Mad Skills: o poder de seus hobbies em uma entrevista de emprego
Subindo a Avenida Brigadeiro Luís Antônio durante a corrida de São Silvestre em 2013

Mad Skills: o poder de seus hobbies em uma entrevista de emprego

Mad Skills é um termo que vem ganhando espaço no dia a dia dos recrutadores. As "MAD Skills" referem-se a qualidades desenvolvidas através de hobbies, como esportes ou artes, ou até mesmo experiências significativas, como uma viagem impactante ou uma doença. 

Tais habilidades podem ser valiosas no ambiente de trabalho, especialmente em momentos de crise, quando o pensamento criativo pode ser um diferencial para o progresso de uma equipe.

Segundo uma pesquisa da consultoria Robert Half, as habilidades ligadas aos hobbies e interesses pessoais dos candidatos podem, por exemplo, indicar equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, ou revelar um profissional com habilidades complementares. 

De acordo com o levantamento, 66% dos recrutadores atribuem grande importância a essas habilidades ao avaliar candidatos, e 17% as consideram relevantes para a área de atuação do profissional.

Entender a conexão existente entre nossos hobbies, paixões e o desenvolvimento de habilidades requeridas no universo corporativo pode ser o diferencial na busca pelo próximo emprego. Esta compreensão pode ajudar você a falar sobre seus destaques em uma entrevista de emprego e acelerar sua recolocação profissional. Quer saber como? Então vem comigo. 

Indo além das Soft Skills

Diferente das "hard skills" (habilidades profissionais frequentemente representadas em currículos através de certificados ou diplomas) e das "soft skills" (qualidades humanas como adaptabilidade ou empatia), as “mad skills” ajudam entrevistadores a diferenciar candidatos e contratar aqueles que se destacam.

Outra pesquisa de 2019 publicada pelo Indeed mostrou que 68% dos recrutadores dão atenção especial a "experiências pessoais e hobbies" ao avaliar currículos. O interesse é tão grande que empresas como Capgemini e BMW têm substituindo entrevistas tradicionais por jogos de escape ou corridas de carro. A crise da Covid-19 acelerou essa tendência: em um mundo onde o caos é predominante, a "loucura" se torna um ativo essencial para a reinvenção.

Uma pessoa que faz parte de um grupo de teatro, por exemplo, provavelmente consegue desenvolver melhores habilidades de comunicação e oratória. Como fruto desta atividade de lazer, é possível que essa pessoa consiga realizar apresentações de alta qualidade. 

Outro exemplo pode ser a experiência de viver como expatriado em um país com uma cultura distinta da sua. Enriquecido por essa aventura, o candidato provavelmente saberá pensar fora da caixa e assumir riscos.Essa reflexão também pode fazer muito sentido para pessoas que conseguiram viver um período sabático e estiveram expostas e experiências que transformam nosso modo de ver a vida. 

Hobbies como uma fortaleza para a carreira

Refletindo sobre o poder das mad skills na minha jornada profissional, percebi que os meus hobbies e paixões também foram decisivos para meu crescimento e sucesso. Escolhi três paixões para explorar neste artigo e conectar com as habilidades que consigo transportar para o ambiente profissional. 

A paixão pela leitura e a escrita terapêutica 

A paixão pela leitura e o hábito de escrever diários, embora possam parecer atividades pessoais e introspectivas, têm um impacto profundo no desenvolvimento de habilidades essenciais para o sucesso no ambiente profissional. 

A leitura sempre me ajudou a desenvolver um vocabulário amplo e ter facilidade com a comunicação escrita. No vestibular, a paixão que carregava desde a infância ajudou a ter notas espetaculares na redação. No trabalho, ajudou na construção de e-mails e títulos atraentes, capazes de despertar o interesse do leitor. Esse hobby também me ajuda muito a produzir conteúdo aqui no LinkedIn, trazer discussões relevantes e fazer parte de debates produtivos. Essa mesma paixão tem me feito pensar que posso um dia escrever um livro e compartilhar minha história com maior riqueza de detalhes. 

