A liderança emocionalmente inteligente: por que os sentimentos importam na gestão de equipes
Foto por Domingo Alvarez E no Unsplash

A liderança emocionalmente inteligente: por que os sentimentos importam na gestão de equipes

Entender o papel das emoções no contexto organizacional te ajuda a liderar com sucesso e melhorar a performance da sua equipe.

Qual o espaço da emoção nos negócios?

Muito do pensamento tradicional dos negócios é baseado na ideia de que a emoção não tem espaço no trabalho. Que devemos ser racionais em nossas decisões, e que devemos agir em relação ao que é melhor para a organização de forma objetiva, sem necessariamente considerar os sentimentos das pessoas.

Mas, na vida real, sabemos que não é bem assim que funciona. Ignorar sentimentos é uma receita para, individualmente, gerar um burnout e, coletivamente, gerar um ambiente inóspito. Além disso, a emoção é o que nos permite agir da forma que agimos, apesar da racionalidade inerente ao ser humano. E isso é bom. Como disse o ensaísta britânico G. K. Chesterton:

O mundo manteve os sentimentalismos simplesmente porque são as coisas mais práticas do mundo. Elas sozinhas fazem os homens fazerem coisas. O mundo não encoraja um amante perfeitamente racional, simplesmente porque um amante perfeitamente racional nunca se casaria. O mundo não encoraja um exército perfeitamente racional, porque um exército perfeitamente racional fugiria.”

Muitas das atividades inerentes ao mundo corporativo, de motivar equipes a realizar uma compra ou venda, têm elementos emocionais. Ignorá-los e fingir que o homo economicus como definido pelos economistas (a ideia de que o agente econômico sempre age de forma racional) existe de fato é prender-se a mapas que não descrevem bem o território em que vivemos.

Porém, antes de falar de como utilizar as emoções a seu favor, é importante lembrar que elas têm seu lugar. Uma pessoa que simplesmente reage às suas emoções está mal equipada para liderar times, tarefa que exige consistência e sabedoria. Dito isso, me parece que existem quatro principais contextos onde você pode se aproveitar das emoções para liderar melhor:


Para decidir de forma mais eficaz

O quão racionais realmente somos na tomada de decisões?

Sou um defensor ferrenho da racionalidade enquanto disciplina mental. A racionalidade é um dos fatores elementares que nos define como seres humanos, e quanto melhores formos nela, mais capazes somos de agir de forma assertiva no mundo. Como disse Immanuel Kant:

Todo o nosso conhecimento começa com os sentidos, segue para o entendimento e termina com a razão.”

Portanto, pareceria estranho defender o papel da emoção na tomada de decisão, afinal de contas, emoção é um domínio “separado” da razão, certo?

Não necessariamente. Muitas vezes, as emoções geradas por uma decisão são importantes data points que devem ser considerados em um processo decisório. E em decisões realmente relevantes, mais data points são, no geral, muito bem vindos.

Por exemplo, você pode sentir que uma decisão que está sendo tomada é ruim. Mas não sabe descrever exatamente o porquê. Ora, aquele sentimento é um indicativo de mais uma informação adicional a ser considerada. Pode ser que, inconscientemente, sua intuição te aponte para questões que não foram consideradas ainda, apesar de você não conseguir verbalizá-las. Essa é uma excelente oportunidade para profundar no porquê você está com aquele sentimento.

Outra função importante das emoções na tomada de decisões é antecipar a reação de outras pessoas a uma decisão.

Se você acredita que uma decisão pode, pode exemplo, parecer injusta, ou que ela pode deixar as pessoas infelizes, bem, você provavelmente está certo.

É claro que nem sempre você pode agradar as pessoas com as decisões que toma, esses é um dos ônus da liderança. Mas utilizando a empatia para antecipar reações, pode refletir sobre como reagir a uma dada emoção que uma decisão desperta nas pessoas. É claro que pessoas são imprevisíveis, mas somos programados evolutivamente para sentirmos empatia, então é uma boa ideia se utilizar desse mecanismo sempre que possível.

Não estou advogando em prol de tomarmos decisões simplesmente usando as emoções, e sim, que toda decisão relevante pode e deve levar o máximo de informações em consideração, independente se elas se originam no córtex pré-frontal (a casa da racionalidade no cérebro humano) ou no sistema límbico (a casa das emoções).

