Lições de fé e superação com o paralítico de Cafarnaum.

Os evangelhos relatam a história de um homem que, como muitas pessoas em nossos dias, vivia à margem da sociedade, sofrendo com o abandono, com o preconceito, com a desigualdade e com a injustiça social. História, porém, que por conta de muitas características escondidas no texto, pode passar despercebidas algumas lições valiosas de superação. 

O texto relata que antes do encontro com o paralítico, Jesus de Nazaré havia passado por uma experiência nada agradável com os mestres da lei e os fariseus antes do banquete na casa de Mateus, quando estava em Cafarnaum ensinando uma multidão que se aglomerou na frente da casa onde estava hospedado. Foi exatamente nesta cidade de incrédulos que Ele curou um homem paralítico e lhe perdoou os pecados. (Mt 9.1-8; Mc 2.1-12; Lc 5.17-26) Quando os fariseus e mestres da lei ouviram Jesus perdoando os pecados daquele homem, se escandalizaram e murmuraram entre si contra o Mestre de Nazaré (Mc 2.7). Para eles, perdoar alguém era algo considerado blasfemo, visto que na crença judaica popular daquela época, aquele homem (e todos os outros doentes) estavam naquela situação por castigo de Deus, "por causa de seus muitos pecados" (Lc 13.1-5; Jo 9.1). Para eles, era impossível um homem perdoar pecados a não ser Deus, pois só o perdão do Criador poderia livrar aquele homem daquela situação.

A estratégia de Jesus para silenciar os opositores religiosos e corrigir o ensino equivocado que eles transmitiam ao povo foi notável. Mesmo que tentassem negar a autoridade de Jesus em perdoar pecados, a cura do homem paralítico foi uma prova incontestável do perdão de Deus por meio de Cristo. Quem atribuiu pecados àquele homem? Foi Deus ou o sistema religioso da época? Por que a paralisia daquele homem era considerada consequência de um pecado e um iminente castigo divino? O perdão de Jesus àquele homem diante da "elite" religiosa que liderava espiritualmente o povo, antes mesmo de realizar a cura, deixa evidente que aquele homem sofreu algum infortúnio na vida e acabou paralítico, injustamente julgado e acusado de pecado pelos líderes religiosos. Ora, o próprio Jesus não era constantemente julgado e acusado injustamente por esses mesmos homens? Imagina os marginalizados, então?

O fato é que o mestre da Galileia silenciou os religiosos hipócritas e fez com que os acusados de serem pecadores perdidos glorificassem a Deus naquele local (Mateus 9.8). Era mais fácil dizer: "teus pecados estão perdoados", porque não haveria nenhuma prova visível de que isso havia acontecido de fato. A cura do paralítico, porém, foi a evidência de que o perdão dos pecados também havia ocorrido, libertando aquele homem de uma vida trágica, tanto fisicamente quanto socialmente.

Jesus é o libertador dos oprimidos e excluídos; nem a cura física nem a espiritual representavam dificuldade para o Filho de Deus. Ele sempre estava ao lado dos excluídos, acolhendo e curando-os, mostrando que Deus jamais excluiria alguém por suas diferenças, enfermidades, condição social, origem ou qualquer outra característica. Ao curar aquele paralítico, Cristo mostrou a todos que estava sob a autoridade e o poder de Deus. Também demonstrou como todos são filhos de Deus e dignos de inclusão social. Enquanto a sociedade e a religião excluíam essas pessoas, Jesus as abraçava e tratava com dignidade. Este é um verdadeiro exemplo para a nossa sociedade atual, que se declara cristã, mas ainda não faz grandes esforços para incluir os menos favorecidos na sociedade. Há apenas um tipo de pessoa que Deus abomina e não mantém proximidade, aquela que vive abundantemente na terra às custas da opressão e do sofrimento dos outros. Esse tipo de pessoa é citado em diversas passagens bíblicas, mas deixarei apenas duas aqui para referência: Epístola de Tiago, capítulo 5; Evangelho segundo São Lucas, capítulo 16, versículos 19-31.

Como o LinkedIn é uma rede social relacionada a trabalho e negócios, apresentarei, dentro dessa história, três aspectos de superação desse paralítico e seus quatro amigos, que nos ensinam algumas lições valiosas de fé e perseverança que devemos guardar e praticar em nossa caminhada nesta terra.