Nos parágrafos a seguir procuro correlacionar habilidades que essas duas paixões, a leitura e a escrita, agregam para a Tati profissional 

Comunicação eficaz: a leitura amplia o vocabulário e melhora a gramática, enquanto escrever diários me ajuda a articular pensamentos com clareza. Ambos os hábitos contribuem para aprimorar a capacidade de comunicar ideias de forma eficaz no trabalho.

Na varanda de casa, sempre acompanhada de um livro, um moleskine e uma xícara de café


Capacidade analítica: a leitura de diversos gêneros e temas ajuda a desenvolver um pensamento crítico e analítico. Ao analisar tramas, personagens e argumentos, consigo afiar minha capacidade de avaliar situações profissionais e tomar decisões.

Empatia e compreensão: livros muitas vezes oferecem perspectivas sobre culturas, histórias e experiências humanas diferentes. Isso me ajuda a desenvolver empatia, uma habilidade vital para liderança e trabalho em equipe.

Autoconhecimento: escrever diários me permite ter momentos de reflexão e introspecção. Ao analisar e registrar eventos diários, emoções e pensamentos, consigo desenvolver um entendimento mais profundo de meus pontos fortes, fraquezas e motivações.

Habilidades de escrita: escrever diários regularmente ajuda a melhorar minhas habilidades de escrita, o que é benéfico para criar relatórios, e-mails, apresentações e outros documentos profissionais. Também me ajuda a estruturar melhores narrativas e storytelling para quando preciso desenhar uma nova palestra, por exemplo. 

Aprendizado contínuo: a paixão pela leitura geralmente leva a um desejo insaciável de aprender e se expandir, uma mentalidade que é valiosa em um ambiente de trabalho em constante evolução.

O amor pelos esportes

Quem me conhece sabe que eu sou apaixonada pela corrida de rua e que já fui uma maratonista amadora. 

A corrida, além de um esporte que contribui para minha saúde física, mental e bem-estar, também proporciona inúmeros benefícios que se traduzem em habilidades valiosas para o meu sucesso profissional. Tentei listar todos os impactos que percebi ao longo dos anos em minha vida.

Disciplina e Consistência: a corrida exige regularidade e dedicação para se alcançar resultados, assim como no mundo profissional, onde a consistência é fundamental para alcançar objetivos a longo prazo.

Resiliência e determinação: confrontar-se com desafios, como distâncias mais longas ou condições climáticas adversas, me ensinou a persistir diante de obstáculos, uma habilidade essencial no ambiente de trabalho.

Definição e alcance de metas: assim como estabelecer metas para uma maratona ou uma corrida de 10km, no ambiente profissional, a capacidade de definir, perseguir e alcançar objetivos é fundamental. Lembro quando decidi me inscrever pela primeira vez em uma prova de rua. Estava atravessando um momento importante do meu tratamento para depressão. O ano de 2012 havia sido devastador e queria encerrá-lo de um modo que tivesse algum significado.

Escolhi me inscrever na Corrida de São Silvestre. Na época que tomei a decisão, ainda não era uma praticante assídua, estava acima do peso e tinha pouquíssima resistência respiratória. Estabeleci um plano de 16 semanas que me tiraria do sofá e me levaria até a linha de chegada. Foi uma das corridas mais emocionantes que já concluí. Uso os aprendizados daquela preparação e de tantas outras provas em várias situações, especialmente na jornada empreendedora.


Subindo a Avenida Brigadeiro Luís Antônio durante a corrida de São Silvestre em 2013

Gestão do estresse: a prática de esportes é uma excelente forma de liberar tensões e reduzir o estresse, proporcionando uma mente mais clara e focada, o que é crucial para tomar decisões acertadas no trabalho. Correr ou pedalar contribuem para a oxigenação cerebral e também para a criatividade. Normalmente uso as horas seguintes ao exercício físico para me dedicar a tarefas que demandam pensamento criativo e muitas vezes fora da caixa. 

Autoconhecimento: durante uma corrida consigo ter  momentos de introspecção, permitindo que eu possa refletir sobre minhas escolhas, desafios e até mesmo sobre aquilo que me faz feliz e me deixa realizada. 

Melhoria na tomada de decisão: o esporte frequentemente exige que atletas, mesmo amadores, tomem decisões rápidas sobre ritmo, estratégia e quando economizar ou gastar energia. Essa habilidade de decisão rápida pode ser facilmente transferida para situações profissionais. No início da pandemia, por exemplo, tive que tomar decisões e fazer escolhas muito rápidas, sem um mínimo de dados e informações que pudessem me apoiar.

