Marcha lenta
É raro eu dirigir na Marginal. Felizmente. Mas dia desses, resolvi passar um lindo domingo de inverno na aprazível Guararema, cidade próxima a São Paulo, e finalmente experimentei a polêmica experiência de trafegar no novo limite de velocidade: 50 por hora na pista local, 70 na expressa e 60 na intermediária.
Numa primeira impressão, pareceu estranho. Eu sentia como se estivesse naqueles brinquedos de parque de diversão, em que os carrinhos seguem em fila indiana, sempre à mesma distância do carro da frente. É assim que as pessoas costumam dirigir em outros países, como nos Estados Unidos. Lá, você dirige por quilômetros e quilômetros numa estrada sem ultrapassar nem ser ultrapassado por ninguém, porque todos andam dentro do limite. E tem muito brasileiro que dirige direitinho lá, acha o máximo a educação das pessoas. Mas quando chega aqui, quer brincar de Nelson Piquet na 23 de Maio.
Rapidamente, percebi que a desaceleração da Marginal é um avanço nesta São Paulo que precisa mesmo desacelerar. Abri a janela e percebi até que a poluição sonora havia diminuído. Os carros pareciam flutuar em silêncio. Sem falar que, na prática, é tanto carro que raramente dá para dirigir a 90 por hora, o limite máximo antigo. Sem falar também que dirigir lentamente é uma forma de se proteger contra os dementes que acham que têm o direito de andar na velocidade que quiserem: “Dane-se, eu pago a multa e tudo bem”.
Refiro-me a uma determinada fatia da fauna paulistana que geralmente ocupa mais espaço das vias públicas do que precisaria, por dirigir carros desnecessariamente grandes; que adora parar em cima da faixa de pedestres e da área destinada a bicicletas e motos; que nunca abre o vidro, porque quem está do lado de fora é sempre uma ameaça; que vive colocando os outros em risco, porque é preciso pisar fundo para justificar a fortuna gasta no veículo. Enfim, que se acham donos do espaço público. Esse tipo de comportamento é outro bom argumento a favor do novo limite de velocidade. Afinal, quando os demais cidadãos trafegam numa velocidade mais baixa, eles também têm mais tempo de evitar tragédias.
Para mim, é tão óbvia a necessidade de aumentar a segurança, que não entendo a reação de entidades como a OAB – parece que adora aparecer – e de pessoas em geral, que alegam que em outros países, a tendência é ampliar a malha viária e facilitar a circulação de veículos. Se é para olhar para o mundo lá fora, prefiro destacar o “traffic calming”, tendência que países europeus, especialmente no norte, estão implementando com o intuito de zerar as mortes no trânsito até 2050. E também a ciclovia de 70 mil quilômetros de extensão que será contruída na Europa, ligando 43 países. Ou seja, existe uma tendência internacional de diminuir a velocidade e a quantidade de veículos motorizados em circulação, vinda exatamente dos países onde acelerar sem limites nas Autobahns e Autostrade sempre foi um traço cultural. Portanto, e a despeito de algumas falhas de execução, acho que a administração paulistana está antenada e no caminho certo. Errar é ruim, mas não fazer é pior.
Depois da Marginal Tietê, entrei na Trabalhadores, aquela rodovia que hoje em dia as pessoas gostam de chamar de Ayrton Senna – sim, eu também via Dallas antes da refilmagem que lançaram em 2012 e via os faroestes do Django antes de Tarantino criar sua versão étnica; além disso, o Piquet sempre foi meu piloto preferido. Portanto, quando entrei na Trabalhadores, vi a placa de 120km/h e, acreditem, não cheguei a tanto. Não foi por falta de potência, não. O motor da carro da Livia é 1.4 e ele anda superbem. Mas quando o velocímetro atingiu 100km/h, bem acima dos 70km/h da Marginal, parecia que era suficiente. O tal do referencial, sabe como é? Ali, percebi que o intuito educador da nova regra surtia efeito rapidamente.
