Medidas protecionistas devem atrasar recuperação do Brasil
A eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos vai trazer consequências para todo o mundo. No caso do Brasil, os impactos poderão atrasar ainda mais a recuperação daquela que se configura como a pior recessão econômica já vivida pelo País. A avaliação é do economista, diplomata e cientista social que dirige o BricLab da Universidade de Columbia, em Nova York, Marcos Troyjo, que teme as medidas de protecionismo de mercado anunciadas pelo candidato republicado durante a campanha.
“Minha principal indagação é se ele vai abandonar parte da retórica de campanha para assumir uma postura mais pragmática. Isso seria bom para os Estados Unidos, mas vai distanciá-lo dos eleitores que o elegeram. A outra opção seria atender as demandas de parcela de seu eleitorado, gerando reflexos globais. Acredito que ele ficará com a segunda opção e o mundo poderá pagar a conta”, avalia.
No caso específico do Brasil, Troyjo destaca que a saída para a recuperação da economia, por meio do comércio internacional, poderá cair por terra, caso o novo presidente americano realmente restrinja as relações comerciais daquele país. O especialista lembra que os números macroeconômicos brasileiros continuam ruins, com inflação alta, câmbio depreciado e desemprego ainda crescendo. E, apesar de as expectativas terem melhorado, o mercado interno ainda se encontra muito frágil e havia uma esperança do governo quanto ao mercado internacional.
“O mercado interno está muito debilitado. E, além de o real também ter perdido competitividade, a visão de Trump sobre a relação comercial dos países tende a frustrar ainda mais o governo, que pretendia impulsionar a recuperação brasileira a partir do comércio internacional. Com uma visão mais protecionista, o comércio exterior deixa de ter o protagonismo que teria nessa retoma”, explica.
Espaço para a China - Por outro lado, Troyjo ressalta que uma restrição maior do mercado norte-americano em relação às exportações levaria a uma tendência de aprofundamento das relações comerciais dos países com outras potências, como a China. “Eu diria mais: caso o Donald Trump realmente assuma uma posição de mais isolamento, os Estados Unidos entregarão a chave da economia mundial nas mãos do gigante asiático”.
Na última sexta-feira (18), a Câmara Americana do Comércio em Belo Horizonte (Amcham-BH) promoveu um debate com o tema “Brasil e a conjuntura internacional”. Na ocasião, a entidade recebeu empresários de diversos setores e Marcos Troyjo, que falou sobre como as atuais mudanças no cenário internacional refletirão na inserção e na competitividade das empresas brasileiras no comércio com o mundo, analisando as novas características do mercado global diante de eventos como a eleição americana e novos fenômenos como a “desglobalização”.
Em relação às expectativas dos empresários sobre o governo Trump, quase 80% dos entrevistados no evento avaliaram que seus negócios sofrerão algum impacto com a mudança de governo nos EUA, sendo que para 64,4% deles o impacto será negativo.
A pesquisa mostrou ainda que, considerando o atual cenário econômico, interno e externo, a maioria dos empresários mineiros acha que Minas Gerais está pouco competitivo em relação aos outros estados. O principal ponto negativo em termos de competitividade, para eles, é a defasagem em relação à infraestrutura mineira.