Legado Merkel

Para entendermos o legado deixado por esta grande líder, vou elencar rapidamente alguns fatos marcantes da carreira da “senhora do losango”:

Filha de pastor luterano, Merkel herdou da mãe professora o gosto pelos estudos de exatas e pelo ativismo político e das causas sociais, apesar de ter um estilo tímido e discreto, chegou a ser secretária de cultura no partido que ajudou a fundar. Ela é fluente em russo, inglês e doutorada em química quântica, mas preferiu deixar as pesquisas científicas em 1989 e tornar-se parlamentar aos 35 anos, aproveitando a efervescência política após a queda do muro de Berlim.

Graças a sua rapidez lógica, ao poder de observação e de argumentação, ocupou rapidamente espaços em comissões importantes dentro do parlamento. Foi ministra da mulher e da juventude, do meio ambiente e da segurança nuclear.

Defendeu uma agenda pro-mercado, negociando com os sindicatos para permitirem o aumento das horas trabalhadas/semana e com os líderes empresariais removeu barreiras para a demissão de funcionários e as diferenças salariais entre homens e mulheres, além de conseguir aumentar o salário mínimo, sob o argumento de que as leis até então tornavam o país menos competitivo.

Suas posições fortes e progressistas, contrastou e ofuscou os líderes conservadores e predominantemente homens de seu partido, e sua popularidade crescia a cada eleição.

• Em 2003 convenceu o partido para que se aproximassem dos EUA e apoiassem a invasão do Iraque;
• Em 2005 entrou para a chancelaria e já em 2008 já era a presidente do Conselho Europeu e a líder do G8.
• Em 2008 liderou a Europa impondo regras financeiras rígidas para diminuir o impacto da crise;
• Em 2013 impediu que a Grécia quebrasse e deixasse o bloco europeu;
• Em 2015, o seu lado sensível mostrou às nações mais poderosas do mundo que elas poderiam ajudar os refugiados, com a crise aberta na Síria, no Afeganistão e no Iraque, e recebeu mais de um milhão deles, mesmo sabendo que perderia popularidade com a medida, como de fato aconteceu, e talvez tenha sido a grande causa da derrota de seu sucessor nas eleições da semana passada.

Ângela Merkel pegou a Alemanha com 11% de desempregados em 2005 e deixou-a com apenas 3,6% e responsável por 25% do PIB europeu, mas agora ela passou o bastão e voltará a morar no quarto andar de um edifício antigo no centro de Berlim.

O jogo de poder entre os países do G8 tem se modificado muito desde a saída do Obama. Trump bagunçou o tabuleiro, Biden ainda não mostrou a que veio e Macron não tem carisma e altura para o cargo. Sem dúvida a senhora do losango fará muita falta.

Obs.: o losango que a Merkel formava com as mãos à frente da barriga se tornou icônica. Uma vez perguntada por que o fazia em suas aparições públicas, a chanceler disse que talvez fosse pelo amor que tinha pela simetria, mas na verdade era porque no início da carreira política ela não sabia onde colocar as mãos. Um dia ela fez este sinal, se sentiu confortável e seguiu fazendo, até virar sua marca, que foi longamente utilizada na campanha de reeleição de 2013,