Mais é diferente
Perto do coração da gente tem uma chavinha que, quando acionada, te ilumina inteiro e te faz sentir muito mais vivo. A chavinha é a mesma para todos, o que muda é como acionar. Tem gente que pula de paraquedas, outros mergulham com tubarões, alguns disparam em alta velocidade... e eu palestro. Ok, palestrar não tem o charme dos aventureiros arrojados, mas pelo menos meu seguro de vida é mais barato e até hoje não fui parar num pronto-socorro.
Palestrar me apaixona porque eu me arrisco muito e por favor não se inspire no meu modus operandi. Quando alguém que vai palestrar e está inseguro a primeira coisa que se recomenda é justamente o que eu não faço: preparar o material com muito carinho e ensaiar à perfeição, mas eu não funciono assim. Adoraria, mas não.
Claro que eu me preparo, mas é de outro jeito: primeiro penso em quem vai me ouvir e como eles vivem, depois penso no que eu teria a dizer para eles e, sobretudo, como e só então preparo alguns slides meio vagos só para servirem de apoio. Na hora H, quando olho nos olhos daquele povo todo, posso jogar tudo pro alto e criar do zero algo que faça sentido naquele momento para aquela situação concreta, situação que normalmente é muuuito diferente da que eu havia imaginado.
Pois bem, esse trapézio sem rede é o meu esporte radical. A minha sorte é que hoje palestras são um mercado bem ativo e há palestrantes profissionais cobrando fortunas para falar sobre os temas mais inusitados, de autoajuda a comédia passando por filosofia light e futurismo delirante e acaba sobrando demanda para ouvir alguém estranho como eu.
Outro dia conheci um ex-executivo que, diante desse boom palestrístico, resolveu se reinventar como palestrante. Muito autoconfiante o moço, bastante determinado e já tinha até contratado uma agência de renome para... fazer seu PPT (pasme). Perguntei ao candidato a guru de palco o que ele tinha de tão extraordinário a acrescentar à história do pensamento ocidental.
¬ O segredo é esse: é tudo simples. Não tem o que enfeitar, a solução é sempre a simplicidade.
Não soube mais dele e, na verdade, não quero saber. Se o cara acha que tudo é simples, que siga em paz e que seus followers o acompanhem. É bem capaz que ele hoje esteja na top list dos palestrantes mais bem pagos, mas eu não entrei nesse negócio para falar platitudes e ser um campeão de audiência. Meu negócio é outro.
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Faz 50 anos que um cara chamado P. W. Anderson publicou um paper com um título elegantérrimo: More is Different, mais é diferente. A ideia é que uma cidade não é uma aldeia grande, uma empresa com dez mil funcionários não é uma startup e que quando as coisas crescem em número, tudo pode acontecer.
Para quem veio de uma formação mais convencional em Exatas isso parece tolice, pois uma banana ou mil bananas continuam sendo bananas, mas pessoas que não são bananas têm ideias próprias e bastam três para você não ter mais ideia do que vai acontecer. Basta um destrambelhado, aliás, para invadir a Ucrânia sem mais nem menos e virar a História de pernas pro ar. Pessoas são diversas, e nada é mais imprevisível do que várias pessoas diversas juntas.
O século XX foi o triunfo da produção em série e da comunicação de massa e tudo parecia simplesmente uma questão de escalar mais do mesmo para pessoas basicamente iguais. O século XXI é a negação ponto a ponto desse pensamento pobre, e a conclusão é simples: nada é simples, não há um modelito unissex tamanho único que vá agradar todo mundo.
Como agradar a muitos? Ouça muitos, e muito. Traga muitos pra mesa, e quanto mais diversos melhor. Vai surgir uma solução mágica, alguma fórmula simples que vai salvar o dia sempre, alguma metodologia gringa com consultores certificados? Não, vão surgir mil caminhos inesperados, mil inovações desconcertantes e essas pessoas tão diversas vão se organizar de mil maneiras novas à medida em que o mundo for mudando (e ele muda sem parar).
(Esse é o charme de uma boa cidade grande: tudo pode acontecer o tempo todo e todos podem se reinventar e se conectar e se arriscar e assim as cidades não envelhecem nem morrem. Aldeias podem ser irrespiráveis justamente porque a sua escala é menor. Mais é diferente)
Sim, alguém vai se lembrar que alguém um dia disse que Less is More, menos é mais, mas pelo menos pra mim, que cresci no centrão de São Paulo, no olho de um furacão, Less is Bore. Menos é chato, e o futuro merece mais do que isso.
No próximo episódio vou compartilhar com vocês algumas coisas que podem te ajudar a palestrar #likeaboss, aguarde. E se quiser dar uma espiada em várias palestras minhas em corporações, escolas, Campus Parties etc, aqui tem várias gravadas, divirta-se!
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2 aCaro René, é basicamente assim como você que preparo minhas palestras, mas como sou um aventureiro menos capacitado, ou mais medroso, o resultado tem variado bem mais que as suas que são um deleite assistir. Grande abraço, do Monoman, seu fã
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2 ase puder replicar.. adoraria
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2 asensacional....
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2 aGostei bastante, amigo Rene de Paula Jr. !!!