Você sabe com quem está falando?
— Apesar de ser uma fruta muito presente na nossa culinária e paisagens, especialmente no Nordeste, o coqueiro é originário do Sudeste Asiático ou da Oceania, disse o Gemini em alto e bom som.
"Nossa" quem, cara pálida?
A conversa por voz com o robô do Google estava indo muito bem até esse ponto. Eu já havia aprendido que banana parece brasileira mas não é, manga parece brasileira mas não é, laranja parece brasileira mas não é e nesse pequeno deslize eu percebi: o robô também parece brasileiro mas não é.
Pior: não existe um "eu" por trás do "eu" que o robô usou tantas vezes. "Eu" isso, "eu" aquilo, "nosso" aqui, "nosso" acolá... pera lá, isso é enganação. Robô não é gente.
O ChatGPT também joga esse jogo e responde como se fosse o melhor interlocutor do mundo, e mesmo assim eu adoro conversar com... seja lá o que o ChatGPT for. A questão, e faz tempo que faço esta questão, eu a fiz no EmTech do MIT em 2022 para um dos pais do Watson (ainda existe?), Dave Ferrucci, é a seguinte: é eticamente correto, moralmente correto que essas criaturas se apresentem como se fossem uma pessoa dando uma única resposta supostamente universal para as nossas perguntas?
Eu acho que não. Isso para mim é impostura, e estamos diante de mais uma caixa de pandora escancarada irresponsavelmente de onde já estão saindo todo tipo de desgraças. Este jovem se apaixonou por uma AI, comentou que queria se matar, a AI não fez nada a respeito, e se matou:
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Como se já não bastasse todo mundo seguir influencers vendidos que topam tudo por dinheiro, como se já não bastasse todo mundo pautar suas vidas pelo que pregam gurus de araque e mercadores de inverdades, como se já não bastasse que plataformas turbinassem impostores carismáticos para aumentar seus lucros, agora temos essa: criaturas estranhas, praticamente alienígenas, fingindo ser pessoas e, pior, fingindo fazer parte do nosso mundo, falsos deuses criados à nossa imagem e semelhança.
Eu entendo que para uma criatura artificial com um funcionamento completamente diferente do nosso se comunicar conosco ela precise fingir que fala a nossa língua, que pensa na nossa velocidade medíocre e que puxe um pouco o nosso saco. Eu imagino que deve ser um baita sacrifício para um robô com essa capacidade ter que se emburrecer tanto para falar com primatas glorificados mas a questão, insisto, é: está certo fazer de conta que é "alguém"?
Eu acho que não, mas já me dei por vencido. Mais uma vez triunfa o "me engana que eu gosto, me engana que eu gasto", e mais uma vez estou eu aqui quixotescamente levantando a bandeira da Ética, da Responsabilidade, da Transparência.
Mais uma vez.
Sem surpresas aí, pois afinal nessa altura do campeonato você já sabe com quem está falando.
gostou? espero que sim! um forte abraço e até a próxima newsletter do Coffee Break!
CEO na RE9 - Moda Sustentável | Produtora e Designer de Moda | Criação e desenvolvimento de peças de vestuário sustentáveis
1 mShow
Especialista e-Commerce B2B & D2C / Pequenas e Médias Indústrias
1 mEstamos naturalizando o artificial...
Eu confesso que tenho um bloqueio é não consigo conversar com os robôs