Invertendo a sala virtual

A questão da sala invertida no Ensino a Distância (EAD) parece bem complicada a princípio, mas pode ser uma prática muito satisfatória para estudantes e professores

 por Wagner Sturion

No ensino presencial, convocar estudantes à participação antes da aula acontecer, certamente, é tarefa que requer a elaboração de um projeto e o desenvolvimento do processo criativo. O contato físico, certamente, ajuda, no convencimento. Mas como inverter a sala de aula dentro do sistema virtual de aprendizado? O que é necessário para propor uma inversão produtiva, eficiente e eficaz? Não é tarefa fácil, obvio, entretanto não há missão impossível para quem se coloca à disposição da educação de qualidade.

Dois fatores são essenciais para a aplicação dessa proposta:  estudos de possibilidades e planejamento estratégico. O primeiro ponto está em como conquistar o interesse do estudante sobre o tema tratado na disciplina. Para isso, é necessário unir o conhecimento, a didática e a criatividade. O segundo aponta para a necessidade de se criar uma estratégia nova de apresentação a cada webconferência. E, isso, indubitavelmente, pede a ajuda de um roteiro.

O conhecimento, a didática e a criatividade

 É o seu conhecimento que irá revelar o melhor formato para uma aula interessante e atrativa. Não falo apenas daquilo que você estudou nos bancos escolares e universitários, tampouco do que você pesquisou para conquistar os seus certificados de pós-graduação, mestrado e doutorado. Refiro-me também à sua vivência nas áreas social, cultural e esportiva. Às leituras reflexivas, aos espetáculos aplaudidos e aos jogos esportivos e estratégicos! 

A sala de aula virtual permite a interrogação, a exclamação e a afirmação. Ela exige bom conteúdo, apresenta texto objetivo e imagens adequadas à linguagem proposta. A formalidade ou informalidade vai depender da disciplina e do assunto tratado. Mas, em qualquer um dos casos, há de se ter contínuos questionamentos para levar o estudante à reflexão. É possível fazer perguntas bem descontraídas e outras mais sérias, entretanto os dois casos esperam por respostas dos estudantes. E isso exige presença.

É a interpretação que dá o tom da aula – para cima ou para baixo. Jamais o professor pode ser monocórdico ou monótono em sua webconferência, sob pena de perder seus seguidores mais fiéis. Sim, quando se fala em ambiente virtual é dessa forma que devemos pensar nossos estudantes. E eles precisam ser nossos fãs! De carteirinha. Por isso, o chamariz para a aula tem de ser muito atrativo. Ou a ninguém se fará presente!

Não há como elaborar uma aula sem ter de driblar muito o que é chato e cansativo aos olhos do estudante. Às vezes, a imagem diz mais do que palavras. Outras vezes, o texto se faz muito necessário. A jogada certa é sempre aquela que permite o ataque e o recuo. Se há muito texto, por favor, substitua um pouco do conteúdo por imagens significativas. Entretanto, não carregue muito nas fotos, pois o equilíbrio sempre oferecerá uma previsão de vitória. Nesse caso, campeão é o professor que não bate na trave do desinteresse. Suas aulas serão concorridas!

O roteiro da webconferência 

Planejar uma aula invertida, seja no sistema presencial, ou no virtual, não deve ser tarefa árdua, mas prazerosa. Primeiramente, é importante se colocar no lugar do estudante e refletir: – Que parte deste assunto me atrairia e qual me afastaria da webconferência? Que trecho da apostila é mais forte e qual é mais fraco? O tema propõe uma linguagem formal ou informal? É possível trazer ao roteiro da aula fatos e acontecimentos sociais, econômicos, culturais etc.? Como fazer uma aula diferente com esse assunto?

Vale um parêntese para contar duas experiências com sala virtual invertida, que desenvolvi para uma  turma de Comunicação. A primeira teve o formato de um Talk Show. Quem foi entrevistado? Claro, o professor. Pode não parecer, mas estudantes adoram saber sobre a vida de seus mestres! No Blackboard, criei um tópico no “Fale com o Professor”, intitulado: Discussão de Pauta. A ideia era o estudante ser o jornalista e o professor seu entrevistado.  