1. Não importa a condição em que você esteja, busque alcançar seus objetivos com fé e perseverança

O texto nos fala de um homem paralítico carregado em uma maca por quatro amigos, o qual tentava falar com Jesus em busca da sua cura. Entretanto, a multidão em volta da porta da casa onde Jesus estava não o deixava passar. Foi quando o paralítico e seus quatro amigos tiveram a ousadia de subir no telhado da casa com aquele homem na maca e, destelhando a cobertura, desceu-o pelo teto até onde Jesus estava. O texto nos diz que Jesus, vendo a fé deles, disse: perdoados te são os teus pecados. A partir daquele momento o homem paralítico não recebeu apenas a cura física, mas também a espiritual e social, saindo dali uma nova pessoa, livre de toda culpa e rejeição social.

Aquele paralítico tinha um sonho, um objetivo, e buscou alcançá-lo. Ele foi ousado, perseverante, determinado e teve fé na pessoa de Cristo. Com certeza ele havia ouvido falar no poder de cura de Jesus e isso lhe trouxe a esperança e a fé que ele precisava para alcançar seu sonho: ser curado da paralisia. Viver com a rejeição social e religiosa que um doente vivia naquela época era uma missão quase impossível, a cura dessa doença apresentava-se como um sonho muito distante. Quando esse homem ouviu falar que era possível alcançar esse sonho, ele não mediu esforços para buscar essa realização.

A história de superação deste homem nos ensina que mesmo que haja uma “multidão” em nossa frente barrando nossa passagem para a vitória, mesmo que nossas condições humanas pareçam impossíveis de tornar nossos sonhos uma realidade, mesmo que a sociedade ou as lideranças políticas e religiosas venham nos falar que não podemos ou que não somos capazes de alcançar nossos sonhos, devemos manter nossa fé e buscar com determinação e perseverança na pessoa de Cristo, alcançar nossos objetivos de vida. Mesmo que eles pareçam impossíveis, nada é impossível para Deus (Lc 1.37). Quantas pessoas hoje não enfrentam uma "multidão" que busca fechar às portas a elas? Pessoas pretas, LGBTQIA+, periféricas (seja de favelas ou de locais distantes do Brasil), pobres e marginalizadas enfrentam diariamente uma multidão de segregação social e racial; uma multidão de portas fechadas e de falta de representatividade; enfrentam diariamente uma "paralisia" imposta pelo sistema capitalista brasileiro; se isso não bastasse, ainda sofrem com a imputação de pecados que Deus nunca imputou a elas. Se estes aspectos não fossem um fato, a vitória de pessoas com essas características não seriam noticiadas em jornais como um exemplo ou novidade a ser divulgada. A história deste paralítico nos ensina que, as vezes, é necessário desviar dessa multidão e encontrar outros caminhos para a realização dos nossos sonhos, mesmo que eles pareçam impossíveis e improváveis. Também nos ensina que devemos agir como Jesus ou os quatro amigos do paralítico: ao invés de ignorarmos e abandonarmos as margens os "paralíticos" e "pecadores" da nossa sociedade, devemos acolhe-los e ajudá-los a se levantarem para luta e para a vitória. Só uma sociedade onde nos ajudamos mutuamente poderá ter um futuro próspero. Uma sociedade individualista está fadada ao fracasso. (Marcos 10:43-45)

2° Priorize sempre ao seu lado as amizades que te ajudem, te apoiem e que acreditem nos seus sonhos.

Já vimos que o homem paralítico tinha um objetivo: ser curado. Esse objetivo era impossível de ser alcançado sozinho, pois ele era paralítico. Além disso, ele buscava a cura em uma pessoa que era considerada um falso profeta pelos líderes religiosos da época. No entanto, o paralítico tinha quatro amigos que estavam dispostos a fazer tudo para vê-lo reintegrado em sua vida social. Eles abraçaram a sua causa com determinação, tornando o impossível possível. Mesmo quando fracassaram coletivamente, eles não desistiram. Ao contrário, uniram forças e ampliaram a visão, buscando juntos alcançar o objetivo estabelecido.

