milhões de pessoas. A maioria dos cidadãos não concorda que esta seja a solução para o problema e, desde a última quinta-feira, 14, tomou as ruas para pressionar os políticos locais e demonstrar seu descontentamento com a receita pronta apresentada pelo Governo. Os enfrentamentos entre manifestantes e policiais se seguiram desde então, com uma bem-sucedida greve geral realizada ontem.
Diferentemente dos brasileiros, os argentinos ainda são capazes de se organizar em nome de uma defesa comum. Ainda conseguem se indignar diante de tentativas de dilapidar direitos adquiridos e têm brio para questionar soluções impostas de cima para baixo, sem ouvir quem mais é atingido. Essa luta cotidiana não tem mudado o destino da Argentina, que segue, tal como aqui, como um país da periferia do mundo, com suas mazelas e particularidades típicas de um país latino-americano. No entanto, se este caráter de resistência estivesse tingido na alma do brasileiro, talvez o País já tivesse rompido a fronteira da periferia rumo a uma posição mais central.
Publicado originalmente no Metrô News, em 19 de dezembro de 2017