Invisibilidade, educação corporativa e agenda 2030: elos da corrente de mudança
Meu texto dessa semana aborda um tema incomum, nas visões mais tradicionais de educação corporativa. A abordagem tradicional se organiza em torno de alguns elementos mais ou menos marcados em função das características de cada empresa. Dentre esses elementos, destacam-se o desenvolvimento de habilidades técnicas relacionadas ao trabalho, como o uso de ferramentas, software, sistemas e procedimentos específicos da organização para aumentar a produtividade e garantir que as tarefas sejam executadas com competência e rapidez. O atendimento às demandas imediatas com formatos tradicionais de aprendizagem enfatiza a transmissão de informações e limita o desenvolvimento pessoal integral dos colaboradores.
Quando fiz minha pesquisa de doutorado, realizei entrevistas em profundidade para buscar os elementos que formataram a educação inicial daquele grupo pesquisado. Um breve trecho de uma das entrevistas, marcou-me de maneira especial e reproduzo a seguir. O entrevistado falava sobre aprender no passado e atualmente
Eu acho que é grande a diferença... eu não pensava que se eu não tivesse escola eu não tinha trabalho... agora... eu penso... que se você não tiver conhecimento... fica invisível na sociedade! (grifo nosso) Eu acho o direito de você opinar, ter opinião é direito que a sociedade julga muito. Se você não tiver o conhecimento... não tem as oportunidades de trabalho... e até de convivência... conhecimento do que pode acontecer... dos direitos... de ser um cidadão direito.
A percepção de se ver invisível na sociedade me marcou muito e me leva sempre a refletir: quem eu estou invisibilizando no processo educativo que realizo? Nos encontros de formação? Nos diálogos? Quem a empresa está invisibilizando e, com isso, desperdiça a oportunidade de envolver no processo de pensar sobre os problemas, aprender e considerar no desenvolvimento? Reflexões como essas redirecionam a abordagem da educação corporativa para perspectivas sistêmicas e transformadoras.
A abordagem de educação corporativa em temas ESG (Environmental, Social, and Governance) pode ter um impacto significativo na adesão e sinergia de diferentes grupos de colaboradores em uma empresa, bem como na redução da invisibilidade de alguns grupos e no fortalecimento da voz e influência de indivíduos que podem contribuir para mudanças positivas alinhadas com a Agenda 2030.
As ações de formação em temas ESG podem aumentar a conscientização dos colaboradores sobre questões sociais, ambientais e de governança, destacando os desafios enfrentados pela sociedade e o papel que a empresa pode desempenhar na busca por soluções. Isso cria uma base comum de conhecimento e valores compartilhados entre os colaboradores, promovendo uma compreensão mais abrangente dos problemas enfrentados.
A formação em ESG pode ajudar a alinhar os valores da empresa com os valores pessoais dos colaboradores. Colaboradores identificados com os objetivos de sustentabilidade e responsabilidade social da empresa se envolvem mais ativamente e apoiam as iniciativas da empresa.
A educação corporativa pode ajudar os colaboradores a entenderem melhor como suas ações individuais e coletivas podem impactar positivamente a sociedade e o meio ambiente. Esse conhecimento pode incentivar a participação ativa dos funcionários em projetos e ações que visem promover mudanças positivas.
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A formação em ESG dentro do ambiente de trabalho pode destacar a importância da inclusão e diversidade, criando um ambiente de trabalho mais aberto e acolhedor. Isso pode reduzir a invisibilidade social de grupos minoritários ou marginalizados, proporcionando-lhes mais oportunidades de crescimento e expressão.
Ao oferecer aos colaboradores as ferramentas e o conhecimento necessários para compreender e enfrentar desafios ESG, a empresa está capacitando-os para se tornarem agentes de mudança onde eles estiverem, todo o tempo. Isso pode dar mais voz e força a pessoas que, de outra forma, poderiam se sentir desamparadas ou sem meios para contribuir com soluções relevantes, reduzindo a ocorrência de sentimentos de invisibilidade, como o do meu entrevistado.
Inspirar e preparar líderes corporativos para adotarem práticas responsáveis em suas tomadas de decisão, promovendo uma cultura empresarial voltada para a sustentabilidade e responsabilidade social também é resultado dessa abordagem educativa. Situações como a daquele entrevistado que se sente invisível na sociedade seriam consideradas nas decisões das lideranças com reflexos positivos sobre a reputação social da empresa.
Ao envolver os colaboradores em questões relacionadas à Agenda 2030, a empresa pode impulsionar a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), criando um impacto mais amplo e significativo na busca por uma melhor qualidade de vida presente e futura.
É importante ressaltar que, para que esse processo formativo seja bem-sucedido, ele deve ser contínuo, abrangente e envolver todos os níveis hierárquicos da empresa, em alguns momentos integrando todos na ação formativa. Além disso, a liderança deve demonstrar comprometimento genuíno com a sustentabilidade e a responsabilidade social para que os colaboradores se sintam motivados a participar ativamente das iniciativas propostas. Com ações de formação nos propósitos da Agenda 2030, a empresa pode se tornar um agente positivo de mudança na sociedade, contribuindo para um futuro mais sustentável e inclusivo.
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1 aInvisibilidade é um tema que gosto de refletir, acredito estar associado a pró-atividade, a excessivo medo de se mostrar, a assumir a responsabilidade para si, e outros. Acredito que os adjetivos estão intrisecamente ligados ao campo emocional do indivíduo. A educação é a área de formação do indivíduo, e acredito capaz de realizar todas as transformações necessárias no indivíduo para que se sinta pleno de si mesmo, inclusive de administrar ficar invisível ou não. Em minhas rapidas reflexões sobre invisibilidade, milhares de eixos tanto educacional, quanto empresarial passaram em minha cabeça. Parabéns pela colocação, acredito que para alcançarmos voos maiores como pais, como povo, a responsabilidade de cada um, o valor próprio, a presença firme e a capacidade de ação são fundamentais e todas estas competências estão ligadas à capacidade de se tornar visível.