Lembranças lapidadas de um mercado de IT (ultra?)passado

Lembranças lapidadas de um mercado de IT (ultra?)passado

Bom, escrevo esse artigo após longos anos sem sequer iniciar uma reflexão por aqui ou no Medium, plataforma que eu dediquei alguns bons anos gerando conteúdo. Tomei a decisão de escrever esse artigo para que no futuro eu consiga ter um registro de um determinado momento em que eu senti uma saudade absurda de uma jornada de 12 anos como programador e de quantas memórias acumulei. Memórias que talvez, em um futuro distante, não esteja disponível em meu próprio HD memorial.

Recebi um amigo de infância e seu sobrinho na minha casa ontem, o guri além de muito comunicativo era absurdamente iterado sobre games e dispositivos tecnológicos, frutos de uma geração mais prática e digital. Em um primeiro momento nada de novo no front, até ele me pedir para instalar um jogo chamado Roblox e começar a literalmente falar sobre scripts de programação e formas de "hackear" o jogo para utilizar de mecânicas e universos paralelos.

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Comecei a programar aos 12 anos, na tela Battlefield ou Halo 1 talvez.

Eu me vi ali, eu me lembrei que já fui esse guri no começo dos anos 2000 fuçando meu computador de tubo, rodando uma versão duvidosa de WIN98, sem acesso a internet (antes da 00:00 claro) e com programas e seus ícones estranhos. Com o avanço da tecnologia os jogos me introduziram na programação, criava blogs, sites e ferramentas para os meus clans dos jogos. Aos poucos eu não percebia, mas traçava meu perfil de desenvolvedor e era absolutamente divertido.

Quando eu entrei no mercado, dominado por agências publicitárias e fábricas de software, tudo era muito fantástico e eu ganhava dinheiro para fazer o que antes era só brincadeira. Impossível explicar o que eram as fábricas de software em 2009~2016, minha mesa ao lado do servidor físico que era ventilado por um Britânia de 3 hélices, ligado a uma ripa que também conectava pelo menos 3 ou 5 computadores da ilha.

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Parte do time Infobase de algum ano onde o Javeiro e o programador .Net brigavam no Clube do Hardware

Eu era o mais jovem no meio de programadores sêniors falando das novas versões da biblioteca do Jquery, que o Flash ia morrer, que tinha uma equipe de uma rede social criando um cara chamado Bootstrap. O cheiro de café predominava, o carpete que irritava minha rinite e a sala com todas as persianas fechadas eram um ambiente que jamais os novos "space to work" suportariam.

Por 12 anos eu convivi com diversos tipos de linguagens, programadores, projetos, estilos de contratação e os mais variados estilos de bônus (compensação por acumulo de horas extras) - e essa é uma citação em aberto aos principais desenvolvedores que viraram madrugadas em escritórios no antigo centro do Rio de Janeiro, do qual nem VLT possuía.

Nos pegamos falando "queria estar vivo pra ver o homem pisar em Marte", mas pouco reparamos no avanço tecnológico sútil como me recordo em ver o surgimento do AngularJs e a morte do Jquery. Dividir a trincheira, como gosto de chamar carinhosamente as baias, era o Code Review ao vivo. E como era engraçado sacanear código mal feito, e que boas risadas eu dei em encontrar comentário em código de um outro desenvolvedor dizendo "Fui forçado a escrever esse código" ou "NÃO DELETE ESSA LINHA POR MAIS QUE PAREÇA O CERTO A SER FEITO".

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Equipe IBM, Prudential , essa mesa é equivalente a 2 graduações em TI, 5 Pós e 2 MBA's.

Não que eu ache o modelo de trabalho atual ruim, mas foram essas vivências que me fizeram bater rapidamente o olho em um código e entender o quão ruim ele é. Não que tudo seja fácil agora, mas para o homem das cavernas que usava a mão pra cavar um buraco, a pá me parece um jeito fácil de resolver o problema.

As tecnologias mudaram, as agências de publicidade afundaram, o conceito de fábrica de software foi associado a imprudência (não os culpo, um ventilador de 3 hélices resfriando o servidor era mesmo), os espaços de trabalho se tornaram mais agradáveis, o desenvolvimento se tornou mais objetivo e eu também mudei. Foquei na liderança, foquei em transformar produtos digitais partindo de uma linha estratégica e vê-lo crescer.

Hoje tento levar ao prático digital, um pouco do que foi o começo das fábricas de software dos anos 00s e como mesmo tudo sendo tão caótico era tão divertido. E talvez seja essa minha saudade, de programar sem ego, ouvindo o desenvolvedor do lado dar pitaco na hora sobre o que eu estava fazendo. Em programar freneticamente, ouvindo o álbum Meteora do Linkin, tomando aquele café na copa e ouvindo os murmúrios da galera de Cobol e Pascal. E realmente é uma realidade que não cabe mais, não que não tenha mais programador de Cobol vivo, mas é que a gente fica velho também.

Esse não é um texto saudosista, embora eu tenha saudades de programar, é um texto para escalar memórias e de alguma forma compartilhar algo sobre um passado não tão distante do hoje, mas talvez esquecido no agora. É um obrigado a cada desenvolvedor que eu pude trabalhar junto nesses quase 15 anos de mercado que eu irei completar em Novembro deste ano.

Aos desenvolvedores PHP não se irritem, mas eu coloquei uma expectativa que nunca foi preenchida na versão 7. A marca Britânia, parabéns eu vi vocês resfriarem um servidor físico por bons anos, até um terrível acidente de um copo d'água. Que bom que evoluímos, não é mesmo?

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Um domingo qualquer, provavelmente ás 21:00 de um projeto super bem planejado pelo comercial.



Rebeca Aismini Pereira e Silva

Coordenador na Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ)

1 a

Peguei a pipoca, mas acabei com um lenço. Porque "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi". Que texto!!! 👏🏾👏🏾👏🏾

"Excelente reflexão, menino Douglas!", disse a tiazona do tempo que computador era movido a manivela 😉

Pedro Coelho

Front-end Sênior | Desenvolvedor Web | Javascript | HTML | CSS | Typescript | Angular | Vue

1 a

Foi divertido cruzar caminhos com você e te ver trabalhar no meio dessa história aí. Gostei do seu texto. Bem escrito e descrito. Parabéns pela sua trajetória!

Leandro Sauwen

Especialista em TI na TIM Brasil

1 a

Muito bacana! Passa um filme na cabeça... "murmúrios do pessoal do Cobol" vivi muito isso! Hoje os mais jovens devem me achar tipo o tiozâo do Cobol🤣🤣🤣

Priscila Franklin

Especialista Sênior | Technical Leader Ecommerce TIM Brasil .

1 a

Ao desenvolvedores de PHP não se irritem rs.

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