No mês da primeira infância, precisamos olhar para a saúde das mães
Não há como oferecer condições para o desenvolvimento pleno de uma criança se quem cuida dela não tiver suas necessidades atendidas. Os cuidados que envolvem o começo da vida se iniciam ainda na gravidez, esse é um dos motivos do indicador de mortalidade materna ser tão importante. O indicador resume uma série de eventos no acesso à saúde das mulheres ao longo de sua maternidade, que têm impactos em suas vidas e na vida das crianças. Como a maior parte das mortes por mortalidade materna é evitável, a morte de uma mulher não é apenas uma tragédia pessoal, mas também um claro reflexo de sua posição na estrutura social, considerando que fatores como raça, classe social e origem estão intimamente ligados a esse indicador.
Os números brasileiros mostram que a mortalidade materna entre mulheres negras é quase o dobro da média geral, estando entre as principais causas a hipertensão, hemorragia pós-parto, sepse e abortos inseguros. Se mulheres brancas e pardas contabilizaram 64 mortes, por cada 100 mil nascidos vivos em 2022, o índice para mulheres pretas atingiu 125,8 no período, dados de uma pesquisa da Unicamp, com base em dados do Ministério da Saúde.
O Brasil estabeleceu a meta de reduzir a mortalidade materna para 30 mortes por 100 mil nascidos até 2030. Internacionalmente, a OMS pretende reduzir a taxa global para 70 mortes por 100 mil nascimentos até 2030, mas atualmente a previsão passa longe desse objetivo. A cada dois minutos uma mulher morre durante a gravidez ou parto, com a maioria dessas mortes ocorrendo em países em desenvolvimento. Enquanto isso, países desenvolvidos já conseguiram baixar esse número trágico para uma média de 9 mortes, a cada 100 mil nascimentos.
No estado de São Paulo, a razão de mortalidade materna caiu em 2022 na comparação com os dois anos anteriores, mas ainda está distante da meta nacional. Algumas cidades do estado apresentaram taxas de até 73%, indicando desigualdades no acesso à saúde dentro do próprio estado. Essas disparidades também nos mostram que há muito o que ser feito para cuidar melhor de nossas crianças e mães. Os números justificam por que as políticas públicas focadas no acesso equitativo aos cuidados de saúde são tão importantes, especialmente em contextos vulneráveis.
O investimento direto no desenvolvimento da criança é complementado pelo investimento nos pais e no contexto familiar. A qualidade da educação, saúde e assistência na primeira infância deve incluir orientação aos pais, programas de visitas domiciliares, apoio às mães adolescentes, acesso ao pré-natal de qualidade e maternidade e hospitais com protocolos para partos de alto risco com equipes e infraestrutura adequadas. Medidas que cuidam das mães e apoiem a parentalidade são fundamentais, pois incluem e integram as crianças no sistema de direitos e serviços públicos. Para cuidar de nossas crianças, é preciso se preocupar com todos que estão ao redor, criando melhores condições de vida para todos nós.