Eles deveriam mandar perguntas com antecedência, considerando dois pontos: primeiro, o histórico profissional do entrevistado; segundo, o conteúdo estudado nas duas apostilas. Dessa forma, as perguntas estariam ligadas aos assuntos abordados nas unidades. Os estudantes postaram perguntas, como a seguinte: Com o rápido crescimento das inovações tecnológicas, qual é a forma mais efetiva de comunicação nos dias atuais? Diante da sua trajetória, qual a área de atuação que mais lhe inspirou e encantou?

É bom salientar que o Talk Show ficou para depois da exposição da aula. Ou seja, funcionou como uma atração para aumentar a audiência da webconferência e também para manter os estudantes interessados até o final. O planejamento da aula foi pensado em todas as suas etapas: introdução, desenvolvimento e conclusão. Roteiros bem escritos resultam em bons trabalhos e, certamente, atraem o público.

A segunda experiência foi um Teatro Virtual. A proposta era a do estudante ser produtor e diretor de uma cena dramática. Ele teria de escolher o trecho de um texto (poesia, teatro, matéria jornalística, música etc.), com uma breve explicação de como visualizava a cena, desafiando o professor a interpretá-la. Os trechos enviados foram “costurados” e adaptados a um texto único, formando um esquete teatral com o título “A bela história de amor entre Madame Audição e Cavalheiro Fala”. Totalmente voltado ao assunto tratado na apostila – comunicação escrita e oral – o Teatro Virtual mostrou aos estudantes a importância de se ler boas obras, interpretá-las e compreendê-las, inclusive, em suas entrelinhas. A atração também ficou para o encerramento da webconferência.

A sala invertida nos faz treinar a criatividade. Tanto no primeiro como no segundo caso, busquei em minha formação de jornalista e ator ideias para desenvolver aulas envolventes para os estudantes. Também arrisquei o pouco que aprendi em aula de canto no teatro, apesar da minha voz um tanto desafinada. Para se ter uma webconferência produtiva em todos os aspectos é preciso não ter medo de errar, de tentar, de inovar!

Vou mais longe: é imprescindível perder o receio de parecer ridículo em algumas situações, pois a câmera sempre cria essa barreira quase insuportável! No entanto, ela é pequena demais diante da grandeza de ensinar. Ao roteiro, então, o professor tem de colocar, nas entrelinhas, a coragem da mudança e a importância do estudante para a Universidade e o futuro do País.

Estudante que se faz presente

Ressalto que a presença do público é essencial para o sistema de sala invertida. Não para animar o professor do outro lado da sala virtual, a fim de que ele faça uma aula melhor com a perspectiva do “aplauso em pé”. Não, definitivamente, não é isso. Explico: o estudante é chamado para participar da aula dias antes de sua realização. Com isso, várias reflexões estarão nos slides, a partir do exercício proposto, com o objetivo de que participe ativamente da aula. No dia seguinte, o professor fará um chamado para que todos comentem o que acharam da webconferência, ou seja, haverá uma avaliação pós apresentação da aula. A criação de meios que premiem o estudante por sua participação, portanto, torna-se irreversível. Isso para a web “ao vivo”, ou gravada!

A pergunta do estudante mais comum é se a web conferência conta como presença, ou se acrescenta pontos à média final. Um outro modelo interessante é a emissão de certificados com um total pré-estabelecido de horas para validação de atividades extracurriculares. Por fim, existe uma possibilidade de as aulas estarem casadas com o conteúdo das atividades dissertativas, que os estudantes tenham de desenvolver, posteriormente. Porém, esses modelos, talvez, esbarrem na questão sistêmica. A solução é criar oportunidades interessantes e chamarizes para que o estudante observe a web conferência como fator de crescimento profissional.

Reforço que a inversão da sala de aula traz novas perspectivas ao Ensino à Distância. É um sistema que aproxima o estudante do professor, de seus colegas de sala virtual, do ambiente Universitário sem uma relação de dependência. O que se vê é comprometimento com a disciplina estudada e a satisfação de ter uma web conferência bem cuidada e pensada para o desenvolvimento de sua carreira. É completamente o inverso do que muitas pessoas mal informadas ainda pensam do EAD. O futuro da educação, com certeza, é também virtual.

Wagner Sturion é jornalista, professor e palestrante nas áreas de comunicação, atendimento e hospitalidade.   


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