Para alcançar nossos sonhos e objetivos com êxito, é crucial selecionarmos as amizades certas para estarem ao nosso lado em nossa jornada. Amizades em que podemos confiar nossos projetos de vida. Muitos sonhos e projetos, grandes obras e feitos no mundo, nunca chegaram a ser concluídos ou realizados porque as pessoas não escolheram bem suas amizades. Devemos considerar que na história da humanidade, a desigualdade e a injustiça social causada por aqueles que detinham o poder impediram muitas pessoas talentosas de concretizarem seus sonhos. No entanto, também existem aqueles que desistiram ou fracassaram por terem dado ouvidos a amizades pessimistas que minaram sua fé e os fizeram acreditar que não eram capazes de realizar seus sonhos.

Imagine se esse paralítico tivesse escolhido como amigos pessoas que não acreditavam em seu sonho? Imagine se ele tivesse dado ouvidos aos seus líderes religiosos e acreditado que seu destino era morrer paralítico numa maca, como consequência de seus pecados? Imagine se os amigos que ele escolheu para confiar seu sonho tivessem desistido na primeira dificuldade? Certamente, ele e seus amigos jamais teriam se encontrado com Jesus, e sua história nunca teria entrado para os registros bíblicos. Seriam apenas mais um número na lista de pessoas que fracassaram na vida ou que escolheram viver segundo o destino imposto pela sociedade.

Que tipo de amizades você tem cultivado ao seu lado? Que tipo de amizades você tem confiado seus sonhos? Mais importante ainda, que tipo de amigo você é? É fundamental cultivarmos amizades que nos ajudem a crescer e alcançar nossos objetivos, mas também é importante sermos amigos que verdadeiramente abençoam a vida das pessoas. Não seja egoísta; procure selecionar bem suas amizades, mas também procure ser uma boa influência na vida dos outros. Aquele homem chegou até Jesus derrotado, paralítico e sendo carregado, mas por ter cultivado as amizades certas, voltou vitorioso, andando e carregando a maca que simbolizava seu fracasso. No entanto, lembre-se de que um verdadeiro amigo é aquele que nos fala a verdade, mesmo que não seja o que queremos ouvir. Às vezes, o que parece pessimismo e falta de fé é um conselho verdadeiro de uma verdadeira amizade, que quer nos alertar sobre algo que não estamos enxergando no momento.

3° No meio de uma crise, não desista na primeira dificuldade; tenha visão e busque com determinação alcançar seu sonho

Quando os quatro amigos do paralítico tentaram levá-lo até Jesus pela porta da casa onde Ele estava ensinando, eles se depararam com uma multidão de pessoas que não os deixavam passar (Mc 2.3-4). Uma multidão indiferente e egoísta os impedia de passar pela porta e chegar até Jesus. Se acrescentarmos também o fato deles terem ouvido um não frio e seco daquelas pessoas ao tentarem ajudar aquele amigo paralítico, logo concluiremos que a atitude mais óbvia deles seria de decepção, desânimo e desistência. Porém, não foi isso que aconteceu!

O Evangelho de Marcos nos relata que, não conseguindo levá-lo até Jesus por causa da multidão, removeram parte da cobertura sobre o lugar onde estava Jesus e, por essa abertura no teto, baixaram a maca na qual se achava deitado o paralítico (Mc 2.4). Que visão, que determinação, que ousadia, que fé na pessoa de Cristo! Eles estavam tão decididos e determinados a alcançar o objetivo deles que aquela multidão egoísta e indiferente não os impediu de tornar seus sonhos realidade.

É digno de nota sabermos que uma casa típica da Palestina daqueles tempos tinha o telhado plano, onde se podia chegar por uma escada externa. O telhado era geralmente coberto por uma camada de barro apoiada por esteiras feitas de ramos de palmeiras e sustentadas por vigas de madeira. Portanto, vemos que o trabalho deles não foi fácil; eles tiveram que carregar um paralítico por uma escada até o telhado da casa, depois tiveram que "destelhar" o teto da casa (o que também não deve ter sido nada fácil), e depois tiveram que descer o paralítico do teto até Jesus.

Com certeza eles devem ter saído daquele lugar com arranhões, machucados, sujos e cansados, mas todo esse esforço valeu a pena quando eles viram o amigo deles saindo dali curado, perdoado e andando. Para que eles conseguissem alcançar esse objetivo, eles precisaram ter fé, determinação, ousadia e visão. Eles precisaram manter o foco na missão que eles tinham, precisaram não dar ouvidos aos pessimistas, eles precisaram não desistir na primeira dificuldade ou no "não" que aquela multidão indiferente deu a eles. Eles precisaram ter visão no meio da dificuldade e colocar em prática o plano que eles elaboraram para alcançar o objetivo. Mesmo que esse plano parecesse impossível e maluco, eles precisaram acreditar neles mesmos e arriscar essa atitude ousada que os levou a conquistar o que eles queriam.

