Liderança Espiritual: a liderança que mudará o mundo?
Muito já se falou sobre o QI, coeficiente de inteligência. Depois, veio o QE, coeficiente emocional. Agora, é tendência falar da inteligência espiritual.
Mas o que é isto da inteligência espiritual?
Desengane-se quem pense que a inteligência espiritual é sinónimo de religião. Trata-se tão somente de atingir um patamar de desenvolvimento pessoal em que compreendemos que fazemos parte de algo maior do que nós mesmos, mesmo que não saibamos o que esse “algo” é. Sabemos que ao desenvolvermos o nosso lado espiritual, estamos cada vez mais em contacto com o bem: mais solidariedade, mais altruísmo, mais boa-vontade, mais filantropia, mais “dar sem querer algo em troca”.
Aquele que possui uma inteligência espiritual desenvolvida, está fortemente comprometido com os outros, com as pessoas que vivem à sua volta, com a sociedade e, em última análise, com o mundo. É uma pessoa consciente do seu significado no planeta, da sua pegada ecológica, da sua contribuição para a comunidade onde vive.
Um líder que desenvolva a sua inteligência espiritual terá certamente atitudes que vão muito além do sucesso e do lucro. Se um dos principais papeis do líder é cuidar da organização onde trabalha e das suas pessoas, o líder espiritualmente inteligente vai proteger os seus recursos humanos e materiais com base na igualdade, na promoção da saúde e do bem-estar, na ética e na responsabilidade. As suas preocupações estão muito além da assiduidade, pontualidade e produtividade dos seus colaboradores. Estão no desenvolvimento das suas competências profissionais e pessoais, nas suas necessidades familiares e conjugais e na promoção de diálogos construtivos e disruptivos entre os colaboradores e as organizações.
Conheci um Administrador de uma empresa que resolveu acabar com a frota de veículos de serviço que tinha atribuída a vinte dos seus cem colaboradores. Em alternativa, ofereceu a todos os cem e a cada um dos membros dos seus agregados familiares uma bicicleta, assim como acessórios e seguro, além do passe-social. Adquiriu também 5 veículos eléctricos que vão rodando, mediante reserva, pelos colaboradores que deles necessitem e que podem ser utilizados também ao fim-de-semana.
No início, os vinte colaboradores que usufruíam da frota de viaturas não aceitaram bem a ideia. Afinal de contas, estavam a retirar-lhes um benefício que já davam como garantido. Mas a abordagem deste líder foi inteligente, emocional e espiritual: retirou um benefício mais ofereceu três; deixou de oferecer uma benesse apenas a vinte e passou a disponibilizá-la a mais de cem; pensou no planeta e no impacto ambiental de vinte viaturas a diesel em comparação com 100 bicicletas, transportes públicos e 5 carros eléctricos. Quando lhe perguntei a motivação para esta iniciativa, respondeu-me: “cada vez mais me insurjo contra as práticas que devastam o planeta, que maltratam as espécies em extinção, que promovem o consumo dos já escassos recursos, que fomentam desigualdades. Tudo isto mata a sociedade, mas mata também o ambiente nas empresas. Um líder tem de pensar nas suas pessoas, não só naqueles que estão em cargos de responsabilidade e que comummente têm mais benefícios, mas também em todos os outros elementos da empresa e acima de tudo nas famílias de todos eles. Eu não quero ser um líder cumpridor de objectivos, quero ser um líder que fomenta causas”.
Entendi naquela nossa conversa que a inteligência espiritual transforma líderes comuns em visionários. Corporativos de fato e gravata em verdadeiros ícones.
Será este o tipo de liderança que mudará o mundo?
Carla Soares, Coach de Carreira