Mas afinal... que valor tem uma vida?
Muito se fala, ultimamente, numa Educação orientada para a formação de cidadãos conscientes através do desenvolvimento de valores universalmente reconhecidos. E nós, educadores comprometidos com essas exigências da sociedade, não medimos esforços para a concretização dos nossos sonhos. Assim, a cada dia pensamos, sentimos e buscamos identificar diferentes formas de sensibilização dos nossos educandos, tendo sempre como objetivo a construção de uma sociedade mais justa.
Neste início de milênio, o imediatismo predomina e praticamente guia nossas ações. Uma quantidade inimaginável de informações chega até nós a cada instante e temos que aprender a selecioná-las e trabalhar com elas de tal forma que, consciente e coerentemente, sejam transformadas em conhecimento pertinente para a nossa vida.
A passagem do tempo, cada vez mais escasso e que tanto intriga leigos e cientistas faz com que a paciência, virtude sempre tão nobre, seja relegada a segundo plano. E o que vemos é uma série de atos impensados e lastimados, por vezes, para sempre.
Como educadora, reconheço ainda hoje a dificuldade, cada vez maior, que estamos enfrentando no estabelecimento de limites na nossa sociedade. Parâmetros que definem o que é normal, comum, plausível, esperado, não são mais suficientes para orientar as ações e reações dos indivíduos.
Devo dizer que a indignação que me assolou quando li a notícia do assassinato de um jovem na saída de um grande shopping center da nossa cidade, há seis anos, demorou a ser superada. Se por um lado seria esperado que jovens não derrubassem cones sinalizadores de trânsito, pelo simples fato de serem de utilidade pública, também seria esperado que houvesse a obediência imediata à advertência relacionada a essa atitude, vinda de quem exercia a função de autoridade naquela situação
O que aconteceu então revela os dois lados de uma situação calamitosa: a falta de obediência, que denota falta de respeito e portanto, de princípios, e a falta de maturidade e bom senso de quem desempenha o papel da autoridade, mas que por isso mesmo deveria ter sido respeitado. Em ambos os casos, falta de limites, da consciência da hora de parar.
Identificar o culpado não trouxe a vida daquele jovem de volta. Mas analisarmos qual é o valor da vida é algo pertinente e que deve ser tema de discussão nas nossas salas de aula, já que se trata de um fato contextualizado e relevante para quem, como eu, ainda acredita na Educação.
Lamento dizer que reconheço que mesmo dentro das salas de aula, por vezes uma advertência não coloca limites às atitudes inadequadas dos nossos educandos, que testam os limites e até mesmo a paciência dos seus educadores e orientadores. E dado o cenário em que vivemos, marcado por pressa, pressão e estresse contínuos, muitas vezes as próprias autoridades agem de forma aparentemente incoerente, visto que são, também, seres humanos.
Certamente o fato de essa tragédia ter acontecido no mês de outubro, exatamente o mês que tem duas comemorações tão significativas — Dia da Criança (leia-se aqui, Dia do Educando) e Dia do Professor (ou Dia do Educador) não é mera coincidência.
Proponho, assim, que tenhamos coragem de levar esse fato para nossas casas e para nossas salas de aula, aproveitando a oportunidade de gerar discussão, estudo e avaliação das condutas que temos tido no cotidiano, empreendendo dessa forma uma viagem ao interior de cada um de nós!
Afinal de contas... que valor tem uma vida?