Na nossa vida também nos deparamos com muitos momentos de crise, momentos difíceis, onde tudo parece dizer que não. Momentos em que estamos na parte mais difícil da batalha para alcançar nossos objetivos. Muitas vezes, quando precisamos de ajuda, nos deparamos com uma "multidão" indiferente e egoísta que só pensa em si e que quer impedir nossa passagem para a vitória. Essa multidão sempre existirá no caminho daqueles que não querem ser "só mais um na multidão", daqueles que não querem passar por esse mundo em vão, daqueles que querem realizar seus sonhos, principalmente daqueles que não aceitam a posição social injusta e desigual que lhes foi imposta, seja por sua cor, origem, condição econômica, gênero ou qualquer outro fator social que configura a desigualdade no mundo.

A história nos mostra quantas pessoas pretas, nos Estados Unidos, sofreram nos tempos das lutas pelos direitos civis com a exclusão ou o ódio racial que sofriam em escolas, transportes, hospitais, locais de trabalho e outros espaços que, segundo os racistas, não eram para eles. Quantas pessoas não sofrem hoje no Brasil sendo impedidas de ocuparem cargos ou espaços de poder por conta de suas origens, cor, gênero ou qualquer outro fator que seja considerado exclusividade para uma certa parcela da sociedade? Não aceite essa imposição injusta e estrutural do sistema, independente da sua condição, faça acontecer e prove que também é capaz e merecedor!

Essa multidão também simboliza pessoas que não vencem na vida por falta de atitude e ousadia e, por consequência, não querem deixar ninguém vencer. É uma multidão de pessoas que vivem sob um sistema de "pirâmide" e, para se manter no topo (nem sempre quem está no topo é um vencedor), precisam estar com seus pés em cima dos menos favorecidos usando da religião, da política, da mentira, da informação falsa, entre outras coisas que manipulam o povo, que os usam como massa de manobra, que têm como intenção mantê-los sempre no último andar da pirâmide social e econômica.

Mas como aquele paralítico e seus quatro amigos, nós também não devemos deixar os problemas, as dificuldades, as crises, os "nãos" que ouvimos das multidões nos impedir de realizar nossos sonhos. No meio do auge da batalha da vida, devemos ter visão e buscar por todos os meios (corretos, honestos e justos) concluir nossos objetivos e alcançar nossa vitória na vida. Mesmo que isso nos leve a sair do meio mais óbvio de se chegar ao objetivo, mesmo que isso nos leve a sair do comodismo e ir por um caminho ainda mais difícil, mesmo que isso nos leve a um trabalho árduo de "subir escadas levando peso", de "destelhar uma casa" ou de "descer" na caminhada. Devemos sempre lembrar de não desistir ou desanimar nas dificuldades, nas crises, nas multidões. Mas também devemos lembrar que desistir de certas lutas, de certos sonhos ou certos objetivos é, muitas vezes, um passo para a vitória. Às vezes, escolhemos algumas batalhas que só vão nos desgastar mentalmente, espiritualmente e fisicamente. Não vale a pena! Lute, mas cuide de si mesmo. Um soldado ferido, cansado e desmotivado não lutará suas batalhas com inteligência. É preferível que, primeiro, você cuide de si, para que, assim, consiga lutar com todas as forças. Devemos sempre pedir a Deus que nos dê visão, força, fé, sabedoria e foco na missão para enxergarmos outro caminho que nos leve a alcançar nossos objetivos e sonhos. Mesmo que esse caminho pareça difícil e impossível, devemos lembrar que para Deus, nada é impossível; e que Ele recompensa aqueles que agem pela fé em sua pessoa (Mc 2.5).

Professor Sidney A. Oliveira Jr. (Historiador)

Referência Bibliográfica:

Bíblia Sagrada:

O evangelho segundo Mateus, Capítulo 9:1-8

O evangelho segundo Marcos, Capítulo 2:1-12

O evangelho segundo Lucas, Capítulo 5:17-26