Liderança e Propósito

Liderança e Propósito

O Trecho, é do Capítulo 1 do Livro: “Liderança & Propósito: O novo líder e o real significado do sucesso.” Do Fred Kofman, Vice Presidente de Desenvolvimento Executivo do LinkedIn.


“Era um dia escaldante de julho em Las Vegas, por isso, é claro, a sala de reunião estava congelante.

Os participantes do meu workshop de ‘Empresas conscientes’ apertaram firme seus paletós e fizeram uma careta.

Eles não estavam só com frio: estavam bravos. Todos me olharam com frieza. Eu sabia o que estavam pensando.

Estive em situações como aquela muitas vezes. A maior parte dos administradores me recebe de forma tão calorosa quanto receberia uma epidemia de gripe.

É como se estivéssemos todos presos em uma tirinha do Dilbert e eu pudesse ler os balõezinhos sobre a cabeça deles.

O que estou fazendo aqui?, pensava um cara.

Tenho trabalho para fazer! Mais um workshop idiota, pensou outro. Eu odeio esses negócios.

Decidi brincar com seus piores medos.

— Vamos começar quebrando o gelo! — exclamei com minha voz mais animada de workshop.

— Ache alguém que você não conhece e se apresente. Não se esqueça de dizer a essa pessoa qual é seu trabalho.

 Eu era capaz de ouvir os grunhidos mentais no momento em que se voltavam a seus vizinhos. Depois de três dolorosos minutos, pedi atenção a todos.

 — Quem gostaria de começar? — perguntei gentilmente, como se não tivesse ideia do quanto os estava irritando. Ninguém respondeu, é claro.

— Vocês dois, por favor — interpelei um par.

— Contem para a gente o nome e o trabalho de seu parceiro.

— Ele se chama John. Ele é do jurídico — disse a mulher.

— Ela se chama Sandra — falou John. — Ela promove campanhas de marketing.

— Errado — respondi. Sandra e John ficaram confusos, assim como todos os demais.

Então, no melhor estilo Las Vegas, desafiei todo mundo na sala para uma aposta:

— Aposto cem dólares com cada um de vocês que não sabem com que trabalham. E vou precisar de menos de um minuto para provar isso. Ninguém disse nada.

— Ah, vamos lá — falei —, vocês não sabem mesmo com que trabalham? — Puxei um bolo de notas, com a de cem em cima.

— Façam suas apostas. Dou cem contos para quem vencer. Se perder, doarei o dinheiro para a instituição de caridade de sua escolha. Levante a mão, a não ser que você realmente não saiba com que trabalha.

Algumas pessoas levantaram a mão, mas a maioria fez cara feia, suspeitando de uma armadilha.

— Vamos deixar as coisas mais fáceis — falei.

— Não vamos apostar dinheiro, e sim tempo e energia. Se eu vencer, vocês ficam no workshop e participam dele até o fim. Se eu perder para mais da metade, encerramos o workshop, e eu vou tomar bronca dos gerentes de vocês. Vou dizer que não estava em condições. Eles nunca vão saber o que rolou: o que acontece aqui, fica aqui. E para chegarmos a um acordo, vocês vão decidir se perco ou ganho.

As pessoas fizeram caretas. Alguns balançaram a cabeça, determinados a não jogar comigo.

— Vamos lá — pedi.

— Vocês estão presos aqui comigo. O que têm a perder, além da própria confusão? Se vencerem, vão se livrar imediatamente de mim. Vão poder contar para todo mundo a história do idiota que estragou o próprio workshop nos cinco primeiros minutos.

 Enfim conquistei a atenção deles. A maioria levantou a mão. Escolhi uma mulher sentada na frente. Espiei o nome em seu crachá e lhe agradeci.

— Obrigado por brincar, Karen. Qual é seu trabalho? — Eu sou da auditoria interna.

— Qual é seu trabalho como auditora interna?

— É garantir que os processos organizacionais sejam confiáveis.

— Perfeito, Karen, vamos começar. Todo mundo, por favor, olhe para o relógio. Karen, você praticava algum esporte na escola?

— Sim — respondeu ela. — Eu jogava futebol.

— Ótimo! Como argentino, sou louco por futebol. Em que posição jogava? — Na defesa.