Trabalho em equipe: enquanto muitos veem esportes como a corrida como uma atividade solitária, participar de equipes ou grupos de treinamento ensina habilidades valiosas de trabalho em equipe e camaradagem. Para correr uma maratona, é necessário que um grupo de profissionais trabalhe em conjunto com o atleta para que ele consiga dar o seu melhor. Cardiologista, nutricionista, massagista, fisioterapeuta, o próprio treinador da corrida e o personal trainer que apoia com a parte do fortalecimento muscular. É preciso humildade para ouvir e coachability para colocar em prática os feedbacks. 

Foco e concentração: manter um ritmo ou superar um desafio físico durante uma corrida exige foco intenso, similar à concentração necessária para completar tarefas profissionais complexas.

Otimização de tempo: como corredora amadora, frequentemente preciso gerenciar meu tempo para encaixar treinos em agendas lotadas, uma habilidade diretamente transferível para a gestão eficaz do tempo no ambiente profissional.

Adaptação a mudanças: seja ajustando-se a um clima diferente, a um novo percurso ou a um calçado diferente, atletas aprendem a adaptar-se rapidamente, assim como no mundo profissional, onde a mudança é constante.

Usando suas paixões para se destacar na entrevista

Meus hobbies e as minhas grandes paixões possuem espaço cativo na minha agenda. A prática de exercícios e a leitura entram na agenda muito antes do expediente começar, logo no início da manhã. São os elementos que não negocio. 

Já a escrita permeia todo e qualquer tempo vago que eu possa ter para dar asas aos meus pensamentos, devaneios e viagens imaginárias. Estou sempre carregando um caderninho na bolsa e aproveito qualquer “sobra de tempo” para anotar ideias, observações do ambiente onde estou e coletar sentimentos que estou experimentando naquele momento. 

Não me restam dúvidas de que carrego para qualquer área da minha vida, principalmente a profissional, os efeitos do tempo que dedico para atividades que me dão prazer. Não somente isso, essas atividades adicionam muito valor ao meu dia a dia no trabalho, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades cruciais para o sucesso profissional.

A prática de esportes, como alguns devem saber, oferece uma série de benefícios mentais, emocionais e sociais, além dos físicos, que podem ser aplicados no mundo profissional. Adotar uma mentalidade de corredor pode ser a chave para avançar na carreira e enfrentar desafios com confiança e determinação. Não somente isso, sua prática esportiva pode ser um grande diferencial no momento de uma entrevista. Lembre de falar dela na próxima vez que estiver em um processo seletivo. 🎯


Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude, referência no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas. Empreendedora, palestrante e produtora de conteúdo sobre saúde mental e bem-estar, foi reconhecida como LinkedIn Top Voice Equilíbrio Vida e Trabalho em 2023. Possui formações que contemplam ciência da felicidade e aplicações da psicologia positiva para ambientes de trabalho como The Science of Happiness, da Berkeley University. Premiada internacionalmente pela Cartier Women 's Initiative, é colunista dos portais Mundo RH, da Revista Melhor RH e já teve vários artigos publicados pelo Estadão. 


Ana Júlia Saraiva

Coordenadora de Marketing | Advogada | Legal Tech

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Paula Machado lembrei de ti ❤️

Elaine Campos

Futures Thinking | Inovação Aberta | Impacto Social | Community Designer | Facilitação | Cultura de aprendizagem

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Isadora Camargos

Consultora especializada em Relacionamento com Comunidades, Sustentabilidade e Comunicação

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Que ótimo texto, Tatiana! Obrigada por publicar! Fiquei curiosa por saber como os recrutadores avaliam as atividades relacionadas a templos religiosos, especialmente as atividades de fraternidade e voltadas para o coletivo. Até que ponto uma religião é entendida como limitadora, ou como estruturadora do ser humano.

Clarissa Liguori

CoFounder Pausa Ativa Ocupacional

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Esse ano, fiz a minha primeira maratona. E fiquei muito orgulhosa em ter um projeto de vida fora trabalho. Vamos combinar um treino no Ibirapuera juntas?

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