Mad Men da Praça da República

Sei que é um assunto que interessa apenas publicitários e mesmo assim, apenas aqueles com idade suficiente para saber quem ele era. Mas Alex Periscinoto morreu ontem, aos 95 anos. De covid 19. Esse foi o publicitário que inaugurou a propaganda criativa no Brasil, uma maneira de ver propaganda de forma exuberante, de privilegiar raciocínios inteligentes, humor sofisticado, execuções profissionais. Claro, ele não foi o único. Seria injustiça dizer isso. Duailibi, Petit, Zaragoza, Hans Dammann, Ercilio Tranjan, Sérgio Graciotti e alguns mais que com certeza cometo a injustiça de não lembrar, se tornaram os Mad Men do Brasil praticamente na mesma época. Só que revolucionaram a nossa propaganda na Praça da República, na Paulista, na Praça Roosevelt e na Rua Sete de Abril ao invés de ser na Madison Avenue. E Alex foi o primeiro a ganhar notoriedade, deixar de ser conhecido apenas no mercado e por isso muitos atribuem a ele a invenção da profissão de "criativo". Ele também foi o responsável por implantar no Brasil o formato de "Duplas de Criação", onde um Diretor de Arte e um Redator formam um time para criar juntos campanhas publicitárias. Antes disso, havia um departamento de redação e um departamento de arte que algumas vezes não ficava nem no mesmo andar do prédio de uma agência. Isso foi algo que ele viu em Nova York, na DDB de Bill Bernbach (dá um google se não sabe quem é) e que implantou aqui na sua Almap. Pois é, ele fundou a Almap, que ainda está por aí e cuja sigla já foi Alcantara Machado Publicidade e mudou para Alcantara Machado Periscinoto quando ele se tornou sócio. Já vi gente mais jovem achando que era Al de Alê Gama e Ma de Marcelo Serpa com P de Publicidade. Juro. A ignorância da juventude rende pérolas assim. Por isso é importante que a gente que é mais velho seja chato e corrija e se possível conte um pouco a história desse negócio em que a gente trabalha. Eu nunca trabalhei com o Alex, mas trabalhei com muita gente que trabalhou com ele e ouvi muitas histórias. Umas melhores, umas piores, umas tristes, a maioria hilariante. A gente passa, a propaganda fica, pelo menos por enquanto.

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