Uma história sobre o Magalu e Victor Hugo.

Uma história sobre o Magalu e Victor Hugo.

Há oito anos atrás, fui trabalhar na agência que atendia o Magazine Luiza, que tinha acabado de mudar sua sede para São Paulo, vinda de Ribeirão Preto/Franca, tal como o cliente tinha acabado de fazer. A operação foi montada no prédio que então ocupava também a Editora Globo, só que alguns andares abaixo. Era um dos antigos prédios da Cooperativa Agrícola de Cotia, já há muito defunta, e ficava ali no Jaguaré, perto da ponte que dava acesso ao Parque Villa Lobos. Aquela era uma zona industrial, cheia de galpões, muitos deles abandonados e olhando da rua era dificil de acreditar que ali funcionava uma das maiores editoras do Brasil e uma grande agência de publicidade. Mas era verdade. E mais: o escritório da Etco-Ogilvy, a agência, era lindo. Moderníssimo, muito bem decorado, funcional, e sobretudo, muito grande. Lá dentro, sem olhar pela janela, você podia pensar fácilmente que estava numa das torres da Faria Lima, ou no prédio do Google. Quem me levou pra lá, me tirando de uma conta de automóveis que eu atendia em uma outra grande agência, foi meu amigo Tião Bernardi, que também tinha acabado de assumir como VP de Criação da Agência e me queria como seu dupla na coordenação criativa de um belo time, que já estava todo formado. Outros talentos se agregariam a esse time um pouco depois, mas isso é uma outra história. O fato é que tudo era novidade naquele momento e não apenas para mim. A conta estava em transformação, caminhando para a digitalização. O cliente gostava (e ainda gosta, me parece) muito de novas tecnologias. E estava criando novos produtos e novos serviços. E tinha uma identidade visual nova. E São Paulo era uma novidade na vida de boa parte dos profissionais do cliente e da agência. E a conta era novidade para mim e para o Tião, embora não fosse para todo mundo da agência. Mas enfim, “novidade” era a ordem do dia. E inovar era algo que nós dois nos propusemos a fazer desde o inicio. Não era possível fazer isso em todos os jobs, claro. Algumas vezes a gente tinha que trabalhar com algo realmente inovador como o MagazineVocê, uma das primeiras, se não a primeira, plataforma de social e-commerce. Mas a gente também tinha que dar conta de coisas como “Festival de Colchões”, afinal era uma grande rede de varejo. Numa dessas, estava criando uma promoção para um desses festivais que deveria ter um logo promocional e comecei a discorrer com o Tião como o logo “magazineluiza” (assim, tudo junto mesmo) era complicado de usar por ter muitas letras e não poder ser dividido. Que era sempre uma tripa para colocar em tudo quanto era composição e que seria muito melhor se o nome fosse mais curto, como “magalu”. Ele adorou a ideia. Eu providencei um layout rápido do “novo logo” e o Tião me pediu que fosse dividir a ideia com as lideranças da agência, pois ele achava que isso era um job de design e que eu devia apresentar a ideia.Fui. Duas das três diretoras simplesmente não gostaram. Uma delas, na verdade, detestou. Mas eu defendi a ideia. Disse que estava convicto que era uma boa ideia e que era um ótimo momento para apresentar, afinal eles estavam mudando tudo na marca. Então ela se irritou e ouvi de tudo ali. Que aquele era o nome da companhia e com isso não se mexia. Que era o nome da tia da Luiza Helena Trajano. que tinha fundado a empresa nos anos 1950 e que jamais iam tirar o nome da tia. Que apresentar isso ia causar um desgaste com o cliente. Que eles eram muito conservadores com isso. Que o que eu estava propondo era como se chegasse para a Coca-Cola e falasse para eles mudarem o nome nas garrafas para “Coca”. E então eu argumentei que a Coca-Cola americana tinha feito exatamente isso há muito tempo, que eles também assinavam muita coisa como “Coke” e então ela ficou ainda mais irritada e me disse que aquela era a pior ideia que ela já tinha ouvido na vida. Estranhamente, a Diretora-Geral da agência, que também era da família Trajano, simpatizou de cara com a ideia e não via nada de mais em apresentar. Mas a que tinha detestado e a outra que apenas não tinha gostado começaram uma longa conversa pra cima dela também e acabaram por deixá-la com dúvidas e a convencê-la a “guardar a ideia” para uma outra ocasião, pois agora não era o momento. Na prática, mataram a ideia. Ao saber do resultado dessa reunião, o Tião ficou furioso e começou uma discussão acalorada com aquela tal diretora que detestara a ideia, a primeira de muitas que teriam. E o Magazine Luiza continuou a usar o logo magazineluiza por todo o tempo em que atendi a conta, uns três anos, e por muito tempo depois disso. Então, no ano passado comecei a reparar que aqui e ali comecei a ouvir na mídia menções à “magalu” sendo usado como nome e assinatura de campanhas. E hoje me parece que isso é plenamente vigente e que inclusive tornaram isso um logotipo. Claro, alguém deve ter tido o mesmo problema que eu com aquele logo comprido. Ou com o nome, sei lá. Eu honestamente não sei se a ideia nasceu na agência, dentro do cliente ou da familia e não me interessa. O fato é que alguém apresentou, alguém aprovou e hoje é um nome vigente e o cliente vai muito bem com ele. E isso me lembrou de Victor Hugo, o grande escritor francês do século XIX, conhecido pela maioria como autor de Les Miserables, o livro que deu origem ao musical que lota teatros. Vitor Hugo tem uma frase que diz assim: “Nada é mais poderoso do que uma ideia cujo tempo chegou”. O tempo de “Magalu” chegou. E tenho certeza que quem achava essa a pior ideia que já tinha ouvido na vida, hoje pensa diferente.

Ricardo Brasil

I'm GAVA! - Creator | CMO | Content and Growth!

11 m

Tem no Magalu!

Renata Bellíssimo

Coordenadora de Compras | Especialista em Compras Estratégicas | Inteligência de Compra | Strategic Sourcing | Gerenciamento de Equipe | Relacionamento e Atendimento | Resolução de Problemas.

4 a

você é demais, Toni!! Muito orgulho em ter vivido profissionalmente o mesmo tempo que o seu e ter presenciado a sua arte junto ao Tião! Muitas saudades!!

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