Mais pobres, preocupados e tristes em qualquer idade
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Mais pobres, preocupados e tristes em qualquer idade

Meu pai falou que, ao fazer 50 anos, sentiu o peso. Não da idade (ele diz se sentir bem jovem), mas da sociedade, que o vê como um produto perto da data de validade. Meu pai é brilhante e foi rejeitado em diversos processos de emprego.

Meu melhor amigo publicou seu primeiro livro aos 17 anos de idade. De lá pra cá, publicou mais 6 livros, ganhou prêmios, deu palestras e terminou um mestrado. Ele me disse se sentir perdido e um dia confessou: "Já que falhei na literatura e estou velho, preciso pensar em outra coisa". Meu amigo tem 26 anos.

Uma conhecida minha tem 29 anos e está em um relacionamento que tem talvez mais baixos do que altos. Ela sabe que seu parceiro não a respeita como ela merece, mas não quer ficar sozinha. Ela se acha muito velha para ficar solteira e "começar tudo de novo".

Eu, por vezes, me acho um fracasso (a famosa Síndrome da Impostora); penso que perdi tempo e deixei "a vida passar". Não consigo descansar sem ser produtiva. Eu tenho 26 anos.

Estamos mais pobres, preocupados e tristes. Principalmente no Brasil. Mal remunerados, preocupados com o relógio que bate e tristes em qualquer idade. Vivemos em um sistema falho e doente, onde as pessoas são preparadas para a vida e depois "cuspidas" para fora. A preocupação com o tempo é real, pois ele é limitado. Mas vale lembrar que seu conceito foi construído por uma sociedade que só quer saber da nossa utilidade, da nossa produtividade, dos marcos que precisamos alcançar. 

Eu não sei se é possível viver às margens de um sistema que só faz com que nos sintamos válidos quando somos úteis e produtivos. Agimos como atores que seguem um roteiro pré-determinado. Eu também não sei medir meu valor sem ser por conquistas e produtividade, pelo quão rápido eu cheguei a algum lugar.

Mas, aprendi que as melhores cenas geralmente acontecem no improviso. Acho que devemos buscar maneiras de riscar diálogos desse roteiro, trazer novos personagens e até, quem sabe, nem terminar o filme. Acho que um pouco de anarquismo produtivo nos faria bem.

Manuella Comerio de Paulo

Chevening Alumna | Mudanças Climáticas | Sustentabilidade | Impacto Social e Ambiental | Análise de Dados | R | Python | GIS

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Boa reflexão, Lara. Resume o sentimento de muita gente aqui nesta rede (e em outras também!). Obrigada por compartilhar :)

Julio Donato

Data Scientist | Monitoramento e Avaliação | ESG | SDG

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Muito bacana a expressão porque ela consegue capturar a ficção de mais uma das redes sociais.

Bruni H. Conte

Co-Founder @ Arca | MA in Social Entrepreneurship @ University of London | Education | DE&I | Systems Thinking

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Subversão repensar seu conceito de sucesso quando a simples existência depende de títulos, patrimônio, idade e conexões. Obrigado pelo texto, amiga ☺️💜

Jonathas Azevedo

Diretor Executivo @ Rede Comuá

3 a

Texto incrível e necessário, Lara! Com certeza, muitas pessoas no Linkedisney vão se identificar.

Erica Vieira de Paula Souza

Engenheira Ambiental e Sanitarista | Analista de Meio Ambiente e Sustentabilidade | ESG | Consultora Ambiental

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Concordo com cada palavra. Ótimo texto!

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