A metamorfose da indústria
Photo by: TONY DEJAK/AP

A metamorfose da indústria

Feliz ou infelizmente a indústria automotiva mudou. Agora virou indústria da mobilidade.

Caiu o raio gourmetizador na indústria que agora está inundada de propósitos transformadores massivos. Todo mundo buscando o título de “organização exponencial”.

Seja como for, o fato é que em um mundo onde havia, no máximo, 10 montadoras expressivas que faziam veículos movidos a motor para levar as pessoas de um ponto ao outro, hoje tem, pelo menos umas 30. É que somados a Ford, GM, FCA e Toyota tem também as chinesas, as coreanas, as vietnamitas, os fabricantes de autônomos, os patinetes e bicicletas. Todo mundo de olho no cara que precisa se locomover na cidade ou na estrada e não quer se submeter ao transporte público.

Pois muito bem. Fato é que ao mesmo tempo que tem espaço pra todo mundo, a população não cresce e atinge a maturidade para dirigir na mesma velocidade que as montadoras cospem carros das linhas. E muito menos ao preço que os carros saem das linhas. Por mais lean que uma fábrica seja, ter um carro (seja pessoa física ou jurídica) implica em custo. Custo que sobe constantemente – ao contrário dos salários necessários para acompanha-lo.

Tenho visto o dilema da GM com o fechamento de algumas fábricas. Tem o lado sentimental, das pessoas que dedicaram uma vida à montadora e agora estão sendo demitidas, e tem o lado racional: a companhia precisa sobreviver. Ou alguns são sacrificados pelo bem de muitos (e quando eu digo muitos são diretos, indiretos, fornecedores e Estado) ou vai todo mundo pro buraco. Não tem caminho do meio.

As pessoas precisam entender que nenhum CEO acorda numa bela manhã de sol e fala “ah, hoje eu acho que vou colocar algumas pessoas na rua e tocar o terror!” Demitir pessoas boas, pessoas que tem um passado e um futuro, que são arrimo de família não é fácil.

É um absurdo o governo dos EUA ameaçar retirar os incentivos fiscais da companhia em função das demissões. Quanto a GM paga de imposto? Quando deixaria de pagar se quebrasse? Qual é o tamanho da cadeia produtiva que a GM sustenta?

Enfim... não estou dizendo que a GM está quebrada ou que vai quebrar. Estou dizendo que não dá para tratar uma empresa, por maior que ela seja, como se ela fosse a mesma de 20 anos atrás. Não dá pra exigir os mesmos resultados, a mesma participação de mercado, o mesmo nível de geração de emprego. Existe a concorrência, a automação, os clientes. Clientes estes que barganham, com absoluta razão, centavos. E para ter um produto final a um preço competitivo, o custo tem que ser otimizado ao máximo. Ninguém mais engole carro pé duro por quase R$50.000,00! E, nessa toada, fechar fábricas improdutivas é inerente ao movimento de adaptação à demanda. Fechar fábricas, firmar parcerias, unir forças (vide FCA e PSA).

Em um dos meus primeiros artigos para o LinkedIn falei sobre a importância do branding na indústria. De transformar o que era só um carro em um estilo de vida. Uma montadora fecha uma fábrica hoje para abrir outras frentes de negócios amanhã. Não vai ajudar em nada o senhor de 50 anos que acabou de ser demitido da linha de montagem, mas pode ser a oportunidade de emprego da neta dele, que quer ser engenheira mecatrônica.

O casulo da borboleta se aperta quanto mais ela cresce. Ela sofre em sua gênese para romper com força seus limites e alçar o voo de liberdade. Ninguém escapa do ciclo da vida.

Nem os bichos, nem as empresas.


Acredito que o capitalismo como conhecemos não faz mais sentido. Mas como será o novo capitalismo? Quais serão os produtos e os empregos? Os governos ainda não estão preparados e as empresas também não. Estamos naquele período de grandes desafios e oportunidades gigantes.

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