Lucas Dourado de Almeida

Entre trancos e barrancos, a realidade rotineira do jovem negro e de periferia

A história de um jovem negro de quebrada somente é parecida com a história de outro jovem negro também de quebrada, pois são tão parecidas que chegam a ser clichê.

A minha história não se difere dessa realidade, a vida me deu tantos apuros, como insegurança alimentar e dificuldade financeira. Fui criado por uma mulher que me ensinou a ser homem e por incrível que pareça perdi essa mulher aos meus 24 anos de idade sem ao menos me despedir como gostaria.

Costumo dizer que viver em tempos sombrios nos faz diferentes, nos promove conhecimento e aptidão aos cenários mais difíceis da vida. Por mais que tenha doído passar por tudo isso que passei, serviu-me como fator motivacional mudar essa realidade através do conhecimento, afinal sempre ouvi de minha mãe: " Filho se você quer ser alguém na vida, estude."

Investir em conhecimento foi um dos atos mais espetaculares da minha vida, isso moldou ainda mais meu caráter, que fora construído por aquela mulher que citei inicialmente, me colocou em lugares melhores (onde um preto jamais poderia estar estatisticamente falando), me fez conhecer pessoas incríveis e a me conhecer melhor também. Com isso aprendi muito e pude ensinar pessoas que tiveram sua capacidade de pensar deturbada por uma cultura racista.

Hoje aos meus 28 anos de idade, realizei um dos meus maiores objetivos profissionais, certifiquei me em uma das melhores escolas de inglês de São Paulo com nível avançado, graduei-me novamente em Engenharia, recebi o título de especialista em Gestão de Projetos pela melhor Universidade de São Paulo e agora tenho me dedicado a conseguir iniciar meu projeto de mestrado, onde meu foco é ajudar as pessoas da favela a lidar melhor com seu capital. O fato de querer uma favela mais rica não está atrelado ao ganho ou acumulo de capital, mas sim as oportunidades que este feito irá proporcionar, imagine um preto favelado ser digno de frequentar uma das melhores universidades do Brasil sem depender de programas de cotas, pois infelizmente estes programas não nos colocam em todos os lugares que gostaríamos de estar, eu nunca vi um programa de cotas que promove a ida de crianças pretas e faveladas ao Parque da Disney por exemplo.

Muitas pessoas me consideram jovem demais, apesar de eu me considerar velho demais para resolver tantas coisas que gostaria em nossa sociedade, mas enquanto me houver a capacidade de emanar ar por meus pulmões, continuarei contrariando as estatísticas daqueles que desenharam um futuro totalmente diferente para mim, se eu consegui chegar onde cheguei, o restante da matilha ou de meu povo também são capazes.