Líder sem valores não vale um tostão

Uma boa parte dos gestores se preocupam com o sucesso de seu trabalho (e da sua equipe), mas nesse caso, sucesso pode ser entendido como atingimento de metas. Sim, a pressão por resultados é um contexto inerente ao cenário empresarial, desde sempre.

Com metas cada vez mais desafiadoras e audaciosas (sim, porque não vi meta que diminui de um ano pro outro, só aumenta), gestores e gestoras se veem ainda mais cobrados para entregar os objetivos desejados pela Alta Gestão. O cenário ficou ainda mais complexo com o modelo de trabalho remoto/híbrido, uma realidade que veio para ficar como um dos reflexos do trabalho no pós-pandemia. Até aí, nenhuma novidade, concorda? Contudo, liderar vai bem além de atingir resultados com a equipe, até chefe faz isso, liderar é mais, bem mais.

Quem diz se você é líder não é você, são os outros. Mais do que o cargo, são as atitudes que contam, atitudes de líder. Como você se comporta quando uma pessoa do seu time vem até você e fala que está com grandes dificuldades de fazer o trabalho? Ou quando a pessoa afirmou uma coisa na reunião e depois mudou a história e você precisa fazer algo? Como você lida com os conflitos que surgem na sua equipe ou com outros times? Quando alguém comete um erro grave, qual é a sua conduta?

Algumas reflexões servem para pensarmos que existem bases consistentes para responder a cada questionamento, bases que foram construídas na cultura organizacional. Missão, visão e valores da companhia são (ou deveriam ser) as principais informações a serem passadas, absorvidas e praticadas na rotina do trabalho, onde os líderes são os maiores expoentes e responsáveis por disseminar essa cultura na equipe. Pensando em cruzar a entrega de resultados com o alinhamento aos valores da organização, montei a matriz abaixo:

No 1o quadrante, de líderes que não têm os valores nem entregas as metas, acaba sendo o primeiro da lista de dispensáveis na empresa, ainda mais quando houver um processo de reformulação da estrutura. Aliás, manter um perfil como esse é uma âncora para seu time, além de estagnar a equipe, ainda pode afundar tudo mundo. Espero que não não se enxergue nesse quadrante.

No 2o quadrante, o líder péssimo exemplo é aquele que passa por cima de todo mundo para atingir os resultados, deixando aquela sensação de "terra arrasada" por onde passa. Como comportamentos frequentes, tem um alto índice de exigência, faz microgerenciamento, pressiona todo mundo para entregar os resultados e atingir as metas. Até consegue alcançar os objetivos com consistência, mas sua postura, sua conduta e seu exemplo geram desconfiança, medo, raiva e está longe do que a empresa espera de atuação de seus líderes.

No 3o quadrante, mostra que se você é um líder que tem o alinhamento de valores com a cultura da organização, que pratica os comportamentos esperados, mas não entrega resultados, você merece mais oportunidades de mostrar seu valor de trabalho. Vale conservar e rever as metas ou o escopo do trabalho, pensar em uma movimentação lateral ou assumir um novo projeto. Talvez uma situação diferente e um conjunto de novas habilidades possa colaborar para elevar o desempenho. Mas nem sempre achamos líderes com os valores da organização e isso é precioso, a parte técnica pode ser aperfeiçoada com mais facilidade.

No 4o quadrante, o melhor dos mundos: um líder que entrega os resultados e que possui um grande alinhamento com os valores da organização. Lidera pela exemplo, inspira confiança e consegue conquistar o time para que todos (ou uma grande maioria) da equipe tenha alta performance e atinja as metas. Conhece líderes assim? Podem servir como referência para seu crescimento profissional, então converse com esses profissionais, aprenda com eles e ofereça o que você pode ajudar também.

Voltando nosso olhar para a matriz, nos quadrantes onde há um baixo alinhamento com os valores da organização, a recomendação é descontinuar essa relação. E por mais tentador que seja manter uma liderança que entrega os resultados, as consequências negativas são bem complicadas:

• péssimo exemplo para equipe
• equipe não confia e não faz o seu melhor
• liderados evitam o conflito e o debate de ideias, só fazem o que têm obrigação
• reduz o nível de engajamento
• aumenta a insatisfação no trabalho e o turnover na equipe

No final, a conta não fecha. Por um lado, bate as metas, mas por outro, gera custos tão expressivos (custo de demissão - dele e de pessoas da equipe, ações trabalhistas, queda de performance em curto prazo). Ou seja, um líder sem conhecer, praticar os valores e ser exemplo mais atrapalha do que ajuda, e talvez seja hora de repensar o papel dessa pessoa.

Como atuar melhor como líder, alinhado com a cultura da organização?

1. Conhecendo a missão e a visão da empresa, e como seu papel se conecta a este grande propósito
2. Priorizando as metas e as entregas individuais e da sua área que estejam a serviço da razão de existir da empresa e dos objetivos futuros que a companhia deseja alcançar
3. Praticar os comportamentos esperados pela Alta Gestão, entendendo como vivenciar os valores da empresa dentro da rotina de trabalho
4. Reforçando boas práticas e atitudes de seus liderados alinhados à cultura, promovendo os ajustes de conduta (seu e do time) sempre que necessário para praticar os valores no dia a dia de trabalho
5. Refletindo sobre o alinhamento de suas decisões e impactos gerados com a cultura desejada

Cobrar resultados é mentalidade de curto prazo, e sem o alinhamento com os valores, os prejuízos podem ser maiores do que o benefício de atingir os objetivos. Como sociedade e mercado, o que mais precisamos é de líderes que inspirem a equipe, que tenham atitudes e posturas condizentes com a posição que ocupam, fazendo uma comunicação adequada com cada pessoa e conectando informações e áreas para atuar como um facilitador, desenvolvendo pessoas e transformando o negócio, alinhando sua liderança com os valores e a cultura da empresa. Nesse cenário, os resultados são consequência de todo um trabalho.