A julgar pelo Congresso Nacional, ainda teremos uma bancada da Papuda
A política brasileira tem suas idiossincrasias, que tornam difícil explicá-la para quem não está familiarizado a ela. Aliás, até mesmo os nativos desta boa terra chamada Brasil se surpreendem com algumas das bizarrices genuinamente nacionais. Uma delas tem como protagonista o deputado federal Celso Jacob (PMDB-RJ), que é um dos presidiários da Papuda, em Brasília, durante o dia, mas que ganhou da Justiça o direito de continuar exercendo suas funções parlamentares durante o dia. Ele foi condenado a sete anos e dois meses de prisão pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em regime semiaberto. Seus crimes foram falsificação de documentos e dispensa de licitação, enquanto era prefeito de sua cidade natal, Três Rios (RJ). Sua prisão se deu no início de junho, quando desembarcava no aeroporto de Brasília.
No entanto, na sexta-feira, enquanto quase 100% dos seus colegas estavam gozando o período de recesso bem longe da Capital Federal, o nobre deputado fluminense “bateu o ponto” e rumou para seu gabinete no Anexo III da Câmara. Tinha “muito” trabalho a fazer. Afinal, graças a um arranjo do seu partido, foi incluído na comissão representativa do Congresso durante o recesso, uma espécie de plantão parlamentar para resolver questões urgentes da Casa. Assim, ele ganhou um trabalho durante o período e o prêmio de ficar fora das grades da Papuda durante a semana. E trabalho dignamente pago. Afinal, Jacob, ainda que sentenciado e com domicílio em um complexo penitenciário, continua recebendo seus R$ 34 mil de salário.
O caso de Celso Jacob é apenas mais um exemplo revelador do estágio ao qual chegou a nossa política. De um lado tem um STF que condena, mas do outro, uma Câmara que não afasta. Pelo visto, esse grupo está acima da Justiça e as leis que atingem o cidadão comum parecem não alcançá-lo. E já que a Câmara dos Deputados é segregada em guetos bem definidos, como as bancadas ruralista, sindical, evangélica, da bola, da bala, em breve poderemos ter também a bancada da Papuda.
Publicado originalmente no MetrôNews, pág. 2, em 24 de julho de 2017