— Qual era o seu trabalho? — Impedir que o outro time fizesse gol — disse ela. Voltei-me para os demais:

— O trabalho de um zagueiro é impedir que o outro time faça gol. Alguém discorda? Se sim, por favor, levante a mão. Ninguém se mexeu.

— Então agora, outra pessoa, por favor, me responda. Qual é o trabalho de um atacante?

— Marcar gols — responderam várias pessoas em uníssono.

— Ótimo, acho que estamos entrando em sintonia. Minha próxima pergunta é: qual é o trabalho de um time?

— Cooperar — disse alguém. — Cooperar para quê?

— Para jogar bem — disse outra pessoa.

— E por que um time gostaria de jogar bem?

— Para vencer! — ressoou um grito do fundo da sala.

— Isso! — respondi. — O trabalho de um time é vencer o jogo. Alguém discorda?

Eles balançaram a cabeça e reviraram os olhos, irritados com a futilidade do exercício. Percebi uma pessoa fingindo um bocejo. Seu balãozinho dizia: Que porcaria é essa?

— Se o trabalho de um time é vencer — falei, incansável —, qual é o principal trabalho de cada um dos membros da equipe?

— Ajudar a equipe a vencer — disse alguém.

— Certo de novo! Todos concordam? Eles confirmaram com a cabeça.

— Eis minha última pergunta: se o principal trabalho de cada um dos membros da equipe é ajudar o time a vencer, e o zagueiro é parte da equipe, qual é o principal trabalho do zagueiro?

— Ajudar o time a vencer — murmurou uma terceira pessoa, intuindo claramente para onde a coisa estava caminhando.

— Sim! — exclamei e apontei para a pessoa que responde

— Por favor, diga mais alto. — Ajudar o time a vencer — repetiu.

— Está bem. Por favor, vejam as horas. Faz 52 segundos desde que começamos essa discussão.

A plateia pareceu intrigada, por isso expliquei:

— Qual é o principal trabalho de um zagueiro? É impedir que o outro time faça gol ou ajudar a equipe a vencer? Vocês todos concordaram com Karen há um minuto que era impedir que a outra equipe marcasse gol. Espero que todos concordem comigo agora que é ajudar a equipe a vencer.

— Qual é a diferença? — perguntou um contrariador.

— Imagine que você é o técnico de uma equipe que está perdendo de um a zero, e faltam cinco minutos para o fim do jogo. O que você diria aos zagueiros?

— Para que fossem para o ataque e tentassem empatar o jogo — afirmou alguém.

— Exatamente! Então como você reagiria se eles retrucassem assim “Foi mal, técnico, mas esse não é o nosso trabalho”?

— Eu os demitiria na hora.

— Por quê? Isso não aumentaria a chance da outra equipe marcar um segundo gol no contra-ataque? Se o trabalho do zagueiro é ajudar o time a vencer, então ir para o ataque é a coisa certa a fazer. Se seu trabalho é minimizar a quantidade de gols contra sua equipe, então é a coisa errada.

As pessoas estavam sorrindo. Eu sentia a maré virar. Fui um pouco mais longe.

— Então qual é o trabalho de um atacante? — Ajudar a equipe a vencer.

— E qual é o trabalho do menino que leva água para os jogadores?

— Ajudar a equipe a vencer.

Algumas pessoas riam, mas não todas.

— Ainda não entendi como isso tem a ver com os nossos trabalhos — disse alguém.

— Em 1961, o presidente John Kennedy foi visitar a sede da NASA pela primeira vez — respondi.

— Enquanto andava pelo lugar, ele se apresentou para um cara que estava esfregando o chão e perguntou-lhe o que ele fazia na NASA. O zelador respondeu todo orgulhoso: “Estou ajudando a levar o homem à lua!”

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Deixei todo mundo absorver a história por um instante. Depois, perguntei:

— Quantos de vocês disseram a seus companheiros “meu trabalho é ajudar a empresa a vencer” no primeiro exercício? Quantos de vocês percebem que seu trabalho principal é ajudar a empresa a atingir sua missão com ética e lucro? Quantos de vocês ouviram seus parceiros descreverem seus trabalhos como “contribuir para aumentar o valor (e os valores) de minha empresa”?

No silêncio não tão glacial de agora, pude ouvir a famosa ficha cair.” 

Elirdes Luz

Técnica em Segurança do Trabalho/ Gestão SMS/Engenharia de Produção

1 a

Que texto perfeito.

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