Memória : amnésia e anamnese
O que você lembra, como lembra e por que é memorável ?
Vivemos na cultura digital o descarte das lembranças, com prazo de validade, 24 horas no "stories". A enxurrada de dados e imagens da internet nos trouxe o desafio da curadoria de conteúdos. Como selecionar o que permanece, o que tem valor ?
Ser memorável é durar na fluidez e efervescência do tempo, mais do que resistir é saber orientar. A amnésia programada e compulsiva do esquecer é sedutora. O que você pode recordar e como permanecer atento ao muito, sem cair na exaustão ?
Borges falava em sua obra, Funes: o memorioso - da função mediadora do esquecimento.
Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair. No mundo abarrotado de Funes não havia senão detalhes quase imediatos "
O que não pode ser esquecido é fundamento, a raiz do sentido que está além de qualquer lista mnemônica das tarefas cotidianas. O que mesmo em estado silencioso da semente é perene ?
A primavera da memória não é uma coleção de lembranças ou um museu de grandes novidades, é uma teia de relacionamentos.
Um simples sussurro e pulsamos quem somos. A anamnese é portanto o exercício do sincero reconhecimento de nossas fórmulas do lembrar.
Você sabe reconhecer qual é a ontologia do seu memorar ?
O caminho da recordação podia ser outro, se você mudasse a vereda atravessaria outras compreensões ? Quando entramos num livro, num museu, numa palestra percorremos mais do que conteúdos, caminhamos num modo de lembrar.
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Você reconhece o seu ? O que é chão, o que é paisagem nos pressupostos que você elege para ordenar e hierarquizar a sua memória, o que você esqueceu de lembrar ?
Guimarães Rosa, o mestre das encruzilhadas já advertia :
Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir, toda hora a gente está num cômpito. Eu penso é assim, na paridade. Um sentir é do sentente, mas outro é do sentidor "
Quando lembramos voltamos aos nossos olhos d'agua, as fontes dos nossos entendimentos.
Convém ter vagar nesta busca, calma e paciência para que o que aflora seja nosso e não emprestado das ideologias presentes. A profundidade inicia com o silêncio, esta escuta interna deste "labor intus " que é o seu coração.
Políticas Públicas - Direitos Humanos - Cultura
2 aOlá Adriana, saberia indicar um autor que explora o tema da amnésia nos processos de anamnese clínica? Abraço.