Liberdade?!?
Liberdade de expressão... Confesso ficar meio grilado com o entendimento que a sociedade moderna dá ao direito de livre manifestação do pensamento, emitir nossas opiniões e idéias ou expressar atividades intelectuais, artísticas, científicas e de comunicação, sem interferência ou eventual retaliação do governo. Que uso anda sendo feito dessa tal liberdade? Acho que andamos confundindo liberdade com falta de educação e falta de modos, com inversão de valores e outras coisas mais, sendo que ninguém precisa ser inconveniente para conseguir ser livre. Mais amplo que esse conceito, talvez seria bom acreditar que nossa liberdade termina onde começa a liberdade do outro. Vendo, ouvindo, lendo ou assistindo alguns fatos do cotidiano, não há como nos esquecer do filósofo Jean Paul Sartre, para quem "o homem é a sua liberdade e está condenado a ser livre". O que o francês defendia é que a condenação estaria ligada ao fato de que, uma vez lançado no mundo, o homem é responsável por tudo que faz. Portanto, a liberdade de expressão também está sujeita a uma atitude de responsabilidade e integridade.
Liberdade é, sobretudo, exercitar conscientemente a capacidade de escolha, o que equivale a assumir as consequências do ser e fazer. O homem faz escolhas de manhã até à noite e deve se responsabilizar por elas no dia seguinte, assumindo seus riscos de vitórias ou derrotas. E escolher, convenhamos, nem sempre é fácil ou simples. Trata-se de optar por um caminho e renunciar a outro. Por esta razão, dizer "faço o que quero e não tenho de dar satisfações" é ilusório, não existe nulidade e nem liberdade infinita. Na epístola de Paulo aos Corintios, o apóstolo escreveu que "Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém". Esta expressão aparece num contexto em que o apóstolo Paulo entendia que os cristãos de Corinto estavam adotando um comportamento completamente reprovável, se entregando à imoralidade e aos pecados sociais, tentando se justificar com base num entendimento errado da liberdade cristã, já que se pregava uma ideia de liberdade total, inclusive num tipo de prostituição religiosa, em que fazia parte dos cultos pagãos o relacionamento sexual entre as sacerdotisas e os adoradores.
O grande escritor brasileiro Luís Fernando Veríssimo descreve que “poderia se dizer que livre, livre mesmo, é quem decide de uma hora para outra que naquela noite quer jantar em Paris e pega um avião. Mas, mesmo este depende de estar com o passaporte em dia e encontrar lugar no avião. E nunca escapará da dura realidade de que só chegará em Paris para o almoço do dia seguinte. O planeta tem seus protocolos". Em resumo, o ato pode ser livre mas, necessariamente, a pessoa deve responder e responsabilizar-se. Por sermos livres, precisamos assumir que nossas atitudes terão consequências. Voltando a falar de Sartre, para ele o homem não pode ser ora livre, ora escravo. "Ele é totalmente e sempre livre, ou não o é. A liberdade não é alguma coisa que é dada, mas resulta de um projeto de ação".