Em um mundo cada vez mais complexo, devemos equilibrar todas as fontes de informação relevantes que encontrarmos para, aí sim, tomar a melhor decisão.

Para comunicar de forma mais convincente

As emoções também afetam profundamente a forma como nos comunicamos com as pessoas.

Em alguns contextos, é importante manter as emoções em cheque ao se comunicar. Quando se vai proferir um julgamento, por exemplo, o controle das emoções transmite preferência, o que pode ser um problema. E não estou falando necessariamente de um contexto judicial: todo líder vai se deparar com momentos onde precisará mediar conflitos entre pessoas do seu time. Demonstrar emoção em relação a um dos lados pode ser um problema, dado que esse é um contexto onde espera-se algum grau de distanciamento dos líderes para decidir.

Por outro lado, em contextos onde as pessoas precisam ser mobilizadas em direção a algo, a emoção não é apenas útil, mas necessária.

Como executivo, já participei de vários ciclos de construção de estratégias organizacionais. E especialmente por me interessar muito pelo aspecto analítico do ato de planejar, sempre fiz questão de construir planos que fossem racionalmente bem fundamentados: que as premissas fossem baseadas em hipóteses prováveis, que as metas fossem baseadas em análises históricas consistentes. Mas levei algum tempo para aprender que não é porque um plano faz sentido que as pessoas sentem que ele é importante.

Que fique claro: sou absolutamente a favor de planejamentos rigorosos, até porque já construí planos em cima de premissas frágeis (também conhecido como “achismos”) e sei que isso é uma receita para gerar frustrações, em uma hora ou outra. Por outro lado, por mais que rigor analítico aumente o potencial de alcance de uma estratégia, quem alcança objetivos são as pessoas, que precisam estar engajadas com o que estão fazendo.

Por isso, quando se quer convencer as pessoas de se engajarem em uma visão, estratégia, objetivo ou propósito, emoção não é apenas útil, como fundamental. Transmitir a empolgação que você tem em relação a um futuro possível é contagioso, e ajuda as pessoas a se sentirem energizadas para trabalhar em prol daquele futuro.

E além de gerar ânimo e esperança, a emoção cumpre um importante papel de trazer segurança ao time. Toda visão de futuro conta com uma boa dose de incertezas, afinal de contas, o futuro é imprevisível. Emoção é o que ajuda a transformar uma visão improvável em um futuro possível.

Uma comunicação totalmente racional pode ser capaz de convencer, mas não será capaz de engajar.

Para construir relacionamentos entre o time

Já ouvi muitas vezes que uma das razões para se suprimir as emoções no ambiente profissional está na manutenção do “profissionalismo” de um time. Afinal de contas, emoções como raiva e tristeza não têm espaço num ambiente profissional, certo?

A verdade é que criar espaços que engavetam sentimentos em prol de um suposto profissionalismo é a receita para criar um ambiente tóxico. Sem a oportunidade de falar sobre o que sentem, as pessoas ficam cada vez mais pressionadas, e em níveis cada vez mais altos de estresse. Suprimir emoções não faz com que elas sumam, apenas com que apareçam em outros lugares (possivelmente sob a forma de um burnout).

Uma das práticas de liderança mais importantes que já adotei, e que faço questão de falar sobre, é simplesmente adotar encontros individuais frequentes com o time, os famosos 1:1s. Neles, podemos falar de metas, de carreira, do que for, mas a pergunta mais importante talvez seja, simplesmente: “como você está se sentindo”. Ter a oportunidade de colocar emoções para fora já ajuda as pessoas a se sentirem incluídas, além de fortalecer relações de confiança. Se você está em um espaço onde sabe que terá segurança para compartilhar o que sente, tudo fica mais fácil.

