Mais uma operação farmacêutica encerrada no Brasil
Ontem a multinacional Suíça Roche comunicou a decisão de fechamento de sua fábrica instalada no Rio de Janeiro após décadas de operação, e tendo sito o maior fabricante de medicamentos instalado no Brasil na segunda metade da década de 80. Infelizmente este não é um caso isolado, uma vez que nos últimos anos várias multinacionais fecharam, ou reduziram ao mínimo suas operações de produção farma no País, tais como MSD, Bristol-Myers Squibb, GSK, entre outras, e escutamos com frequencia que outras empresas multinacionais também possuem estratégia parecida no momento.
Tenho compartilhado em minhas palestras e reuniões nas empresas que sou convidado, sempre apresentando dados objetivos, que existe hoje em curso nas operações farma no Brasil uma concentração silenciosa de produção local em poucas gigantes nacionais, e que há um sério risco de em poucos anos termos um grande oligopólio no setor, uma vez que quanto maior o volume de escala destas poucas empresas, mais difícil será a concorrência por custos dos demais players no Mercado.
Esta concentração é resultado de múltiplos fatores, começando pela competência das empresas nacionais em entender as mudanças ocorridas no mercado farma nos últimos 15-20 anos estabelecendo estrategias vencedoras para mercados genérico e similar, ampliando suas capacidades produtivas com investimentos em ativos / fábricas, etc..., e por outro lado as Multinacionais se focaram em pesquisa e desenvolvimento de produtos de alta complexidade protegidos por patentes e biológicos, que por característica são produtos de grande valor agregado e baixo volume, o que os levou a estratégica de produção em centros especializados com 1 ou 2 fábricas atendendo a demanda global, e infelizmente esses centros de produção não são instalados no Brasil. Até os anos 2000 mais de 80% de todo volume farmacêutico produzido localmente era feito por multinacionais, e estas perderam continuamente market share para empresas nacionais nas últimas décadas, e hoje a situação de volume produzido é exatamente inversa a dos anos 2000.
O fechamento da fábrica da Roche me impacta pessoalmente, pois comecei minha vida profissional nesta fábrica como estagiário em julho de 1994, tendo sido posteriormente contratado para o primeiro emprego em minha carreira, e lembro como se fosse hoje, ainda estagiário, que recebemos uma comunicação corporativa da Suíça através de carta, pois naquela época não existia redes sociais nem sequer e-mail, informando que o "board" da empresa decidiu focar daquele momento em diante os investimentos de pesquisa e desenvolvimento em produtos para tratamento de câncer, sistema nervoso central e biológicos, pois entendiam que o mercado de OTC, basicamente produtos comuns não protegidos por patente, teria suas margens reduzidas significativamente no futuro, sendo a Roche maior fabricante mundial à época de ansiolíticos e vitaminas; e produtos oncológicos e de alta complexidade teriam pouca concorrência, baixo custo de promoção e comercialização, além de margens significativamente maiores, garantindo à Roche contínuo crescimento e solidez no longo prazo. Se observarmos o tamanho, resultado financeiro e market share da Roche atualmente no mercado mundial de oncologia e produtos de alta complexidade percebemos que a estratégia global de longo prazo foi muito bem sucedida, porém com consequencias negativas para as operações no Brasil com a decisão de fechamento da fábrica do Rio.
Deixo aqui minha solidariedade aos amigos e profissionais altamente qualificados da fábrica da Roche Rio de Janeiro, tendo orgulho de ter iniciado minha carreira nesta grande escola.
Registro em minha carteira profissional de meu primeiro estágio na Roche, datado de 04/07/1994.
Analista de controle de qualidade | Wasser Farma
5 aTriste notícia.
e-Commerce | Marketplace | B2C | B2B | Logística | Qualidade | Melhoria Contínua | Programa 5s | Gestão de Pessoas | Gerenciamento de Processos e Resultados | Inventário | Facilities | Treinamento e Capacitação
5 aFernando Ozorio Lopes da Rosa
Advogada
5 aMuito triste com essa notícia, por ser uma empresa tão relevante e por ter aprendido tanto no período em que ali estive. Um grande abraço a todos!
Muito consistente o resumo, Fábio, da e(in)volucao da indústria Farma multinacional na Brasil. Como você menciona existem múltiplos fatores que contribuem com este desalento e eu acrescentaria um adicional que nos impacta em tantos outros setores tambem - a baixa qualificação de talentos voltados à inovação. Sem duvida, estamos perdendo espaço num mercado cada vez mais competitivo e global.
Business Excellence, Industrial Engineering and Portfolio/ Program Management
5 aEsse fenômeno ocorre em todos os lugares. Trabalho na Alemanha e até aqui empresas estão fechando e transferindo as operações para países mais baratos. Infelizmente, por diversas razões, o Brasil não é o mesmo país barato que atraiu empresas nas décadas anteriores.