A melhor escolha
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Somos uma geração de “Maria vai com as outras”, seguindo modelos estipulados por “influencers” e outro sem número de pessoas que não conhecemos. Aliás, a expressão “Maria vai com as outras” é tipicamente brasileira e remonta ao início do século 19, com a vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro. A mãe do rei João VI, a rainha Maria I, costumava passear às margens do rio Carioca, no antigo bairro de Águas Férreas. Acontece que Maria I era conhecida por sua insanidade mental, fruto de sua tristeza pela morte do filho e pela Revolução Francesa, que motivou a fuga da família para o Brasil, razão pela qual era tratada como “A Louca”. Como ela ia passear levada pelas mãos de suas damas de companhia, o povo dizia: “Maria vai com as outras”. O humorista Jô Soares criou uma personagem chamada de Múcio, que se caracterizava por nunca discordar com alguém. Ou seja, quando exprimia sua opinião e alguém o criticava, tratava de se desdizer e concordar imediatamente com seu interlocutor.
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Isso é característico de quem não tem opinião própria e, por isso, segue a vontade dos outros. Basta dar uma olhada nos programas de TV ou nas postagens em redes sociais, em que rapazes musculosos só falam de academia e mulheres que gastam o pouco que ganham só para ter aquela bolsa importada. A medicina já está estudando este comportamento, ao qual dá o nome de Normopatia, que nada mais é do que o impulso – por muitas vezes involuntário – de seguir algum estilo de vida, alguma forma de ser, que se assemelhe a uma parcela suficientemente representativa da sociedade. Isto me faz lembrar uma antiga historinha, que é mais ou menos assim: Um asno precisava atravessar uma floresta virgem para voltar ao seu sítio e, como animal irracional, foi abrindo uma trilha tortuosa, cheia de curvas, com um monte de subidas e outro tanto de descidas, caminhos íngremes e difíceis de serem percorridos. Mas, como era um animal de força bruta, conseguiu chegar.
No dia seguinte, um cão que passava por ali, usou essa mesma trilha para atravessar a floresta. Depois, foi a vez de um carneiro, líder de um rebanho, que vendo o espaço já aberto, fez seus companheiros seguirem por ali. Mais tarde, os homens começaram a usar esse caminho: entravam e saíam, viravam à direita, à esquerda, abaixavam-se, desviavam-se de obstáculos, reclamando e praguejando – com toda razão. Mas nada faziam para criar uma nova alternativa. Depois de tanto uso, a trilha acabou virando uma estradinha onde os pobres animais se cansavam sob cargas pesadas, sendo obrigados a percorrer em três horas uma distância que talvez poderia ser vencida em trinta ou quarenta minutos, caso resolvessem buscar um outro caminho, senão aquele aberto por um asno. Anos se passaram, a estradinha tornou-se a rua principal de um vilarejo, e posteriormente a avenida principal de uma cidade, onde todos reclamavam do trânsito, porque o trajeto era o pior possível. Enquanto isso, a velha e sábia floresta sorria, ao ver que os homens têm a tendência de seguir como cegos o caminho que já está aberto, sem nunca se perguntarem se aquela é a melhor escolha.