Daí fiquei olhando para o velocímetro – quando dirijo, tenho o mau hábito de fixar o olhar em coisas aleatórias. Reparei naquela numeração que vai até 200km/h e aquilo me pareceu totalmente sem sentido. Fiquei pensando (agora já olhando para a frente) se futuramente, após avançarmos muito no sentido de uma sociedade mais civilizada e segura, o limite dos ponteiros será 120km/h, quando muito 140km/h.
O prefeito de São Paulo comete erros, claro. Mas vale fazer duas ressalvas. Primeira: acho que existe um déficit generalizado de competência na gestão pública no país, do que dão prova os inúmeros projetos que não saem do papel conforme previsto. Um exemplo é a expansão do metrô de São Paulo, que anda em ritmo de tartaruga, com apenas 37 quilômetros inaugurados nos últimos 20 anos e um total de 78 quilômetros, contra 225 na Cidade do México, cuja população equivale à paulistana. Segunda ressalva: todo mundo erra. Eu erro. Você também, embora muitas vezes não queira ou não consiga ver.
Se você já passou pela minha rua, a Joaquim Antunes, ou por qualquer outra rua semelhante, a mais de 40km/h, você errou. Ela é cheia de buracos e de carros e caminhões entrando e saindo das garagens. Além disso, sempre pode haver uma criança ou um cachorro que atravesse correndo, sem olhar para os lados. Em caso de atropelamento, vai dizer que a culpa é de quem atravessa, se você trafega em velocidade de Marginal numa ruazinha de bairro? Não dá, né…
Daí o Mauro, aquele mesmo do artigo anterior, vai dizer que você tem água na cabeça. E ele tem moral para dizer isso. Afinal, sempre respeitou os limites de velocidade (pelo menos quando havia alguém junto no carro) e sempre obrigou a família a usar cinto de segurança, bem antes de virar lei.
Uma coisa que me chama atenção é a falta de entusiasmo da imprensa com as políticas públicas voltadas para aumentar a mobilidade urbana daqueles que se dispõem a sair de casa sem carro. Não sei se é má vontade com a administração petista. Não sei se é para fazer média com os fabricantes de veículos que inundam as páginas dos jornais com anúncios. Mas fato é que a inauguração da ciclovia da Avenida Paulista teve cobertura patética. As fotos nos jornais do dia seguinte davam a impressão de que houve apenas um passeio modesto com algumas pessoas, quando se tratou de um evento marcante, emocionante até, que levou uma multidão a ocupar a avenida de uma forma inédita. Fosse outra a conjuntura política, ou fossem Camaros no lugar das bicicletas, desconfio que teria sido tratado como um fato histórico.
Eu, que participei da inauguração pedalando com uma bicicleta do Itaú, fiquei decepcionado quando abri os jornais no dia seguinte. Decepcionado como jornalista e como cidadão. E entendi perfeitamente quando, algum tempo depois, vi o Haddad reclamar, numa entevista à Folha, que o debate sobre São Paulo não ocorre de forma democrática, porque alguns veículos criticam sistematicamente tudo que a prefeitura faz. Na ocasião, o prefeito explicou que o plano nacional de mobilidade, uma lei federal, estabelece a seguinte hierarquia na ocupação do espaço público: em primeiro lugar o pedestre e o ciclista, depois o transporte público, depois o de cargas e por último, o individual motorizado. “A cidade não é uma estrada”, disse o Haddad. Adorei essa frase. Para ficar perfeita, ele poderia ter dito: “A cidade não é uma Trabalhadores”.
Digitar essa prosa aqui me fez lembrar daquele refrão “Vambora, vambora, olha a hora, vambora, vambora”, da Sinfonia Paulistana, que há quatro décadas embala o noticiário da rádio Jovem Pan – certamente, um dos veículos a que o prefeito se refere. Por anos e anos, fui para a escola ouvindo esta canção, que exalta a correria que faz a cidade crescer. Talvez fizesse sentido quando foi escrita, mas hoje em dia, com esse ritmo frenético, estressante, egoísta, pouco saudável e até violento, acho que chegou a hora de correr menos, isso sim. Senão, nóis vambora é pro interior.
Produtora de política e economia no SBT e no site sbtnews.
8 anossa que moco bravo julio....
