Me perguntam todos os dias se o comportamento do consumidor vai mudar pós pandemia.

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O comportamento já mudou e vai continuar mudando sim, porque muda sempre, de pessoa para pessoa, de região para região, de tempos em tempos e até a mesma pessoa muda seu comportamento durante a vida. A isso se dá o nome de adaptação, é natural, novas situações exigem novos comportamentos, desde há milhares de anos. Segundo evolucionistas se o ambiente é estável há tempo para o cérebro se modificar morfologicamente, mas se é instável nós apenas nos adaptamos à situação, usando a mesma velha máquina para lidar com um novo mundo. Ou seja, numa situação estável, vamos mudando vagarosamente e morfologicamente, como qualquer organismo, numa situação nova, inédita e abrupta, nós apenas nos adaptamos. Exemplo: quem não comprava por internet, passou a comprar; quem não pedia comida por aplicativo passou a pedir.

Com a motivação, que é biológica, é necessário um tempo enorme, milhares de anos para haver modificação e por isso ela é estável no sentido de que não muda com as alterações ambientais. Caso isso não fosse verdade e regra, nós estaríamos perfeitamente adaptados à poluição que é parte do mundo moderno, o que não acontece e promove muitas doenças, estaríamos adaptados aos produtos químicos que ingerimos todos os dias via enlatados que não causaria prejuízos ao nosso organismo, junk food não nos atrairia, não comeríamos mais do que o necessário, alimentos gordurosos e açucarados não nos fariam mal algum.

Assim, chegamos à conclusão de que o comportamento, que é por nós externado, vai se adaptando às novas situações, mas a motivação, que é biológica e imutável, ou seja, a “razão” do corpo não se modifica, é a mesma há bilhões de anos, desde que surgiu o primeiro unicelular na terra. E os fatores que geram ambos, mesmo porque para haver comportamento deve haver motivação são dois apenas: sobrevivência e reprodução, como em todo reino animal. Qualquer célula tem essas funções básicas, um imperativo da vida.

Tanto a motivação quanto o comportamento são resultados de processos biológicos, pois a primeira é que gera a segunda e ambos têm os mesmos princípios e objetivos de manter o ser vivo e de fazer com que ele se reproduza para manter a espécie. Temos assim, ao mesmo tempo a “evolução do indivíduo” e a “evolução da espécie. O comportamento é estudado pelas ciências sociais, psicologia, antropologia, sociologia, mas é resultado de processos cerebrais, portanto biológicos. A motivação é estudada pela biologia pois somos motivados internamente e não externamente. Oque quero dizer é que não há motivação externa e sim provocação do ambiente, que, pode nos motivar ou não, tudo vai depender dos seus níveis de neurotransmissores, de hormônios, neuro hormônios, ondas cerebrais, isto é, processos físico-químicos. Nada mais, nada menos. Exemplo: não há como ter resiliência depois de se ler um livro ou ouvir uma palestra se o seu intestino e a microbiota que nele vive não estão bem. Nosso intestino produz 97% da serotonina que é um neurotransmissor que nos acalma, assim como GABA, que ajuda a inibir impulsos nervosos. Estudar resiliência não nos modifica, somente a alimentação correta pode fazer isso. Não compre livros, nem assista palestras de resiliência antes de comer adequadamente, pois não vai funcionar. Sem a química correta e níveis adequados de neurotransmissores em seu organismo você nunca se tornará resiliente!

Assim, certamente nossos comportamentos vão mudar pós pandemia e mudariam mesmo sem ela, pela pressão das mudanças tecnológicas, das mudanças sociais culturais e por aí vai, mas as motivações biológicas continuam as mesmas (sobreviver o reproduzir). Isso significa que o comportamento é difícil de ser analisado por ser mutável, gerando então uma busca incessante por previsões do que acontecerá. O comportamento futuro é incerto. Mas nossas motivações, que são, repito, biológicas, não se modificam há milhões de anos e não vão se alterar enquanto houver vida na terra.

Respondendo à pergunta inicial: Como será o comportamento do consumidor? E como ficam as marcas pós pandemia? “Ninguém sabe” é a resposta ideal, o que existem são especulações, pois não se pode garantir comportamentos futuros apenas tentar adivinhá-los. Agora, a motivação eu te digo – vai permanecer a mesma por mais alguns milhões de anos. E aí vem a minha pergunta para ti: Você que é um marketeer, você que é um líder, você que é um RH ou um vendedor ou dono de empresa quer ficar dependente de suposições, previsões ou quer ter a certeza?  Nossas motivações seguem padrões estabelecidos há milhões de anos e assim vão permanecer, porque é premissa básica do ser vivo se manter vivo e reproduzir, assim como fazem as células, os unicelulares e todos os seres vivos desse planeta.

Com base nessas premissas evolutivas, as marcas que forem heroínas nessa pandemia, ajudando à sobrevivência dos indivíduos e demonstrando preocupação com o bando e sua sobrevivência, vão prosperar, mas aquelas que só pensam na evolução pessoal (só vender sem se preocupar com os outros) vão se deteriorar. Como disse, a evolução da espécie é um imperativo e do individuo também. Marcas apoiadoras favorecem ambas, se demonstram preocupadas com as pessoas e com a perpetuação da espécie, marcas individualistas estão preocupadas somente com a sobrevivência individual, ou seja, a sua.

Biologicamente somos altruístas por egoísmo e vamos favorecer, dar preferência por aqueles que pensaram e agiram por nós um dia. As marcas individualistas egocêntricas serão expulsas dos bandos.

O comportamento do consumidor vai mudar sim pós pandemia, mas a motivação será a mesma enquanto formos seres vivos que têm os mesmos princípios biológicos.

As pessoas vão deixar de comprar "marcas"? Serão mais racionais? Serão mais conscientes e vão gastar menos? A resposta é NÃO, pois compramos marcas caras por crença, nosso cérebro é biologicamente crente, isso não muda. Outro ponto é que as marcas nos fazem serem percebidos como mais capazes, melhores, mais bem sucedidos, está diretamente ligado à reprodução e também à sobrevivência.