LIDERANÇA NÃO É CARGO, É OFÍCIO

By Patricia Lira

>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> CENÁRIO 1 <<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<

Uma empresa do varejo que trata os funcionários com descaso, em algumas situações até de forma pejorativa, com a gerência desprovida de qualificação ou habilidade com gestão de pessoas. Seguem algumas das colocações que eram feitas pelo gerente e “aceitos” pelos proprietários da seguinte forma:

1-     O FUNCIONÁRIO SOFREU UM ACIDENTE OU FICOU DOENTE E IMPOSSIBILITADO DE TRABALHAR...

É muita desocupação de um ser humano. Se faz de doente pra ficar em casa recebendo dinheiro da empresa e do governo...

2-     ATRASOS – Ao chegar com atraso, seja por algum imprevisto ou acidente no trânsito, a cena era o gerente na porta batendo com o dedo indicador no relógio com a expressão de dono da verdade.

3-     METAS – A motivação era dada pela seguinte frase: Você não bateu meta ainda? Olha, caso você não saiba, tem um fila de desempregados para ocupar sua vaga...

4-     FALTA DE RECONHECIMENTO E HORAS EXTRAS NÃO REMUNERADAS PELOS DOMINGOS E FERIADOS – Estão reclamando do que? Vocês sabiam que existem muitas pessoas desempregadas que gostariam de receber o que vocês recebem?

5-     O FUNCIONÁRIO ERA CONSTRANGIDO NA FRENTE DO CLIENTE - Realmente, Sr. Cliente, o senhor tem razão... Estamos cercados de incompetentes...

6-     O FUNCIONÁRIO ERA CHAMADO NA FRENTE DOS COLEGAS

Enfim, a lista poderia continuar...


>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> CENÁRIO 2 <<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<

Outra empresa do varejo, com gestão qualificada, que detém uma cultura organizacional com outro nível de gestão. Vejamos as mesmas situações:

1-   O FUNCIONÁRIO SOFREU UM ACIDENTE OU FICOU DOENTE E IMPOSSIBILITADO DE TRABALHAR...

Todo o processo é acompanhado de perto de DP/RH/DHO

Sim, saberão avaliar se existe má fé no processo de afastamento.

2-   ATRASOS – O funcionário bate ponto e ao fim do mês é avaliado no item pontualidade.

Sim, se houver um imprevisto o funcionário deve comunicar seu gestor imediato.

3-   METAS – Era realizada uma reunião todos os dias antes de abrir a loja, na qual eram passadas as metas mensais e diárias. Ações estratégicas eram seguidas e os resultados compartilhados com toda a equipe. Se a meta não fosse atingida, mudava-se a estratégia e trabalhava-se o fator humano da equipe.

Sim, o funcionário deve se esforçar pra bater as metas da empresa.

4-   FALTA DE RECONHECIMENTO E HORAS EXTRAS PELOS DOMINGOS E FERIADOS – Almoço, Coffee Break, Destaque na Reunião, Folga.

5-   O FUNCIONÁRIO ERA CONSTRANGIDO NA FRENTE DO CLIENTE – O gerente tomava a frente do conflito e após a resolução do problema, existia um diálogo entre o gerente e o seu colaborador pra entendimento do caso e preparo pra situações futuras.

E sim, “quase sempre” o cliente tem razão.

6-   O FUNCIONÁRIO ERA CHAMADO NA FRENTE DOS COLEGAS – Existia uma cultura de humanização da mão de obra. Entendia-se que cada colaborador tinha uma vida além das paredes da empresa. Entendia-se que gritar, expor, punir, e julgar humilhar o colaborador não ajuda na produtividade da equipe. Claro que existem os adeptos da alta rotatividade, mas ninguém é perfeito. Os custos de treinamento e adaptação podem ao final das contas, sair mais caros que a adoção de políticas internas pra DHO.

Enfim, a lista poderia continuar...

É claro que existem pessoas que se utilizam desses processos de desenvolvimento, que tiram proveito e prejudicam as empresas que os contratou. Mas esses não vestem a camisa. São logo percebidos, logo vão embora. O que não pode é a conta ficar pra aqueles que querem caminhar e crescer junto com a empresa. Não estou defendendo ou justificando a incompetência na entrega dos resultados.

Não estou levantando a bandeira de que um funcionário não deve ser acompanhado de perto, ser chamado a atenção ou ser disciplinado por algo de errado que tenha feito. Defendo a ideia de que antes de alguém ser um funcionário ou colaborador, ele é um ser humano e que é desnecessário perder sua dignidade humana para qualquer “chefia” que seja. Defendo a ideia de que pra tudo, existe um processo e que para cada processo existe uma razão.

Existem sim, chefes espalhados por aí que precisam rever seus conceitos, tratar suas próprias patologias (físicas, emocionais e profissionais) para somente então trilharem os dormentes da liderança, extraindo de sua equipe o melhor resultado que ela tem a oferecer.

Sou resultado de uma gestão enérgica e impactante. Mesmo após tantos anos de palestras, treinamentos e outras experiências, estas duas experiências são referências profissionais para mim. Foi transformador ser gerenciado pelas gigantes da gestão pessoal do cenário 2, me deram outro mindset, mudaram minha visão a respeito do perfil de uma gestão voltada pra o desenvolvimento humano nas organizações.

Sim, também existem bons e maus funcionários, mas esta será outra postagem.

SLZ/MA, 20/03/19

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