Desemprego, protesto e dia do Trabalhador
Poucos dias antes de comemorar o dia do Trabalhador, o Brasil viu inúmeras manifestações contra a reforma da Previdência e a reforma trabalhista. Tirando o fato de que muita gente ainda não sabe exatamente o que está sendo "reformado", penso que o tom das manifestações mais prejudicou do que contribuiu para defender a causa dos protestos.
Explico: embora a alegação para a realização do protesto seja a defesa dos direitos trabalhistas, a forma como o protesto é feito acaba prejudicando vários outros direitos dos trabalhadores. Talvez o principal deles seja o direito de ir e vir. Greves do transporte público e bloqueios de várias estradas fizeram com que muita gente não conseguisse ir ao trabalho, embora quisessem. Houve paralisação de atividades econômicas importantes. Houve paralisação de uma economia que há muito está paralisada.
E essa manifestação ocorre num momento em que é anunciado pela mídia que o índice de desemprego no Brasil atingiu o índice histórico de 14 milhões de pessoas sem trabalho. E por causa disso parece que há extremos: num lado há milhões de pessoas extremamente preocupadas em manter seus empregos e milhões de pessoas procurando trabalho, enquanto do outro lado há grupos contrários a reformas que podem ser importantes para a recuperação econômica do país.
Claro que o objetivo não é fazer apologia à ideia de que o elevado nível de desemprego nos torne reféns e nos impeça de reclamar por nossos direitos, no sentido de "vamos ficar quietos para não sermos os próximos da lista." Muito pelo contrário. Penso que a situação atual deve mobilizar nosso foco para outro lado. Devemos protestar contínua e pacificamente contra a corrupção, contra a desonestidade e a incompetência do governo, que fazem com que o índice de desemprego chegue a este número e provoque os colapsos que têm provocado.
Penso que o foco das entidades que nos representam deveria ser a recuperação da economia, da moralidade da gestão pública e do fim da corrupção. Sem precisar de barricadas, máscaras, bloqueios e quebra-quebra e deixando trabalhar quem quer trabalhar. Precisamos, então, de outro tipo de representação, de outras ações representativas. Qualquer coisa que seja diferente de exigir que o governo recupere a estabilidade econômica e cumpra seu papel relacionado a saúde, educação, segurança, etc., vai parecer uma luta classista em benefícios de causa própria.
Ah, por último, mas não menos importante: feliz dia do Trabalhador! Para quem está trabalhando e para quem está procurando trabalho!