Lealdade à empresa não significa que você não possa assumir novos desafios
Cena do filme Sempre ao seu lado - Imagem Filmes

Lealdade à empresa não significa que você não possa assumir novos desafios

Nesses anos em que atuo como gestor uma das frases que mais ouço de profissionais que foram "desligados" da empresa foi: Eu sempre fui leal a empresa e é isso que recebo? Em tempos de mudanças constantes e do BOOM das startups a lealdade parece ser uma qualidade quase esquecida pelas companhias e pelas pessoas, ainda mais em um momento político na qual esse adjetivo se torna ainda mais raro, correto? Pensar dessa forma além de ir contra o princípio de parceria foge totalmente dos conceitos de ser você mesmo e impera cada vez mais a prática de querer levar vantagem em tudo, não importa como. Para melhor entender o conceito de lealdade busquei o significado de maneira mais prática possível: o Google.

Fidelidade aos compromissos assumidos.

Cada vez mais o termo fidelidade na nova economia está em desuso. Eu particularmente não gosto do termo, prefiro argumentar o custo benefício ao cliente do que fidelizá-lo. O novo consumidor facilmente muda sua preferência de acordo com sua experiência e principalmente com o poder do produto ou serviço pode oferecer. As mudanças são constantes e dificilmente um produto ou serviço é único ou não possa ser substituído. Marcas como Kodak, Kolynos, Nokia e Fiat Palio que já foram líderes de mercado e preferidos por seus consumidores, hoje já não existem mais ou tiveram sua participação quase reduzida a 1 dígito de market share. São os efeitos de uma geração que quer novidade, inovação e principalmente custo benefício. Esses consumidores serão leais até o ponto que os produtos os satisfaçam e apresentem uma experiência de personalização.

Assim como os produtos nossos empregos sofreram com essa evolução, hoje ao invés de ser leal à empresa como ela é, provavelmente seja melhor o profissional ser leal à empresa em transformação, com suas novidades. O professor e jornalista José Antônio Rosa fala que em vez de ser leal à empresa com seus ícones motivacionais abstratos, é melhor ser leal ao contrato que se faz com ela: trabalhar bem, com profissionalismo, dentro das boas práticas, pelo bem de quem paga o salário. A empresa, tendo necessidade ou sendo de seu interesse, dispensará a pessoa. A pessoa, tendo interesse ou necessidade, abandonará a empresa. Desfaz-se um contrato, mas com menor nível de dor e trauma. É a vida moderna, com suas mudanças estruturais mais rápidas.

Quando pensamos em um país que preza muito a lealdade na empresa, automaticamente lembramos do Japão. Lá o tempo de casa é muito valorizado e a experiência pesa muito em fatores como tomada de decisão através do nemawashi (regra do consenso). Porém a partir de 1999, o brasileiro Carlos Ghosn, CEO da Renault/Nissan, recebeu a tarefa de "transformar" a segunda maior fábrica de automóveis do Japão, em uma empresa lucrativa já que a 15 anos a empresa amargava prejuízos de bilhões de dólares e estava sendo vista dentro de um mercado globalizado como uma empresa sem inovação. Na época Ghosn demitiu mais de 21.000 funcionários, cerca de 14% do total de empregados, onde vários japoneses cometeram até suicídio devido a importância que se dá a empregabilidade na vida dos nipônicos.

Com uma estratégia de meritocracia, redução de custos e delegação de tarefas a jovens executivos que "compraram" a ideia da mudança, a empresa cresceu e seus modelos de automóveis foram mudados com novos designs conseguindo ter um apelo global que a empresa necessitava. Ghosn conseguiu imprimir a liderança de como é possível injetar otimismo e autoconfiança na organização e estimulá-la a renascer e prosperar, no ambiente da globalização. Soube como cortar custos, sem prejudicar o “core business” da empresa e teve o sentido de urgência de como levar as pessoas que os cercavam a ter pressa, fazer as coisas acontecerem e não se desviar dos objetivos traçados e além de tudo teve fé nas próprias convicções.

O conceito de lealdade em tempos de mudança não quer dizer que um profissional não pode começar numa empresa e se tornar presidente após anos de trabalho. O ex-presidente da Tigre, Amaury Olsen, começou office boy e se tornou presidente da maior empresa de tubos e conexões da América Latina. Outro grande exemplo é o de Robson Campos que atualmente é o CEO da Wärtsilä, multinacional finlandesa, fornecedora de equipamentos e serviços para os setores naval e de energia, onde Campos foi contratado como office boy, em julho de 1990, quando tinha 19 anos. Mas até mesmo Campos recebeu uma oportunidade em 2009 e foi assumir novos desafios (após trabalhar 19 anos na empresa) voltando para a Wärtsilä no ano seguinte agora como presidente, ou seja, sua fidelidade foi ao novo projeto da empresa e não a empresa em si.

Apesar de toda esta mutação que ocorre no mundo lembre-se que o termo lealdade não deve ser esquecido como mencionei no início do texto no tocante a fidelidade aos compromissos assumidos. Mesmo você recebendo uma melhor proposta ou decidir que está na hora de tocar seu negócio próprio, saiba que antes de mais nada você tem um compromisso com a empresa que te contratou. Essa lealdade às suas responsabilidades e terminar algo, ou deixá-lo encaminhado para que alguém assuma o seu lugar, além de ética é muito salutar para sua carreira. Já citei em outros posts que muitos profissionais retornam às empresas que trabalhavam devido ao legado que deixaram através de seu comprometimento.

Ser leal em qualquer relação é ter crescimento mútuo, tendo reciprocidade e respeito. Se uma das partes não está satisfeita o melhor caminho é conversar e chegar a um denominador. Uma empresa transparente com seu funcionário pode criar um vínculo de lealdade imenso onde o colaborador pensará duas vezes em trocar de emprego. Assim como um funcionário que trabalha arduamente e pontua aonde quer chegar pode facilitar para empresa o seu processo de promoção.

A lealdade está explícita no esforço que se faz para ser um bom profissional e uma boa pessoa. Ninguém passa desapercebido quando dá o melhor de si. Mudar faz parte do jogo e tanto a empresa como o funcionário podem seguir seus novos rumos, porém ser fiel a seus compromissos prova que além de ética, você possui lealdade a você mesmo.

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Veja também:



Marinho Alves Almeida

Coordenador de Filial. São Joaquim Transporte do RJ.

7 a

A lealdade: Quando essa atitude se manifesta no ser humano, o sujeito alcança um plano superior em questão de moral, é quase uma confirmação de que a corrupção dos costumes não consegue contaminar a todos. Deus é e sempre será leal ou fiel a nós.

Elyseu Schenkel

Analista de Planejamento Financeiro Sênior na WEX | Business Intelligence | Tech | TI | Startups | Software | SaaS | B2B | Dados | SQL | P&L | Orçamento | Budget | Forecast | Capex | Opex | Finanças | Revenue | Despesas

7 a

Belo Artigo, Edinei. Parabéns! Hoje em dia a lealdade é muito valorizada pois é díficil achar gente engajada. Vestir a camisa virou diferencial ao invés de ser o padrão.. . Abraços.

Neide Santos

Agilista | Agile Master | Scrum Master | PSM I | KMP | PMP | OKR Guardião | PACC | BAP | AMPC

7 a

Ótimo texto! Parabéns

Excelente texto, Edinei. Muito bom mesmo... Parabéns!

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