A marcha da insensatez
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
(Poeminho do Contra, de Mário Quintana)
Quando tudo indicava que o Brasil consolidaria seu papel de Soft Power no cenário mundial, qual seja, ser uma referência entre os países, de quem se impõe pelo poder de sua cultura, da preservação de seu meio-ambiente, da posição de equilíbrio e respeito às diferenças, da alegria de seu povo, de sua música, de sua capacidade e eficiência nos esportes, de sua apreciação da beleza e do jeito leve de viver, o país, ao contrário, apresenta-se hoje ao mundo como um exemplo da personificação da ignorância, negação da ciência, do culto da truculência e do desprezo pela vida.
Enquanto alguns países gastam quantias inimagináveis com armamentos para exercer poder, outros como o Brasil, desfrutavam de admiração pelo simples jeito de ser. Depois de sucessivos governos marcados pela incompetência, pela ignorância e pela falta de uma visão menos paroquial e mais holística do mundo e da vida, a admiração está sendo substituída pela perplexidade. Hoje este papel começa a ser ocupado por países como a Nova Zelândia, que possui uma primeira ministra que conduz seu país de uma forma ao mesmo tempo simples e eficiente, mas com profundo senso de solidariedade, obtendo com isto resultados fascinantes, pela singeleza com que é dirigido o país.
No Brasil, ao contrário, em pleno auge da pandemia, vive-se um cenário de confronto permanente, conflitos desnecessários e absolutamente pobres em conteúdo, regidos pela ignorância, arrogância e incompetência.
A incompetência sistêmica do país se manifesta de forma contundente. O que antes era possível abrigar sob os tapetes do ilusionismo político e midiático, não mais o é. Por isto morrem pessoas aos milhares, enterradas em covas comuns, sem dignidade alguma, sendo tratadas como meros números e menosprezadas por quem detém o comando e deveria liderar, e que deveria estar alinhado na condução do enfrentamento desta terrível guerra.
Hoje, ao contrário do que se esperava, o Brasil é motivo de chacota e piada na comunidade internacional. Somos vistos como um povo em uma marcha da insensatez rumo ao precipício, liderados por um mentecapto que não possui a menor noção do que seja liderança, razão ou solidariedade.
Mas a vida continuará, e espero um dia podermos ser vistos novamente como um modelo de país feliz, que já esteja corrigindo suas desigualdades, tendo superado os comandos aloprados, e sendo admirados na comunidade internacional. Contudo, enquanto isto não ocorre, é muito triste observar que o navio está à deriva, e, enquanto o Titanic afunda, o comandante esteja apenas preocupado com a temperatura do whisky e em reservar um bote salva-vidas para si mesmo e os seus.
A vida prevalecerá.