Outra estratégia inteligente para utilizar as emoções para construir relações melhores no seu time é promover oportunidades para que as pessoas se conheçam melhor. Uma das práticas de teambuilding mais poderosas que existe é simplesmente a contação de histórias: criar espaços (idealmente momentos externos, como imersões de time), e pedir para que as pessoas contem suas histórias. Ao conhecer as histórias das pessoas, ao sentir um pouco o que elas viveram, é muito mais fácil desenvolver empatia e confiança por elas. Além de fortalecer o relacionamento entre as pessoas, ajuda a trazer contexto para as relações: quando você conhece a história de alguém, fica mais fácil entender porque ela reagiu de tal forma a uma situação, e a exercitar a compreensão em relação ao que te incomoda.

Para inspirar, um líder não precisa necessariamente de discursos fascinantes, apenas de espaços que permitam com que as pessoas sejam elas mesmas.

Para seus pensamentos manter sob controle

Por último, vale falar que trazer as emoções para o ambiente profissional também é uma forma de treinar para quando for necessário lutar contra elas.

Estudos comprovam que quando seu sistema límbico (a casa das emoções no cérebro) fica excitado, os recursos disponíveis para o córtex pré-frontal (a casa da racionalidade) diminuem. Outros estudos comprovam que a recíproca também é verdadeira, quando você engaja mais o córtex pré-frontal, você diminui a excitação no sistema límbico. Ou seja, racionalizar é uma forma de controlar os sentimentos.

Em um importante estudo de 2005, neurocientista Matthew Lieberman, professor associado da UCLA, conduziu importantes pesquisas sobre rotulagem de emoções (o método desenvolvido a partir da conclusão que apresentei acima). Lieberman e seus colegas perceberam que quando somos capazes de rotular (ou seja, dar nomes) ao que estamos sentindo, somos muito mais capazes de diminuir o efeito daquela emoção na nossa mente. Por exemplo, é mais fácil diminuir nossa raiva quando ao descrevemos que estamos com raiva. Dar nome às emoções nos ajuda a controlá-las.

Isso é útil especialmente em situações de incerteza, complexidade e mudança, como as que somos cada vez mais sujeitos no século XXI. É impossível controlar o que acontecerá conosco no ambiente profissional, assim como é impossível controlar como nos sentiremos em relação aos acontecimentos. Raiva, tristeza, frustração, surpresa, são todos elementos que estarão presentes em nossa vida profissional, querendo ou não.

Portanto, aprender a controlar esses sentimentos e não ser escravo deles é fundamental, pois especialmente em situações na qual precisamos exercitar o máximo da racionalidade (como em uma decisão estratégica), não podemos nos dar o luxo de decidir a partir da raiva, por exemplo. Dessa forma, aqui está uma técnica importante: usar algumas palavras para descrever uma emoção ativa seu córtex pré-frontal, o que reduz a excitação no sistema límbico. Ou seja, descreva uma emoção em uma ou duas palavras e isso ajudará a reduzir a emoção.

Porém, aqui vale destacar o seguinte: para ser capaz de descrever uma emoção, você precisa conseguir nomeá-la. Desenvolver um amplo vocabulário de sentimentos, nesse contexto, torna-se uma ferramenta de gestão emocional. O Instituto CNV Brasil, que divulga os preceitos da Comunicação Não Violenta no país, publicou uma ótima lista de sentimentos, que nos ajuda justamente a dar nome para o que sentimos. Quando somos capazes apenas de descrever se estamos “bem ou mal”, é muito mais difícil utilizar-se das práticas que rotulagem como as que descrevi acima.


A ideia de que as emoções não têm espaço no contexto organizacional é antiga, e merece ficar no passado. Antigamente os resultados eram fruto apenas de esforço repetitivo e, por conta disso, achava-se que as emoções atrapalhavam o trabalho. Hoje, em um contexto onde paixão e criatividade são fundamentais para entregar resultados exponenciais, as emoções podem, e devem, ser bem vindas.

Cabe aos líderes emocionalmente inteligentes aprenderem a utilizar isso ao seu favor, utilizando o que há de melhor no amplo espectro de emoções humanas, sem abrir mão de sua capacidade de pensar racionalmente. Emoção e razão não são opostos, apenas dois lados da mesma moeda.


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Vivian Profeta de Albuquerque

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Founder | Tech Lead | Software Engineer | Software Architecture | Full Cycle

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Lonie Fonseca

Entrepreneur | Owner at Açaí no Kilo Periperi | "Make it happen"

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