Janis e o patriarcado que oprime mulheres e artistas

Janis e o patriarcado que oprime mulheres e artistas

"Pena que fosse tão vulnerável. Foi o que acabou com ela". Assim, com essa frase infeliz, termina um artigo sobre o filme "Janis" (conta a história de uma das maiores cantoras que já tivemos no rock and roll) publicado no "O Estado de S. Paulo". 

O documentário de Amy Berg, mostra uma Janis intensa, cheia de atitude e vontade de transformar o mundo, que foi oprimida por uma sociedade cheia de machismo, por esteriótipos de uma mulher bela e "desejável". E tudo que o autor do artigo vê é uma "menina despreparada para o mundo que entrou", que "viveu e morreu pelo excesso", para ele o que a matou foi sua vulnerabilidade. Até quando vão continuar reproduzindo esse conceito bizarro de que a gente não pode ser sensível? Qual é o problema? Sermos sensíveis ou sermos pressionados a entrar em uma caixinha de comportamentos "socialmente aceitáveis"?  

É bastante triste que o próprio texto reproduza todos os padrões absurdos impostos à mulher, que massacraram Janis e tantas outras artistas, e que ainda hoje, décadas depois, continuam alimentando a rasa e desumana ideia de que mulheres tem que ser princesas, depiladas, perfeitas, "pra casar", castas, puras. Se somos intensas, feministas, exageradas, contestadoras, somos malucas, morremos por nossos excessos? Janis deve estar bem chateada com esse artigo.

A análise cheia de preconceitos não é só uma evidência de que a pressão sofrida por Janis continua vigente, mas escancara que o patriarcado não apenas oprime mulheres, mas também artistas, vendo na arte uma coisa "sensível demais", não enxergando sua função social, não entendendo quanto é bizarro não aceitar pessoas como são e colocando músicos, pintores, atores, em uma caixinha de "gente maluca que não faz nada de útil".

Em que ano estamos? Se você for assistir o documentário da Janis para julgá-la, pra apontar o dedo em sua cara e dizer que músico é tudo drogado, que mulher que busca liberdade é tudo puta ou qualquer coisa generalista, machista e absurda do tipo, por favor, não assista.

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