A Meta está comprando filtros virais
"Este efeito será transferido para a Meta e não pode ser atualizado ou deletado. Se você gostaria de retirar seu consentimento, envie um e-mail..."

A Meta está comprando filtros virais

Após anunciar no final de Agosto que encerraria o uso de filtros no Instagram a partir de janeiro de 2025, a Meta começou a entrar em contato com os proprietários dos perfis onde os filtros estão publicados para comprá-los. Segundo os termos de uso da plataforma, os filtros já pertencem à Meta assim que são publicados, mas os assets dentro dos arquivos continuam sendo de propriedade dos criadores. Para adquirir os direitos autorais desses itens, a Meta está oferecendo um valor pré-definido.

Há um ponto crítico nessa decisão da big tech: a Meta está remunerando os proprietários das contas onde os filtros estão publicados, e não os verdadeiros criadores dos efeitos.

Meses atrás, a Meta retirou os créditos dos criadores que publicavam filtros em contas de terceiros, em razão de uma mudança no gerenciador de AR. Anteriormente, o gerenciador de AR permitia que cada criador publicasse seus filtros por meio de um grupo exclusivo. Com a mudança para o Meta Business Suite, os nomes dos criadores, o acesso aos filtros e aos insights foram perdidos. Agora, é necessário solicitar ao proprietário da conta para fazer uma nova permissão para ser possível de realizar atualizações ou obter insights dos filtros, mas o autor original continua sendo listado como "Desconhecido".

Assim, a Meta está comprando efeitos de pessoas (e, em alguns casos, empresas) que não possuem os direitos autorais sobre os assets contidos nesses filtros. Muitos criadores têm contratos com clientes, já que a venda do filtro envolvia apenas sua veiculação e uso, sem ceder os direitos autorais de criação.

Ainda não está claro qual critério a Meta está utilizando para comprar os efeitos, mas parece haver uma tendência em escolher os mais virais ou de interesse de figuras públicas, sendo em sua maioria filtros tecnicamente mais simples, como LUTs, maquiagem e deformação — sendo este último tópico que já foi discutido e até proibido na plataforma anteriormente. Os criadores que exploraram a plataforma de forma mais complexa, aprendendo sobre código, shaders e visual scripting para programar experiências mais elaboradas de AR, em geral, não estão recebendo essas propostas.

Muitos criadores de Meta Spark dependiam da venda desses efeitos como principal fonte de renda, mas o anúncio foi feito sem qualquer consideração ou suporte por parte da Meta. Mesmo utilizando uma tecnologia de terceiros, a própria empresa incentivava a criação de uma carreira como desenvolvedor de AR, oferecendo cursos gratuitos e pagos, certificações e até ferramentas para ajudar na venda e promoção dos filtros.

Embora o conhecimento adquirido possa ser aproveitado em outros softwares, o Meta Spark tem particularidades que não serão reaproveitadas. Horas de estudo, projetos e uma clientela consolidada serão perdidos. Muitos criadores agradecem à plataforma por "ter existido", mas há pouca indignação pública em relação aos prejuízos causados. Além disso, o fechamento da ferramenta e a compra de projetos de outras pessoas, sem posicionamento claro da Meta sobre os cinco anos de dedicação dos criadores, demonstra que, no final das contas, o criador nunca foi realmente relevante para a empresa.

O Social AR no Brasil tinha o Instagram como principal meio de distribuição, considerando que o Snapchat caiu em desuso e o TikTok tem um público muito diferente no país. A população perde, o avanço e a acessibilidade das tecnologias imersivas perdem. A popularização de uma ferramenta tecnológica se perde. E, para muitos assim como eu, o direito à expressão artística também.

Na minha visão, o tempo investido em estudar essa ferramenta, frente ao descaso demonstrado pelo anúncio repentino e o prazo de três meses para completa extinção, me faz sentir explorada. Será que estamos seguros com outros softwares? E se o Effect House fizer a mesma coisa? E se a Adobe fechasse as portas hoje? Absolutamente nada pode ser feito pelos criadores, designers e programadores, porque não temos direito algum sobre as ferramentas que usamos, e a lei está do lado das grandes empresas.


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Cloves Filho

AR Creator | Effect House Ambassador | Meta Certified AR Creator

3 m

Um assunto muito triste para toda a comunidade AR. Realmente é difícil lidar com as situações que vem acontecendo com os creators. O fim do MetaSpark simboliza, para mim, muito mais do que só o fim do software, mas um sentimento imenso de impotência e incerteza entre todo mundo que já se expressou através do Spark e todos da RA. Essa atitude foi a certeza de que o lucro está acima de absolutamente tudo, foi o fim de um software que movimentava um mercado multi milionário (senão bilionário) e tudo que recebemos foi um e-mail com layout padrão onde a mensagem oficial de encerramento não passou de 3 parágrafos. Foram dias e mais dias investidos em conhecimentos que dificilmente serão aproveitados em outras plataformas como o scene render pass, a programação reativa e entre outras tantas skills que serão jogadas diretamente no lixo. Ademais, o prejuízo que isso vai causar será imenso, existem muitos clientes que estavam planejando usar seus efeitos para campanhas e já contavam com impressos e outros itens atrelados ao link do efeito. E se já não fosse o bastante, a Meta teve a irresponsabilidade de fazer o que foi citado nesse artigo, comprando os assets dos clientes e não dos creators.

É muito triste ver tudo isso acontecendo. Já não basta todos saírem desapontados com o fim dos filtros no Instagram, agora temos que lidar com mais essa situação. É dificil confiar em se tornar creator de qualquer produto da Meta, e ser descartado e não valorizado novamente. 😔

Dayane Silva

Estrategista de Marketing | Marketing no Metaverso | Estratégia de Posicionamento | Digital Media | Social Media

3 m

Concordo completamente! Acredito que a meta está indo para um caminho com o Instagram onde eles mesmos vão matar a plataforma, e isso abrirá margens para outras redes sociais concorrentes como o tik tok, que está cada vez mais incentivado a nós criarmos conteúdos de diversas formas, até mesmo através de IA.

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