Marketing Ostentação: as espumas luxuosas e o conteúdo de marca

Marketing Ostentação: as espumas luxuosas e o conteúdo de marca

Um dos assuntos mais recorrentes sobre comunicação, tanto em artigos e seminários quanto nos botecos, é o Marketing de Conteúdo. São milhares de ocorrências no Google sobre o tema, tratando sobre sua a importância, eficiência, relevância, etc.

 

Uma definição bem interessante sobre Marketing de Conteúdo é encontrada em um dos blogs que mais gosto de ler, o "Viver de Blog", do Henrique Carvalho:

"Marketing de Conteúdo é uma forma de comercialização de produtos e/ou serviços direcionados a um público-alvo através da criação de conteúdo relevante e valioso que atrai, envolve e, possivelmente, estimula a ação do cliente, gerando uma maior receita para a empresa."

É curioso ler essa definição, pois, ao meu entender, sempre foi a função da comunicação, da publicidade e do marketing comercializar seus produtos comunicando sua relevância e quais benefícios trará ao consumidor.

Não sei precisar ao certo em que momento da história os profissionais da comunicação perderam sua essência e passaram a ser galhofeiros, enganadores travestidos de especialistas, que se utilizam de todos os recursos persuasivos, com verdade ou não, para captar a atenção do consumidor.Um bom exemplo disso está estampado nos rótulos de sabonete líquido.Dia desses, eu estava no banho e resolvi ler toda a embalagem. Estava escrito: "… pele irresistivelmente macia e convidativa ao toque (…) você se banha com sua luxuosa espuma..."

Como é uma espuma luxuosa? O que ela tem: banco de couro, ar dual zone? É a espuma ostentação, você pode sair com o Rei do Camarote vestido só de espuma. Outra questão: como um sabonete deixa a sua pele convidativa ao toque? Tipo, você se banha com a luxuosa espuma e ao sair na rua as pessoas querem lhe apalpar? 

A publicidade perdeu a mão, abandonou a sua essência, que é o caráter educativo, para viver de trocadilhos e sacadas geniais. Ela esqueceu o conteúdo da marca. Entretanto, as pessoas estão atentas, não concedem tanto crédito para anúncios publicitários vazios, pois estão mais inteligentes para o consumo, não se deixam enganar por espumas luxuosas.

O produto ou serviço que prestar uma comunicação enganosa, que não entregue o prometido, corre sério risco de ver todo o volume de dinheiro empregado em cadeia nacional ir pelo ralo com um simples post compartilhado entre amigos nas redes sociais.É por essa razão que há milhões de ocorrências sobre Marketing de Conteúdo. Inventaram um novo nicho profissional para os publicitários voltarem a fazer o que era a propaganda lá no início: didática e funcional, que explicava para as pessoas a função e o uso dos produtos.

Walter Longo, por quem tenho grande admiração em função de sua lucidez e vanguarda de pensamento, afirma que 

"o vendedor, o fabricante e o anunciante têm a missão de cumprir com a função consultiva, pois o consumidor só começa a ter a capacidade de decisão ou a raciocinar sobre um produto quanto tem a informação sobre ele." 

Nas palavras do mestre, as empresas precisam assumir o seu papel como instrutores e educadores dos seus produtos, e não delegar ou "delargar" essa função nas mãos das agências e consumidores. É preciso resgatar o que éramos antes da propaganda minimalista, voltar ao tempo do diálogo direto, reconstruir o elo entre vendedores, fabricantes, anunciantes, agências e consumidores, para que possamos abandonar as espumas luxuosas e voltar a fazer um marketing com conteúdo.

Artigo de José Henrique Westphalen é Mestre em Comunicação e especialista em Marketing Digital

Alvaro Ruoso

Marketing, Gestão de Marca, Desenvolvimento de Produtos & Design, Trade Marketing, Comunicação e Estratégia de Negócios.

8 a

José, excelente texto. Vejo que a falta de bom senso domina o cenário do marketing de algumas marcas. No caso do sabonete, acho que a culpa não é do publicitário, é do Gerente de Produto que desenvolveu essa embalagem. O conceito de USP (Unique Selling Proposition) se perdeu por completo. Antigamente uma USP era definida com base em profundo entendimento do consumidor, até encontrar uma característica no produto que você única e entregasse uma solução real a um problema ou uma necessidade. A USP , assim como a marca, é baseada numa promessa, porém é a USP que faz a ponte entre o tangível do produto e o intangível da marca. A USP deve ser verdadeira, é o mínimo que se pede de um produto. Então vejo as incríveis variações que um produto tem, algumas variações são necessárias e baseadas em características específicas do consumidor, como por exemplo, shampoos para diversos tipos de cabelos. Já na categoria de sabão em pó o consumidor fica perdido. Outro dia fui fazer as compras para casa e minha esposa colocou na lista: OMO. Tive de ligar para ela perguntando qual? São tantas variações de um produto tão simples, que isso transforma a experiência de compra em tortura, você nunca sabe se fez a escolha certa. E então ao invés das marcas educarem, elas confundem, como você muito bem escreveu.

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