Leitura Inspiradora: Um projeto que muda a vida das pessoas.
Como um girassol
Como um girassol amarelo, amarelo
Cidade negra
Quando eu, em 1997, entrei na vida acadêmica, não fazia ideia da revolução que faria na vida das pessoas. Recém saída de uma favela da zona oeste do Rio de Janeiro, apostei tudo no sonho universitário, era a única maneira de mudar o meu destino que era comum a qualquer menina daquela época, trabalhar num subemprego. Passei no vestibular para engenharia na PUC-Rio, recebi da Universidade uma bolsa de estudos e larguei o meu emprego, pois a faculdade era em período integral. Como sobreviver a nesta nova realidade?
A verdade era que eu não tinha recursos financeiros para alimentação, transporte e livros acadêmicos e cópias. Haviam muitos alunos bolsistas nesta situação, a PUC-Rio, concedia uma bolsa de estudos a pre-vestibulares populares e na época tínhamos grande dificuldade com estas questões.
Procurando sanar o problema a Pastoral Anchieta da PUC-Rio resolveu fazer o CONSOL, (Conselho de Solidariedade) formado por alunos e de professores da PUC-Rio , decidiram fundar o FESP, (Fundo Emergencial de Solidariedade da PUC-Rio) um fundo de apoio financeiro a alunos oriundos do meio popular.
Eu integrei na organização do fundo logo após a criação e como primeira ação apresentamos ao conselho universitário uma proposta de contribuição voluntária por parte dos professores. Ela foi aceita. Nós tínhamos cerca de 600 alunos precisando de ajuda e com a entrada deste recurso conseguíamos atender apenas 30 alunos. Foram feitas parcerias com estabelecimentos dentro da PUC-Rio, alguns departamentos e comerciantes doavam numero de cópias, almoço e lanches. A vice-reitoria comunitária se encarregava de fornecer à Pastoral a lista de alunos bolsistas e assim depois das inscrições fazíamos uma entrevista para saber a necessidade de cada aluno.
Mesmo com estas doações eram insuficientes para atender a todos, tive a ideia de formar um grupo multi-disciplinar para fazer ações para fundo, eu tinha 21 anos na época e intui que precisava de ajuda, no grupo haviam alunos de direito, engenharia, economia, serviço social, sociologia que juntos sentávamos e discutíamos ações para captar mais recursos.
Na época, haviam várias universidades brasileiras aderindo à política de cotas, uma dúvida pairava no meio acadêmico, era se alunos da periferia conseguiriam concluir seus estudos com excelência acadêmica. Analisando toda esta situação eu pedi que os alunos me fornecessem o seu histórico escolar onde fizemos uma média de notas para os beneficiários e concluímos que a maioria atendida, tinha médias muito boas, em geral o CR acima de 8.0 apesar das dificuldades econômicas e sociais que passavam.
Fizemos algumas ações para ajudar o fundo, como festas, campanha de doação de livros, cópias, venda de cadernos reciclados, mas mudamos de estratégia e começamos a buscar investimento de entidades de fora da PUC-Rio.
Um fato curioso que ocorreu, fui apresentar o projeto no DCE para tentar uma parceria, consegui parceria para divulgação no seu jornal e na festa junina da PUC com uma barraca de bebibas, a pessoa responsável por colocar as notícias do FESP no jornal chamava-se Marcelo, ele ficou à disposição para divulgação das ações do fundo. Passado 2 semanas, estou assistindo o Faustão e entrou uma banda chamada Los Hermanos para se apresentar, achei familiar o vocalista, era o Marcelo, jornalista do DCE.
A primeira entidade a ser contatada foi o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) Eu preparei dados do projeto, anexei dados de notas dos alunos atendidos, o grupo apresentou o projeto, mas o BID não investiu pois tinham foco na educação básica.
Não desistimos, uma aluna de economia, nos propôs buscar patrocínio na empresa Souza Cruz , fiz o mesmo processo, escrevi o processo, anexamos as notas e o enviamos, para nossa surpresa fomos aprovados com recursos para 6 meses e contemplando todos os 600 inscritos.
No final destes 6 meses, a própria companhia de Jesus decidiu doar todos os meses a quantia para cobrir os gastos dos 600 beneficiados.
Com os recursos organizados, meu foco agora foi trabalhar com os alunos para que eles pudessem melhorar suas habilidades na faculdade.
Escutava suas dificuldades e planejava ações de melhoria.
Fiz diversas parcerias com departamentos e entidades externas da universidade, para palestras de capacitação ao mercado de trabalho, com temas de como elaborar seu currículo, como passar numa entrevista. Para os alunos com dificuldade em gramática, promovíamos clube de leitura, aulas de redação, para os concluintes oferecíamos curso de oratória , para que apresentassem seu TCC com louvor e encaminhávamos a fonoaudiologia e psicologia alunos que detectássemos que precisassem acompanhamento.
Eu me desliguei do fundo em 2002.
Hoje, o fundo tem 23 anos virou um departamento da PUC-Rio e continua atendendo aos alunos com dificuldade financeira, sinto-me muito feliz por ter ajudado a desenvolver o projeto e saber que tudo começou pequeno e através de pequenos passos foi se estruturando.
Agradeço de coração a todos que fazem e fizeram parte deste fundo. Ele foi importante para o meu crescimento pessoal e profissional.
Clê Andrade.
Senior Data Engineer @ Jungle Scout | AWS | Python | Big Data
4 aCleyde tá ai a história de como você conheceu o Marcelo Camelo, haha. Quanto mais conheço tua história, mais me inspiro a ser uma pessoa melhor ... sou um privilegiado de poder bater um papo contigo no grupo do telegram as vezes. Também acredito que a educação é o melhor caminho pra mudar nossa realidade, também fui afetado positivamente por ela e hoje tento ajudar pessoas sendo professor. Parabéns pelo trabalho até aqui e continue com suas iniciativas que certamente tem um grande impacto na vida das pessoas que te rodeiam. Abraço.
Software QA Engineer | Analista de Testes e Qualidade de Software | QA Analyst | Testes Frontend | WCAG | WTM Ambassador & GDG Organizer SP @Google
4 aClê que sensacional ! Meus parabénsssssss