Liderança espiritual

Liderança espiritual

O que espiritualidade tem a ver com o mundo dos negócios? Se você está por dentro da evolução da liderança ou quer simplesmente gerar melhores resultados para a sua organização, a resposta é simples: tudo.

Antes de continuar, vale explorar um pouco o conceito de espiritualidade em si. A primeira coisa que quero deixar claro: Espiritualidade não tem nada a ver com religião.

Sim, as duas coisas são muito diferentes, e é muito difícil encontrar consenso nos seus significados. Talvez as definições com mais adeptos sejam estas:

Religião é um sistema de protocolos, rituais e crenças, restritos ou abertos, que formaliza a relação de um grupo com uma fé específica e compartilhada entre estas pessoas.

Espiritualidade pode ser definida como uma relação com aquilo que é do espirito humano.

Ou seja, esta última definição trata de algo muito mais abrangente. Entre aquilo que pode ser qualificado como espiritualidade estão, por exemplo, compaixão, tolerância, harmonia com o ambiente, responsabilidade pessoal e social, humildade, empatia, veracidade, justiça e comprometimento.

É aqui que muita gente me interrompe e diz: “Isto tudo é muito bonito, mas, na vida real, as organizações só pensam em lucro...nada mais. ”

Spoiler: Se você é uma destas pessoas (como eu já fui), vai se decepcionar com a sequência deste texto.

Segundo Louis Fry, pesquisador organizacional e PhD pela universidade do Texas, Liderança espiritual envolve motivar e inspirar colaboradores através de uma cultura corporativa baseada nos valores da espiritualidade, para desenvolver uma força de trabalho altamente motivada, comprometida e produtiva.

E é o que vemos nas empresas que adotam tais valores: Times mais comprometidos em torno de uma visão compartilhada e admirada, mais motivados, mais satisfeitos e determinados à gerar bons resultados para todos, incluindo para si.

Este último ponto é especialmente importante. Nas últimas décadas reinou um mundo corporativo claramente egocêntrico, criando sistemas distorcidos, que recompensam resultados individualistas quase à qualquer preço. É o famoso “ Faz o seu, que eu faço o meu”, no qual pessoas e grupos colhem frutos individuais “positivos”, enquanto geram consequências negativas para o todo. O problema é que esquecemos que não somos 100% autônomos e vivemos dentro deste mesmo “todo”.

Aqui eu poderia dar os mais diversos exemplos. De empresas que continuam poluindo o meio ambiente para não comprometer seus lucros, cujos dirigentes respiram este mesmo ar contaminado, passando por políticos ou empresários que roubam da própria sociedade na qual vivem seus filhos e netos, ou simplesmente um chefe que maltrata seus funcionários, só por que ele também foi maltratado na sua época.

É o paradoxo descrito pelo chefe do departamento de desenvolvimento humano do MIT, Otto Scharmer. Segundo ele, vivemos num sistema egocêntrico, no qual pensamos apenas no bem-estar individual, coletivamente gerando resultados que ninguém quer. Ainda segundo Scharmer, os resultados que queremos (individuais e coletivos) serão frutos da atitude ecocêntrica, onde pensamos no bem-estar de todos, incluindo o nosso próprio.

Liderança espiritual envolve motivar e inspirar colaboradores através de uma cultura corporativa baseada nos valores da espiritualidade, para desenvolver uma força de trabalho altamente motivada, comprometida e produtiva.

Tudo isso impacta – e muito – a performance de uma organização, já que os valores e princípios ajudam a determinar o comportamento profissional de uma pessoa (e uma organização nada mais é do que um grupo de pessoas).

Quando falamos de liderança, o impacto é ainda maior. Líderes são corresponsáveis por criar e sustentar a cultura de uma empresa que, por sua vez, influenciará a maneira que as coisas serão feitas por lá. Culturas que favorecem pensamento individualista (ou com pouca espiritualidade, de acordo com a definição que ofereci no início deste texto), correm mais risco de gerarem comportamentos desonestos, deceptivos e gananciosos. Alguns exemplos disso são empresas como Enron, WorldCom, Odebrecht, JBS, Lehman Brothers, para citar só alguns.

Obviamente a maioria das empresas ainda opera de forma egocêntrica, basicamente por que não se muda uma realidade de décadas, em poucos anos.

Mas tudo isso está mudando mais rapidamente do que se esperava.

 Cada vez mais clientes priorizam produtos e serviços de empresas ecocêntricas e colaboradores buscam ambientes corporativos com valores ligados à espiritualidade (por mais que, muitas vezes, usem outras palavras para descreve-los). É o que o mercado chama de “Triple bottom line” (em inglês, resultado final triplo, que se refere à Lucro, Pessoas e Planeta) ou até de capitalismo consciente.

As organizações que apostam nisso, estão saindo na frente. Como se não bastasse oferecerem produtos e serviços que contribuem de alguma forma para a sociedade, elas também viram seu faturamento aumentar. Além disso, colhem frutos diversos como melhor imagem de marca e clientes mais fiéis. Internamente, os resultados são também expressivos.

Organizações que adotam liderança espiritual (ou ecocêntrica), apresentam melhores níveis de acerto nas suas decisões, menor turnover, menor desperdício de recursos, maior produtividade laboral e maior comprometimento dos seus colaboradores.

Obviamente, tudo isso tem um impacto positivo direto nos seus lucros atuais e futuros, perpetuando esta dinâmica positiva para todos.

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*Paulo Aziz Nader  é sócio da Inniti. É também Coach profissional, certificado pelo Integral Coaching Canada™, pelo Behavioral Coaching Institute (BCI) e pela International Coach Federation (ICF) da qual é membro afiliado. Bacharel em Administração de Empresas e gestão internacional de negócios pela ESPM e mestre em desenvolvimento organizacional pelo INSEAD (Fontainebleau), tem em seu currículo passagens por empresas de grande porte como Microsoft e Facebook. Possui extensões em Leadership & Management pela Harvard University e em Change Management pelo MIT Sloan; é membro afiliado do Institute Of Professional Coaching (IOC), órgão afiliado à Harvard Medical School; e membro convidado da International Society for the Psychoanalytic Study of Organizations (ISPSO).

Paulo Aziz N.

Partner @ Amrop Brasil | Executive Search Consultant & Board Member

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