“Mas se as mulheres são tão capazes quanto os homens, porque não conhecemos mulheres relacionadas às grandes descobertas do mundo?”
“Mas se as mulheres são tão capazes quanto os homens, porque não conhecemos mulheres relacionadas às grandes descobertas do mundo?”
Essa foi uma pergunta que um colega homem me fez no início do ensino médio, e eu não soube o que responder. Eu tinha certeza que mulheres eram tão capazes quanto homens, mas simplesmente não soube responder com dados concretos aquela pergunta. Ele prontamente continuou: “Os homens têm o cérebro mais inclinado para a lógica do que mulheres”.
Recentemente me vi refletindo sobre essa situação, e por mais que já tenha lido sobre o assunto, ainda não tenho muitas respostas. Decidi pesquisar mais sobre o tema, e dividir aqui os meus achados e reflexões.
Pergunta 1: Como está a situação das mulheres na ciência?
Para responder essa pergunta encontrei o artigo de Valentova et al. (2017) cujo título traduzido para o português é “Sub-representação de mulheres em níveis sênior da ciência brasileira”. O estudo traz muitas informações importantes e é bastante completo. Dentre essas informações, duas me chamaram a atenção para entender como está a situação da mulher na ciência, e eu separei aqui embaixo.
De acordo com um estudo realizado pela Academia de Ciências da África do Sul, as mulheres representam menos de 12% dos membros das academias nacionais de ciências do mundo (ASSAf; Academia de Ciências da África do Sul-ASSAf, 2016). Em se tratando das academias de ciências do Brasil o número fica em 14%.
Um estudo no banco de dados do CNPQ em 2002 feito por LETA (2003) mostra que as mulheres brasileiras compunham uma proporção maior de vagas de estudantes juniores que os homens (bolsas de iniciação científica e bolsas de mestrado), mas estavam menos representadas que os homens em cargos profissionais mais altos (por exemplo produtividade e Bolsas de Estudo).
Além desses dados o artigo de Valentova et al. (2017) contém muitas outras informações interessantes, vale a pena dar uma conferida.
Pergunta 2: O cérebro dos homens é mais lógico que o das mulheres?
A procura por diferenças entre os cérebros de homens e de mulheres já acontece há muito tempo (começou antes mesmo até de se ter acesso ao cérebro em si). Na minha procura por entender se de fato existe uma inclinação para raciocínio mais lógico para homens e mais “sensível” para mulheres que fosse pautado somente na biologia dos cérebros de cada um, encontrei o livro da professora Gina Rippon, “The gendered brain”. Professora Rippon é uma pesquisadora no campo da neurociência cognitiva do Aston Brain Center na Universidade de Aston, Birmingham, e defensora de iniciativas para mitigar a sub-representação das mulheres na área das ciências.
Em seu livro Rippon faz uma reflexão bastante aprofundada em como chegamos à convicção de que o cérebro feminino é "diferente" (e, portanto, inferior), como essa percepção equivocada persiste no século 21 e como as mais recentes inovações da neurociência podem e devem dissipar esse pensamento.
Um dos estudos mais recentes mostrado no livro é o de Daphna Joel da universidade de Tel Aviv feito em 2015. Esse estudo mostra o resultado da investigação de mais de 1400 exames cerebrais de quatro laboratórios diferentes. Eles examinaram 116 regiões diferentes de cada cérebro e identificaram, dessas 116 regiões, 10 características que mostravam as maiores diferenças entre o cérebro das mulheres e dos homens e esses dados foram codificados. Quando eles mapearam esses recursos codificados em um outro subconjunto, compreendendo 169 cérebros de mulheres e 112 cérebros de homens, ficou claro que cada cérebro exibia um mosaico de “características femininas” e “características masculinas”, bem como vários intermediários.
Fica claro, após uma análise de diversos artigos e estudos, que décadas de achados utilizando técnica de imagem cada vez mais sofisticadas ainda não se conseguiu chegar a um consenso do que pode diferenciar um “cérebro masculino” de um “cérebro feminino”.
Então, se as mulheres têm o cérebro tão lógico quanto o dos homens, porque ainda somos sub representadas em carreiras cientificas de destaque?
A contínua sub-representação das mulheres na ciência serve como um estudo de caso exatamente do tipo de rede emaranhada de diferentes fatores que podem sustentar esse tipo de problema. Isso pode incluir uma visão de mundo da ciência como uma instituição masculina, com os cientistas quase sempre sendo homens, oferecendo um clima frio a possíveis cientistas do sexo feminino ou uma visão de mundo das mulheres (comumente compartilhada pelas próprias mulheres) como falta de aptidão e temperamento necessários.
Para o estabelecimento de identidade própria ou superação de desafios, já foi bem estabelecida na psicologia social e na neurociência cognitiva social, a importância da representatividade. Os modelos também podem desempenhar um papel vital no reforço de imagens negativas de si mesmo e na sinalização da autoestima em todas as idades. Portanto, fica claro que um passo muito importante para termos cada vez mais mulheres fazendo ciência é darmos visibilidade para mulheres que conseguiram chegar lá.
Ainda temos um longo caminho pela frente, mas reconhecer que somos capazes e persistentemente desafiar os estereótipos de gênero é indispensável e urgente.
E você, o que tem feito para desafiar os estereótipos de gênero no seu dia a dia?
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4 aQue artigo incrível, parabéns!! Podemos acrescentar que diversos fatores sociais ainda contribuem para a perpetuação desses pensamentos.
Advogada.
4 aQue artigo incrível! Informações tão úteis e necessárias para nos ajudar a compreender e superar esses paradigmas sociais! Parabéns pelo trabalho, tenho muito orgulho de você e de toda sua jornada ❤
Estudante de UX/UI Design e Bacharel em Direito
4 aadorei o texto! sou cercada de mulheres incríveis e você certamente é uma delas! ❤
Excelente reflexão! A construção social da figura do cientista é de um homem branco e isso que leva a falsa percepção de que mulheres não são pra ciência. Acredito que somos um exemplo para meninas que querem seguir o ramo de exatas.