Lawtech ou Excel: a dúvida cruel da Advocacia 4.0

Lawtech ou Excel: a dúvida cruel da Advocacia 4.0

Respiramos IA todos os dias, na sociedade líquida em que estamos. E, em que pese não sejamos um comércio, precisamos da IA para desafogar nossa empresa.

Estamos cada vez mais buscando soluções que acelerem a rotina burocrática processual, bem como para gerenciar o seu escritório, atender seus clientes, dar suporte aos seus colaboradores e garantir menos retrabalho, mais produtividade e mais competitividade e diferencial.

O advogado já não pode mais ser considerado uma profissão tradicional, porque nossa agenda é volátil e nosso conhecimento é cada dia mais interdisciplinar.

 É a desconstrução da nossa figura em camadas de competências de psicologia, contabilidade, sistemas de informação e administração, para oferecer o que o cliente da economia compartilhada busca agora, para justificar o porquê que seu preço é o da tabela, maior ou menor e quanto custa cada passo processual, extraprocessual e atenção emocional e mental ao cliente. 

Desde a abertura das portas do escritório: como vou medir e apurar quanto custa meu trabalho (além da tabela da OAB)? Qual a minha receita? Qual a minha despesa? Como vou monitorar quantas pessoas entram e saem no escritório? Como vou saber se meu sócio ou colaborador estão atendendo? Como vou saber quem é meu público-alvo no escritório, para depois definir estratégias de publicidade (com base nas normas da oab)? Qual a taxa de crescimento do meu escritório, se eu quiser reformar ou expandir? Qual o meu nível de produtividade, para responder aquele cliente que quer saber quando aproximadamente costuma vir aquele direito, em casos semelhantes ao dele?

 Aprendemos na faculdade que não podemos prometer resultados, mas se você ficar em cima do muro, seu cliente não engole um “não posso prometer nada”, muito menos um “talvez você ganhe” e é na análise de dados pelas lawtechs que você pode conquistar o diferencial que faltava.

E existe uma nuvem gigantesca de dados (chamada de big data), que já temos hoje como medir para dizer: “olha, tens 65% de ganhar esse caso, em aproximadamente 2,5 anos, com base no que os juízes da nossa Comarca tem entendido”. 

A tecnologia e a gestão do conhecimento que estão aí para que você não precise reinventar a roda, mas, sim, a gestão do seu tempo e da qualidade do seu atendimento ao cliente.

Também passamos por situações que os clientes se mostram insatisfeitos com a qualidade da nossa transparência. Eles não querem apenas pagar o valor e ter a sentença favorável.

Eles querem saber cada passo que é dado no processo, o que significa um ato ordinatório, se é empresa, qual o índice de resolução de demandas? Quanto o escritório recuperou de dívidas? Qual a progressão ou regressão na taxa de inadimplência, graças ao trabalho dos advogados?

E, por mais que planeje, boa parte da rotina sai do controle pelo excesso de trabalho, surgimento de novos compromissos, produção de marketing de conteúdo e novos clientes a todo instante.

E, aí, estão pipocando reuniões, eventos e cursos, promovidos por lawtechs (SajAdv, Aurum, Promad, Legal One, etc.) de gestão de escritório de advocacia, que prometem esse levantamento e análise de dados e nem sempre entregam o que prometem, mesmo já existindo tecnologia para isso. 

Qual o nosso panorama no Brasil? As Lawtechs chegaram “ontem” para nós, mas de forma emergente (como no caso dos dados da AB2L, que contabilizou aumento de 2.400% de associados de 2018 para cá).

