Beleza, ousadia e transcendência na infraestrutura de transportes
A arquitetura é a arte que dispõe e adorna de tal forma as construções erguidas pelo homem, para qualquer uso, que vê-las pode contribuir para sua saúde mental, poder e prazer. (John Ruskin)
A disponibilidade de infraestrutura em quantidade e qualidade suficiente é uma das características fundamentais que determina o estágio de desenvolvimento de um país ou de uma região. Da mesma forma, o futuro e a evolução da infraestrutura dependem da engenharia e da existência de estruturas de financiamento sustentáveis para sua construção, ampliação, operação e manutenção.
Outro aspecto importante em relação à infraestrutura diz respeito à sua dimensão estratégica e ao impacto que a mesma exerce sobre o país ou região.
Em um artigo no jornal inglês Observer, Hill Hulton[1] dá destaque ao fato de que a infraestrutura é bela. Um aeroporto grande e moderno, uma ponte de tirar o fôlego, uma rede de rodovias e de trens de alta velocidade com estações que celebrem a estética e a beleza, assim como um porto bem organizado, não se constituem apenas em importantes propostas econômicas. Se bem projetados e adequadamente construídos, eles elevam os espíritos. Uma boa infraestrutura mostra uma comunidade nacional ou regional que conhece o valor de suas ações coletivas, acredita em seu futuro e está preparada para investir em si mesma; significa uma nação e um povo que acredita em si mesmo. A Via Appia e os aquedutos romanos há mais de 2000 anos continuam a atrair e fascinar pessoas do mundo todo.
Mesmo antes do delicado momento econômico atual, em relação à infraestrutura de transportes, já sobrava timidez e faltava ousadia ao Brasil. Passados os problemas circunstanciais da política e da economia, teremos que recomeçar a construir nossa infraestrutura, ainda tão precária e escassa, e a presença da arte e da beleza deve fazer parte deste processo. Não custa mais caro aliar arte e beleza às obras.
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Obviamente, investir fortemente em projetos arrojados de infraestrutura de transportes não significa irresponsabilidade econômica nem comprometimento da renda da geração atual e das gerações futuras. Muito pelo contrário, significa investir agora para construir a base econômica, tanto da geração atual quanto das gerações futuras. Significa utilizar fontes sustentáveis de recursos, adotando práticas e ferramentas econômicas e financeiras inovadoras. Porém nada impede que se o faça com bom gosto e ousadia estética.
Ao longo da história a infraestrutura tem desempenhado papel que transcende ao tempo. Se, à dimensão de utilidade forem agregadas as dimensões adequadas de arranjos econômicos, financeiros, operacionais e estéticos, além de uma boa dose de ousadia, estaremos qualificando a existência da atual geração e deixando um belo e consistente legado para as futuras gerações.
[1] Texto publicado no jornal Observer de 12 de junho de 2012.