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9 aPara de falar bobagem rapaz, aonde 50km por hora é velocidade real nos EUA? ta doido ou ta apostando que lá é assim, nada mais doque seu ledo engano ou então doque sua propaganda mentirosa e enganosa, ou então deve estar chutando palpite e ate trabalhando para a turba petista, -conheço os EUA de ponta a ponta, pistas locais lá a menor é 40 mph, cerca de 60km/h e de fato ninguem ultrapassa ou se faz isso muito pouco porque as velocidades são compativeis com as pistas geralmente folgadas e bem traçadas. Gente como vc por lá chamamos de "footbraking", é o famoso "pé de breque", que fica cozinhando arroz na frente dos outros apertando o transito e colocando em risco quem vem atraz.. Fique sabendo que andar em velocidade tacanha nos EUA DÁ POLICIA,tu pode ser preso e pagar multa de ate US$1000.00 meu caro, tu não sabe é nada. Marginal e rodoaneis não é lugar para passear e nem para ciclistas ou pedestres, é para TRAFEGAR A TRABALHO com veiculos de rodas, onde os mesmos fluem com certa rapidez pela exigencia do trabalho, assim como toda via de acesso periferica, radial ou longitudinal de qualquer cidade do mundo, só este Haddad maluco que não sabe disto, e ainda vc diz que raramente pega a Marginal, mas é claro que vc está achando ótimo, dirige em dia fora do trabalho,o que determina aí um tipico e perigoso domingueiro que desconhece como o trafego tem de fluir naturalmente e em dias da semana ralando pra valer, só pode. Este Haddad é um cretino, analfabeto, comunista, pai do Kit Gay, ordinario, que tomou conta de São Paulo, um aventureiro, só podia ser petista, infelizmente, mais uma praga petista para infernizar SP, uma tragedia este maluco para a cidade, Marginal quase parando, mais de 700 radares alem dos que o Kassab colocou, que enganam o motorista e provocam indução ao êrro propositalmente para MULTAR o infeliz condutor, sinalização duvidosa e confusa, ciclovias doidas e em lugares absolutamente inoportunos matando ciclistas e estreitando perigosamente as vias alem dos buracos e obras inacabadas pra tudo quanto é lado., E OS ACIDENTES CONTINUAM ACONTECENDO. 50Km/h é velocidade de bike, um bandido ou horda de bandidos com bicicletas agradecem pois está mais facil agirem contra o coitado do motorista que se ferra pra ir trabalhar ou trafegar nas pistas que deveriam naturalmente serem rapidas, COMO ERAM. 50km/h é uma velocidade tacanha, ordinaria, vc tem de dirigir DE OLHO NO VELOCIMETRO e sempre naquela tensão de não ser pego pelo radar, o que aumenta a desatenção porque vc esquece o que está à frente, AUMENTA A POLUIÇÃO E AUMENTA O CONSUMO DE COMBUSTIVEL, porque os motores trabalham abaixo da faixa media de rendimento e em marcha muito reduzida e totalmente fora do envelope operacional que é otimizado pelas marchas longas especialmente nos veiculos de carga que se esforçam para equilibrar o torque nominal em função da velocidade de cruzeiro mas que ESTUPIDAMENTE foi reduzida para baixo desta particularidade veicular , tu é muito ignorante em materia de transito e mecanica automotiva ou então é amigo do safado do prefeito. Teu texto está muito bom, para servir de banheiro de cachorro, cresça e apareça, escute aqueles diretamente ligados ao assunto antes de publicar certos comentarios amigo.
Pedagogo
9 aJúlio o maior problema que eu vejo é que as pessoas que não obedeciam a velocidade anterior continuam a não obedecer a atual, eu posso pela marginal todos os dias e todos os dias você vê pessoas desobedecendo as regras, não adianta punir todos, só os que não cumprem as leis.
Pedagogo
9 aNão sei quem pôde tomar essa decisão, mas com certeza não dirige, não precisa pegar a marginal, e não deve ter feito nenhuma pesquisa concreta para saber o que seria melhor para as Marginais.
Proprietário(a), PASA-Professional Assistance Service Associates
9 aou será ganhar mais?