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Dentre as principais categorias, a Associação Brasileira de Legaltechs e Lawtechs (AB2L), classifica os principais expoentes, segundo o seu radar de startups associadas, anualmente atualizado:

  • Analytics e jurimetria: plataformas voltadas para a análise de dados de clientes, casos, atendimentos e processos, além da jurimetria (voltada para levantamento estatístico quali-quantitativo, baseando-se em decisões de tribunais brasileiros)
  • Automação e gestão de documentos: ferramentas voltadas para o armazenamento e automação de preenchimento de dados em documentos jurídicos, com foco na gestão do ciclo de vida de contratos e processos.
  • Compliance: empresas que dão suporte para não só garantir um conjunto de disciplinas de referência para criar códigos de conduta, como também mecanismos para fazer cumprir as normas legais e as políticas estabelecidas para as atividades da instituição.
  • Conteúdo jurídico, educação e consultoria: portais e aplicativos voltados para divulgar informação, legislação, notícias de direito, assim como consultoria em serviços que variam de segurança de informação a assessoria tributária.
  • Extração e monitoramento de dados públicos: uma das opções mais conhecidas entre advogados é o monitoramento e a gestão de informações públicas (sejam elas judicias ou em órgãos administrativos específicos), como publicações em diários oficiais, andamentos processuais, acompanhamento procedimental de recursos de multa em órgãos administrativos, legislação acompanhamento de requisições e documentos cartorários.
  • Gestão para escritórios e para departamentos jurídicos: soluções de gestão de informações para escritórios e para departamentos jurídicos dentro de empresas.
  • Inteligência artificial voltada para o Setor Público: soluções de IA para tribunais e poder público em geral.
  • Redes de profissionais: muito conhecida entre jovens advogados e grandes bancas - buscando opções de serviços com recebimento e pagamento imediato, por um preço menor-, mas também como ferramenta para a população de regiões isoladas encontrarem advogados, são empresas que utilizam sites e aplicativos para criar uma rede de conexão entre profissionais de direito, empresas e pessoas a encontrarem advogados em todo o Brasil.
  • Regtech: soluções em tecnologia para sanar problemas criados por exigências vindas de regulamentações.
  • Resolução de conflitos online: empresas dedicadas à resolução de conflitos por formas alternativas ao processo judicial, tais como a mediação, arbitragem e negociação de acordos.
  • Taxtech: plataformas voltadas para facilitar a solução de desafios tributários
  • Civic Tech: empresas que oferecem tecnologias e soluções que melhoram o relacionamento entre pessoas e instituições, dando mais voz e participação digital ou melhorando a prestação de serviços.
  • Real State Tech: aplicação da tecnologia da informação através de plataformas voltadas para o mercado imobiliário e cartorário.

Por outro lado, países como Austrália, Inglaterra, Portugal e Estados Unidos já avançaram muito nisso, porque internalizaram a importância da IA desde a década de 1970, enquanto nossas primeiras legaltechs surgiram em 2003 (como a JusBrasil, por exemplo).

Se vocês olharem vagas de advogado no LinkedIn para Lisboa, por exemplo, além da fluência em três idiomas, eles já estão pedindo qualificação do advogado em tratamento de dados e gestão empresarial. 

Continuo a levantar essa bandeira de que precisamos empoderar os colegas, mostrar a importância de ir além do pacote office, de se aproximar dos cursos de tecnologias e ciências da computação, para parar de engolir sistemas de gestão empresarial mal feitos, com bancos de dados problemáticos.

Bancos de dados esses tão falhos na sua interoperabilidade e usabilidade, que fazem o advogado querer contratar alguém só para alimentar 5 vezes o mesmo honorário no sistema, sem nem falar no sistema de notificações do monitoramento processual falho, com sistema de cadastro de prazos décadas aquém da tecnologia disponível no mercado.

As lawtechs chamam bastante atenção para a alta taxa de desistência dos advogados depois de seis meses de uso das ferramentas, por desconhecimento, imperícia ou dificuldade na acessibilidade e usabilidade das tecnologias ofertadas.

Para isso, precisamos entender o que a IA é, o que as TIC podem nos facilitar a vida, a importância de aprender a levantar e tratar dados, porque empresas maiores, em São Paulo, por exemplo, já estão diminuindo a contratação de escritórios de advocacia e contratando profissionais de Sistemas de Informação, Ciências da Computação e TIC, para inserir um setor jurídico de um ou dois profissionais apenas e dentro da organização, porque nós estamos ficando para trás numa competência que pode e deve ser resgatada pela classe, porque a expectativa é que nós também nos utilizamos.

 Então, somos nós que precisamos nos empoderar e aprender o que realmente queremos e como queremos essas ferramentas, para ter força de mudança e cultura de classe para mudar esse cenário.

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