Marçal não é Bolsonaro. Mas pode ser o Bolsonaro 2.0

Marçal não é Bolsonaro. Mas pode ser o Bolsonaro 2.0

A caracterização de Pablo Marçal como o um “novo Bolsonaro” é válida apenas até a página 2.

 

O candidato e coach goiano tentar pegar carona na popularidade do ex-presidente, mas ambos pertencem a mundos diferentes, tanto do ponto de vista geracional quanto dos temas que trazem para o debate.

 

O ponto em comum entre Marçal e Bolsonaro é o estilo de comunicação.

 

Para entender melhor, é útil percebê-los comparando-os aos políticos tradicionais. No lado de Lula, Boulos, Ricardo Nunes, Kamala Harris e Tábata Amaral, o foco é dizer como, uma vez eleito, seu governo irá cuidar do eleitor. O outro grupo, com Donald Trump, Marçal e Bolsonaro, posiciona-se como porta voz do eleitor decepcionado. Um apela para a razão (veja os benefícios que posso te oferecer) e o outro é pura emoção (veja como eu tenho coragem de enfrentar o sistema e externar suas decepções).

 

Mais importante, no entanto, são as diferenças entre Bolsonaro e Marçal.

 

A geracional é mais óbvia e carrega algo fundamental: Marçal não carrega o peso de ligação/apoio do período do Regime Militar que Bolsonaro traz e que tanto contribui para a sua rejeição.

 

A segunda é uma apropriação feita por Marçal de elementos da “teologia da prosperidade” - que embala denominações evangélicas neopentecostais já há muito tempo - na qual o sucesso material é indicador de esforço espiritual.

 

Em um dos episódios divulgados nas redes sociais, Marçal “prega” para uma pessoa com camisa do MST usando um “livro sagrado”. O que ele segura, no entanto, não é a Bíblia, mas uma carteira de trabalho.

 

Bolsonaro estava fundamentalmente ligado ao antipetismo. Elementos religiosos e liberdade econômica foram sendo introjetados na sua persona política ao longo da construção da sua persona política. Marçal, por sua vez, já vem com esses elementos de fábrica.

 

Outra questão são os temas morais. Com exceção de acusações contra Boulos, afirmando que o candidato do Psol é um consumidor de drogas, outros assuntos relacionados a gênero ou direito ao aborto, por exemplo, estão ficando de fora. Para Bolsonaro, depois do antipetismo, esse era sua pauta favorita.

 

Resultados

 

O crescimento de Marçal está testando o controle de Bolsonaro sobre a direita no maior laboratório eleitoral que existe que é a cidade de São Paulo. Se ele conseguir desbancar Ricardo Nunes e furar a bolha da direita – não há nas pesquisas nada ainda que indique isso – vai ter capacidade de se apresentar como um Bolsonaro 2.0, forçando o ex-presidente a reconhecer que o herdeiro do seu movimento político pode não sair da sua família. Essa é a análise básica.

 

Há outra questão mais sofisticada. O crescimento de Marçal mostra como eleitores conservadores e de direita ainda não contam com um mercado de oferta consolidado de partidos e candidatos. Há um potencial enorme de votos nesse segmento, o lado da oferta é uma mata virgem, sendo disputada por outsiders, o PL (que era centrão até ontem), apresentadores de TV e um movimento personalista (bolsonarismo) pouco estruturado.

 

Trata-se do contrário que se vê na esquerda, na qual há o mercado é organizado em torno do monopólio de Lula e está consolidado mas que sofre, na contramão, dificuldades de se renovar.

Marcia Marinho

Data Governance | Data Quality | Data Catalog | Analytics | AI

4 m

Sua análise reforça o fato de que a direita continua sem o terceiro e mais importante P: o de Projeto. Sequestrada pelo Bolsonarismo Neopentecostal só tem dois P atualmente: Porrada e Polêmica. Em termos de Projeto, Tarcísio continua sendo o laboratório mais viável. A esquerda, também tem um bom laboratório com João Campos. Ele soube inovar a gestão, mesmo oriundo de uma linhagem política tradicional. Marçal é só mais porrada e polêmica, ainda que vendido como "projeto" pela Folha de S.Paulo e pelo UOL - Universo Online, com matérias dia sim e outro também. O verdadeiro mérito dele até aqui foi rasgar o script de Malafaia. O pastor, que estava preparando um novo conto bolsonarista, com Nicolas, foi surpreendido ao ver o coach na capa.

Erlon Gonçalves

Técnico na Conselho Federal da OAB

4 m

Duvidas O Nunes seria o "picolé de chuchu" em nova embalagem!? O Marçal não seria a materialização do "Bolsodória"?

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