Mas, hoje, quem é a mídia? Sobre os dilemas do novo assessor de imprensa

As recentes notícias sobre o encerramento de várias revistas da editora Abril fazem com que nós, jornalistas, façamos quase que automaticamente uma reflexão sobre os caminhos e os próximos passos da profissão. É triste pensar nos colegas que deixam as redações depois de muitos anos de trabalho e também é um pouco nostálgico e esquisito pensar nas plataformas que fizeram parte constante da nossa infância e, agora, perdem força diariamente.

Porém, nesta reflexão, eu quero falar sobre outra área do Jornalismo que tem sido afetada (in) diretamente pelas mudanças e transições da comunicação – a assessoria de imprensa – e também sobre a necessidade que esta vertente tem, mais do que nunca, de se reinventar para não se perder num mundo cada vez mais digital, objetivo, rápido e tecnológico. As redações fechando portas influenciam muito o trabalho do assessor que, em sua função original, trabalha para promover as pautas de seus clientes nos veículos de imprensa. Mas, hoje, quem é a imprensa?


Creio valer a pena traçar, bem rapidamente, a linha do tempo do profissional-assessor-de-imprensa no Brasil antes de nos aprofundarmos em sua realidade de atuação recente.

O primeiro jornal, Correio Braziliense, surgiu em 1822. No século XIX, a atividade jornalística começou a se profissionalizar. Em 1945 acontece o fim do Estado Novo e a censura dá uma trégua, o que faz surgir mais jornais em todo o país.

Nos anos 50, chega a televisão. Nos anos 60, o mercado publicitário ganha força e a mídia começa a ser considerada “o quarto poder”, principalmente a partir do jornalismo no rádio e na TV.

Entre as décadas de 60 e 70, a mídia tinha todas as condições técnicas para manter o desenvolvimento em ascensão, não fosse o regime militar que manteve esta evolução estacionada. Nos anos 80, com o fim da ditadura, o novo fim da censura causa uma grande explosão da comunicação em massa: agora, literalmente, o poder de influência e de convencimento também está nas mãos dos jornais, rádios e televisões. É quando começam, finalmente, a surgir as primeiras agências de comunicação: Empresas e pessoas públicas passam a entender que para serem bem vistas e aceitas pela população e, como consequência, obterem lucro e visibilidade, elas precisavam estar na mídia. Logo, precisavam ter um bom relacionamento com as pessoas por trás das telas, páginas e ondas sonoras.

Em 1980, o Sindicato dos Jornalistas cria a Comissão Permanente Aberta dos jornalistas em assessorias de imprensa. Na década de 90, um em cada três jornalistas que possuíam carteira assinada estava fora das redações: era assessor.

As atividades do assessor de imprensa foram encontrando o melhor caminho para serem efetivas e a partir dos anos 2000, com a chegada acessível da internet, encontraram um modelo eficiente: Produção do release, disparo do release e follow-up (quando o assessor entra em contato por telefone com os principais veículos para confirmar se o release chegou). Assim, a assessoria se consolidou no mercado da comunicação e tornou-se essencial nas relações empresas-mídia.

Contudo, hoje, se você é um assessor de imprensa que só faz release, disparo de release e follow-up, você é um profissional preguiçoso! Em tempos de convergência digital e midiática, em que o conteúdo é o principal aliado para o engajamento das marcas com os potenciais clientes, a assessoria não fala, mais, apenas com jornalistas dos veículos de comunicação. Hoje, a ideia de “imprensa” se expandiu: precisamos saber conversar com influenciadores, youtubers, blogueiros e, mais do que isso, precisamos saber falar diretamente com o público final.

“As habilidades necessárias para um assessor conseguir cobrir todas as necessidades de um cliente e pulverizar riscos de perda de espaço/ clientes vão além da comunicação”. POLITI (2018)

A antes só “mídia” e, hoje, “mídia tradicional” é apenas um dos relacionamentos que o assessor precisa manter de forma saudável, pois agora, muitas vezes, um influenciador digital é mais importante do que um veículo de comunicação para atingir um objetivo. As estratégias precisam ser traçadas de forma segmentada e personalizada. Vale pensar:

·        Como eu vou chegar de forma eficiente no público que meu cliente quer alcançar?

·        Será que vale a pena divulgar esta informação na mídia tradicional?

·        Será que fica melhor divulgar num storie de Instagram daquele influenciador que tem tudo a ver com a marca do meu cliente?

·        Será que vale a pena criar um conteúdo de texto diretamente para o meu público final? Ou será que um vídeo vai dar resultado mais rápido?

·        Em que plataformas estão o meu público? Qual é o perfil dele? O que ele consome?

Dentro deste contexto, fica mais fácil entender porque se fala tanto do “profissional multifacetado”. O assessor deve, claro, saber escrever muito bem e ter um ótimo relacionamento com os jornalistas de redação. Mas ele também precisa, com certeza, entender de Marketing Digital e saber, ao menos basicamente, fotografar, editar, filmar, conhecer técnicas de SEO, Inbound Marketing, Marketing de influência, Design... ufa! Tem assunto para vários outros artigos!

As redações perdendo força e os veículos de comunicação aprendendo a lidar com tantas mudanças afetam a vida de quem está do outro lado. Portanto, por hora, vale lembrar: A assessoria de imprensa se reinventa a todo tempo. Que saibamos lidar com nossos dilemas para sermos bons profissionais seja qual for a realidade da comunicação! 


Rafael Matos

Assessor de Comunicação

5 a

Como vc bem disse. É preciso se reinventar sempre!

Nina Scafutto

Marketing | Atendimento | Estratégias digitais

6 a

Gisele Simões Leia esse artigo! 😉

Flávia Cardoso

Global Brand Marketing Strategist

6 a

É isso aí, Mi! O assessor que ficar resistente à tantas mudanças será tudo, menos um assessor. rsrs 

Nina Scafutto

Marketing | Atendimento | Estratégias digitais

6 a

Excelentes colocações. Quando me formei, em 2009, o mercado ainda não exigia tanto do assessor de imprensa - era preciso, no máximo, dominar Twitter e Facebook. Fiquei uns anos fora do segmento. Quando voltei a atuar, levei um susto. Estou enfrentando aqueles problemas que você já sabe (rsrs!), correndo atrás do prejuízo para ser uma boa profissional e voltar a me destacar. São muitas habilidades! Isso nos prejudica. O assessor acaba sendo um profissional “pato”. A falta de foco nas tarefas prejudica o desempenho.

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